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30 de ago. de 2019

O APOSTOLADO DA ASTROLOGIA


(Este post foi escrito principalmente para aqueles que, tendo estudado bastante o assunto, já são astrólogos praticantes ou aprendizes bem avançados.)

Raras vezes publico elogios feitos ao meu trabalho. Além de poder parecer (ou ser) vaidade, pouco ou nada costuma agregar de informação e conhecimento útil e utilizável.
Quem me conhece bem sabe que prefiro ser criticado a ser elogiado de modo ligeiro, embora eu seja bem difícil de mudar de opinião após tê-la construído por aprendizado ou reflexão – quer isto seja por teimosia, e que Deus me ajude a me corrigir, quer isto seja por convicção, e que Deus me ajude a prosseguir na defesa do que me parece bom e verdadeiro.
Este caso, todavia, oferece ensinamento.
A maioria dos astrólogos, até entre os que são brilhantes profissionais e competentes intérpretes ou analistas, leva anos a fio discutindo minuciosamente aspectos de cálculo, simbolismo e interpretação, só metodologia ou técnica prática e, não, aspectos epistemológicos da Astrologia, e isto a mantém restrita a círculos limitados de especialistas ou interessados, sem permitir maior extrapolação de seus conhecimentos para outras áreas de interesse científico”.
Quatro anos mais tarde, em Astrologia e Cristianismo em diálogo lembrei:
“Se 1% dos brasileiros que se declaram cristãos, sejam católicos, protestantes ou orientais ortodoxos, forem fervorosos e obedientes às questões de fé [que interditam a aproximação com a Astrologia], ao menos 1,6 milhão de pessoas estarão inclinadas a ficar distantes da Astrologia e de toda a riqueza de conhecimentos que ela pode oferecer a quem a busca com mansidão e interesse ativo em melhorar-se, mais do que com volúpia de poder pelo conhecimento”.
No mês passado, voltei ao mote em Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé, referindo-me à citação acima:
“Quantas pessoas eu conseguiria esclarecer, então, caso pudessem compreender que a Astrologia não é adivinhação nem forma alguma de pactuação com forças ocultas ou ‘espíritos não bons’, como uma vez escreveu S. Agostinho ao referir-se a ela!”.
Na Astrológica 2019 disse que, a meu juízo, a publicação de um livro favorável à Astrologia por uma editora de natureza genuinamente cristã era a importante trinca de um paradigma.
Poucos meses atrás, em maio recebi um gentil e-mail de um homem querendo estreitar proximidade e dizendo-se teólogo, professor de Filosofia na rede pública, Especialista em Direitos da Criança e do Adolescente e Mestre em Ciências da Religião, atuante na Zona Leste da Grande São Paulo, a quem solicitei autorização para publicar o conteúdo que vai aqui, neste post.
Por uma série de fatores não pudemos até agora nos conhecer pessoalmente, mas por meio do WhatsApp e de e-mails viemos aqui ou ali estreitando conhecimento mútuo e trocando ideias. Hoje, eu e Sandro somos bons amigos virtuais.
E por que ele me procurara?
Ao que me relatou, vira em uma feira de livros na Usp um exemplar do Astrologia e Cristianismo em diálogo, sentira-se atraído pelo título e o adquirira. Logo depois, vasculhando a Internet, encontrara uma entrevista que dei ao diretor da Escola Santista de Astrologia, George Jorge, em seu programa “Estrelando”. A seguir, conseguira meu e-mail de contato no Clube de Autores, onde tenho livros publicados.


Sendo teólogo e pastor de uma pequena comunidade protestante na cidade de São Paulo, de perfil metodista e pentecostalista clássico, sempre se mantivera distante da Astrologia, a qual pudera passar a ver com mais simpatia e interesse a partir de meu livro. Nos últimos tempos, então, assim que publico um novo texto eu envio a ele o link, para seu conhecimento e apreciação.
Duas manhãs após a publicação, recebi uma amiga mensagem em áudio pelo WhatsApp, a qual disponibilizo para conhecimento aqui. Peço que ouçam (são 8 minutos), por ser um valioso testemunho da intensidade afetiva e da qualidade do interesse intelectual que a Astrologia pode suscitar junto a quem faz uma busca verdadeira, mas que até então não a conhecia bem, e chamo a atenção para o que ele diz, menos sobre o meu trabalho e mais sobre a Astrologia, especialmente na segunda metade do seu depoimento.
Fui tomado de grande emoção, quer pelo teor da mensagem, quer ao pensar que, doravante, este poderá ser cada vez mais um importante papel de todos e todas que se dedicam a estudar, praticar ou ensinar a boa Astrologia: disseminar, para fora dos círculos de especialistas astrológicos e em proximidade estreita com variados campos de conhecimento científico, seja nas Ciências da Natureza, seja nas Ciências Sociais, a importância e a competência da Astrologia como recurso de percepção e descrição da existência, para uma melhor compreensão.
Imagine meu contentamento ao saber que um pastor protestante passou a julgar que não há dúvida de que isto, um dia, virá a ser enxergado como ciência de verdade, como algo imprescindível para o conhecimento humano e que esta transversalidade da linguagem astrológica a que você refere, ela vai ser muitíssimo conhecida um dia, razão pela qual o que eu apresento no que escrevo tem de ser espalhado pelo globo Terra, como ele mesmo expressou, razão também porque já está difundindo o que tem lido nos meus textos junto a seus alunos de Filosofia e ao povo que ele, por amor, pastoreia: me sinto na obrigação de perpetuar, de passar adiante este seu conhecimento, que é o que tenho feito aqui ou acolá!
Segundo ele, sou um apóstolo da Astrologia.
Por isso, ao final de sua mensagem, referindo-se ao que propus ao encerrar aquele meu post, sobre a possibilidade de as Ciências virem a perceber a riqueza e nobreza da Astrologia, desde que queiram – “Mas como querer, ou até perceber que podem fazê-lo, enquanto se mantiverem distantes?’ – ele lembra S. Paulo (Romanos, 10: 14), claro que, lá, referindo-se ao Cristo de Deus e à mensagem cristã:
“Ora, como o invocariam sem terem crido nele? E como creriam nele, sem o terem ouvido? E como ouviriam, se ninguém o proclama?”.
Em meu modo de ver, este deve ser um fundamental papel dos bons astrólogos daqui em diante, e cada vez mais: além de bem praticar a Astrologia, com ética e competência, fazer por divulgar fora dos círculos astrológicos e junto a campos formalizados de conhecimento científico, em ato de apostolado – para aproveitar a boa expressão que foi utilizada – ou de paciente elucidação, o muito importante papel da Astrologia em benefício do conhecimento e da felicidade do ser humano.

27 de ago. de 2019

A NOBREZA DA ASTROLOGIA E SUA TRANSVERSALIDADE


No post anterior a este eu perguntei:
“Afinal, quando as Ciências se aproximarem da Astrologia, como é bom que isto ocorra, que modelo teórico de Astrologia será apresentado para conhecimento e avaliação?”
Uma vez mais indagaram-me por que motivo eu insisto tanto em aproximar a Astrologia das Ciências, quase como se julgasse ser necessário haver a aprovação delas para que reconhecesse a veracidade efetiva do conhecimento astrológico.
Não é isso. Como assumi em Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé:
“Nunca vivi um instante sequer de dúvida sobre a efetividade da Astrologia desde ter podido conhecê-la [em 1984], razão possível por que, quanto eu mais seguia fiel a seu lado, ela tenha sido tão generosa comigo, aos poucos entregando-me uns seus segredos”.
Nem poderia ser de outro jeito, já que, como a ela se referiu o pedagogo, filósofo e teólogo alemão Philip Melanchthon:
“Uma coisa é certa: a ciência da Astrologia é valiosa e verdadeira, é uma coroa da espécie humana e, toda a sua honrosa sabedoria, um testemunho de Deus”.


Melanchthon era o braço-direito de Martinho Lutero, havia sido o redator da Confissão de Augsburg em 1530 (um dos dois principais documentos oficiais da Reforma Protestante) e foi ferrenho defensor dos aspectos positivos da Carta Natal de Lutero, contra as interpretações negativas feitas pelos astrólogos papais durante os confrontos religiosos com a Reforma.
Para lembrar outra afirmação digna de grande destaque, cerca de 300 anos antes o bispo dominicano S. Alberto Magno escrevera em Speculum Astronomiæ, obra por ele elaborada em 1260 a pedido do Papa Alexandre IV:
“Nenhuma ciência humana alcança esta ordenação do universo [tão] perfeitamente como a ciência dos julgamentos das estrelas o consegue”.
S. Alberto Magno, que foi professor de S. Tomás de Aquino na Universidade de Paris, na época o mais importante centro europeu de Teologia, é considerado um dos mais completos e competentes pensadores cristãos do século 13.


Também, segundo ele, como registrei em Astrologia e Cristianismo em diálogo:
“As indicações celestes nada mais são senão a divina providência”.
Em decorrência, havendo aproximação entre as Ciências e a Astrologia, parece-me que as Ciências é que mais ganharão com isto, por espantoso que possa parecer, ao dizer assim hoje em dia.
Mas este ganho em conhecimento não ocorrerá se não houver a aproximação – e, daí, a minha intenção de favorecê-la.
Ludwig von Bertalanffy foi um biólogo austríaco que em meados do século 20 revolucionou os modelos científicos de compreensão da existência ao propor uma teoria geral dos sistemas. Ele julgava que uma teoria como esta ofereceria um conjunto de conceitos que, por ser integrado, poderia unificar as várias disciplinas científicas que, a partir do século 17, foram ficando cada vez mais isoladas e fragmentadas.
Assim sendo, suas contribuições foram além da Biologia e se estenderam a Administração, Cibernética, Filosofia, História, Psicologia, Psiquiatria e Sociologia.


De acordo com o que ele demonstrou em Teoria Geral dos Sistemas, sua teoria poderia ser tida como uma “ciência geral da totalidade”:
“O paralelismo de concepções gerais ou, até mesmo, de leis especiais em diferentes campos é uma consequência do fato de que estas se referem a ‘sistemas’ e de que determinados princípios gerais se aplicam aos sistemas, independentemente de sua natureza” [isto é, da natureza dos sistemas].
Como a ele se referiu Thaddus Weckowicz, Professor Emérito de Psiquiatria e Psicologia da Universidade de Alberta, no Canadá, que trabalhou com Bertalanffy na década de 1960:
“Existem dois tipos de pensadores, estudiosos e cientistas. Os primeiros são os pioneiros que propõem novas idéias revolucionárias, apontam novos rumos para desenvolvimentos científicos e intelectuais, criam novos paradigmas da ciência e da erudição, mas deixam os detalhes para os outros. Os segundos são aqueles que seguem o novo rastro, realizam cuidadosa experimentação e pesquisa dentro do paradigma estabelecido, e elaboram as formulações precisas de teorias em um domínio particular de conhecimento. Ludwig von Bertalanffy, que era tanto um cientista quanto um estudioso, representava o primeiro tipo: ele era um pioneiro.
[...] Eventos físicos, mentais e sociais podem parecer intrinsecamente distintos, mas são organizados em sistemas, que são governados pelo mesmo conjunto de leis sistêmicas. A unidade dos sistemas é a base da unidade da natureza, apesar da variedade caleidoscópica das aparências externas.
[...] Ele criticava o culto ‘cartesiano’ do pensamento analítico que prevalecia na ciência e na filosofia modernas. Ele sugeriu que [o modelo cartesiano] deveria ser substituído pela noção de sistemas holísticos. Em alguns aspectos, ele se retirou do paradigma cartesiano-galileu da ciência, que se tornou predominante a partir do século XVII, e retomou o paradigma neoplatônico do século XVI”.
Mais propriamente, porém, aquilo que o neoplatônico Nicolau de Cusa (1401-1464) pensara, para quem “tudo está dentro de um outro tudo”, feito “sistemas dentro de sistemas”.


No tempo de S. Alberto Magno (século 13) e do Cardeal Nicolau de Cusa (século 16) Astronomia e Astrologia ainda andavam juntas, sendo vistas como diferentes facetas de um mesmo maravilhoso conjunto de conhecimentos.
Por esta razão S. Alberto Magno escreveu na abertura de Speculum Astronomiæ:
“Há duas grandes sabedorias e ambas são definidas pelo nome astronomia [...] A segunda grande sabedoria, também chamada astronomia, é a ciência do julgamento das estrelas, que estabelece a relação entre filosofia natural e metafísica”.


Além disso, naquele período distante, o que hoje se denomina “conhecimento científico” era chamado de “Filosofia Natural” (ou da Natureza). Para aquela forma de ver, portanto, como ocorria na Europa (e nos países de cultura árabe), se “a ciência do julgamento das estrelas estabelecia a relação entre filosofia natural e a metafísica”, era normal e desejado que a Astrologia estivesse presente e ativa em todos os mais importantes centros desenvolvedores de conhecimento, já que de algum modo se relacionava a todas as coisas humanas e não-humanas.
Por isso era assunto de nobres, reis, papas e sábios.



Quanto à causação das coisas e suas mudanças no âmbito terrestre, no livro Meteorologica (Os corpos celestes) Aristóteles explicara assim:
“Este mundo [o sublunar, ou terrestre] tem necessariamente uma certa continuidade com os movimentos superiores. Consequentemente, todo seu poder e ordem provêm deles. Pois o princípio originador de todo movimento é a causa primeira. Além disso, esse corpo é eterno e seu movimento não tem limite no espaço, mas é sempre completo, enquanto todos os outros corpos possuem regiões separadas que limitam uma à outra. Assim, devemos tratar fogo e terra e os elementos semelhantes a eles [ar e água] como as causas materiais dos acontecimentos neste mundo (significando o material que é sujeito e é afetado), mas devemos assinalar causalidade, no sentido de princípio originador do movimento, à influência dos corpos que se movem eternamente” [que são os Planetas, compostos pelos Elementos Fogo, Terra, Ar e Água, que, por sua vez, eram originados do Éter].
É necessário realçar que, quando Aristóteles falava em “princípio originador do movimento”, e foi na filosofia aristotélica que Ptolomeu embasou sua visão sobre a Astrologia, ele não estava se referindo à ideia de deslocamento de algo pelo espaço (daqui para ali), como se poderia entender, mas, mais significativo, estava aludindo à passagem de potência (possibilidade de existir) a fato (existência expressa) e, por isso, atribuía aos corpos celestes o papel de causa efetiva dos acontecimentos terrestres: “devemos assinalar causalidade, no sentido de princípio originador do movimento, à influência dos corpos que se movem eternamente” (que são os Planetas).


E como os Elementos Fogo, Terra, Ar e Água não eram propriedades físico-químicas e, sim, fatores metafísicos, já que, após terem emanado do Éter, estavam presentes em tudo, fosse coisa, evento ou pessoa, entende-se que S. Alberto Magno viesse a afirmar que “a ciência do julgamento das estrelas estabelece a relação entre filosofia natural e metafísica”, isto é, entre o que ocorresse no âmbito terrestre (e era objeto de filosofia) e a fonte imaterial da ocorrência de tudo (o efeito dos Planetas).
Tudo! Neste sentido oniabrangente, basta ver como Ramón Lull, um dos mais expressivos pensadores catalães da Baixa Idade Média – com uma vasta obra que repercutiu em Giovanni Pico della Mirandola, Cornelius Agrippa von Nettesheim, Giordano Bruno, John Dee (astrólogo que era o Conselheiro da Rainha Elizabeth I, na Inglaterra) e até Gottfried Wilhelm Leibniz, polímata e filósofo alemão que viria a ser figura proeminente na história mundial da Matemática (concebeu o cálculo diferencial) e da Filosofia –, se referiu em 1267 à Astrologia em O novo tratado de Astronomia:
“[…] coisas que pertencem ao julgamento da astronomia, como a saúde, a enfermidade, a vida, a morte, a alegria, a ira, a riqueza, a pobreza, a abundância, o repouso, o trabalho, o empreendimento de uma viagem, o matrimônio, a procura de uma casa, o vento, a chuva, o gelo, o latrocínio, a guerra, a paz, o lucro, a perda, a vitória, a derrota, ir a uma terra e não a outra, buscar uma determinada coisa de um homem e não outro, ou em um tempo e não em outro, banhar-se, fazer uma sangria, tomar um remédio, empregar-se em um ofício e não em outro, ou em um ofício mais do que em outro, pedir ou não pedir o conselho, a segurança, o perigo, dar, falar, silenciar, ir, ficar, aprender e ensinar; e assim com as demais coisas que dizem respeito ao acaso e ao favorecimento, ou ao desfavorecimento”.


Como se vê, na prática a Astrologia era exercida, tal qual viria a ser expressado no século 20 por von Bertalanffy, como “uma ciência geral da totalidade”.
A interpretação competente dos símbolos astrológicos podia orientar tudo: caça e pesca, coleta, agricultura e pecuária, artesania têxtil, de metais ou de madeira, o comércio, a engenharia e arquitetura da época, as relações humanas, as atividades do dia a dia, o manejo do poder e as artes da guerra e da saúde: em 1405, os estudantes de Medicina na Universidade italiana de Bolonha, a mais antiga universidade do mundo, tinham de fazer um curso de quatro anos sobre Astrologia.


Desde o início a Astrologia era verdadeiramente transversal, na medida em que os diagnósticos e os prognósticos que ela elaborava serviam para todas as áreas da existência, e desta transversalidade, que parecia quase propiciadora de onisciência, brotava a sua imagem de rara nobreza, com apoio em seus símbolos polissêmicos.
Só não se sabia exatamente como ela funcionava e, por isso, sua funcionalidade era atribuída a fatores metafísicos de caráter divino, já que algo parecia operar, além das causas materiais ou objetivas percebidas, mas nada se conhecia deste “algo”.
O conhecimento humano teve de avançar muito para chegar na concepção de arquétipos ou campos morfogênicos como fatores imateriais e intemporais naturais de cocausação (por um longo período tidos como metafísicos), já que foi aos efeitos deles que a Astrologia desde o começo parece ter se referido de modo padronizado.


Pois, se estou correto no que penso, o saber astrológico é o resultado acumulado de milênios a fio de observação, registro e associação de peculiares jeitos de ser das coisas, dos acontecimentos e das pessoas, a típicos padrões zodiacais, já que os padrões zodiacais eram matematicamente calculáveis e os efeitos associados a eles eram probabilisticamente previsíveis em qualquer período de tempo desejado e todo objeto de análise (fosse coisa, evento ou pessoa), para conferência posterior sobre se haviam ocorrido ou não os efeitos esperados quando da ocorrência dos padrões zodiacais e ajuste fino das relações de coincidência significativa verificada, para maior apuro na detecção.
Por isso, embora a tendência interpretativa da Astrologia Ocidental no século 20 venha sendo crescentemente determinada pelos conhecimentos e explicações das Ciências da Consciência e do Comportamento, referindo-se mais e mais, portanto, aos fatos da mente humana (individual e coletiva), a Astrologia continua a poder ser inteiramente transversal, aplicando-se de modo competente em múltiplos outros campos de conhecimento, seja nas Ciências da Natureza, seja nas Ciências Sociais.


“Eventos físicos, mentais e sociais podem parecer intrinsecamente distintos, mas são organizados em sistemas, que são governados pelo mesmo conjunto de leis sistêmicas”, explicou Weckowicz, como vimos no início.
Se admitirmos que as ocorrências da existência manifesta são em grande medida consequências do efeito cocausal de arquétipos, ou campos morfogênicos, atuando sobre as condições enérgico-materiais das coisas, dos acontecimentos e das pessoas no continuum tempo-espaço, e que a Astrologia Arquetípica propicia a identificação dos efeitos específicos dos arquétipos sobre qualquer tipo de fenômeno – embora não dos próprios arquétipos, em si, já que eles não são perceptíveis por método algum conhecido –, a Astrologia é um ferramental deveras precioso para uma percepção mais apurada da dinâmica das coisas na existência.
Em associação livre ao conceito de von Bertalanffy, penso que os arquétipos são “os princípios gerais [que] se aplicam a sistemas, independentemente de sua natureza” (embora cada arquétipo, ou conjunto articulado de arquétipos, se faça sentir conforme à natureza específica do sistema).
Por tal razão, se é possível identificar quais poderão ser os efeitos probabilísticos de cada um destes princípios gerais, ou arquétipos, segundo o que denotam os símbolos astrológicos ou arranjos simbólicos a eles associados (conforme o tipo de objeto sob análise), é possível diagnosticar quais ocorrências enérgico-materiais poderão se dar em coisa, evento ou pessoa, e quando, e onde.
Então, se vimos que, no dizer de S. Alberto Magno, “nenhuma ciência humana alcança esta ordenação do universo [tão] perfeitamente como a ciência dos julgamentos das estrelas o consegue” – e em meu entender é a todas as coisas de alguma forma ordenadas que S. Alberto diz que a Astrologia se refere e, por isso, ele afirma “universo” –, é nesta imensa riqueza de possibilidades de detecção e compreensão por meio da Astrologia Arquetípica que eu penso que as Ciências, todas elas, podem se abeberar, desde que queiram.
Mas como querer, ou até perceber que podem fazê-lo, enquanto se mantiverem distantes?





23 de ago. de 2019

A PRESSÃO ARQUETÍPICA DENOTADA PELA ASTROLOGIA

Uma no cravo e, outra, na ferradura.
Depois de ter publicado meu último post, A demarcação científica da Astrologia, em que me debrucei principalmente sobre a necessidade de haver comprovação empírica das afirmações diagnósticas e prognósticas que a Astrologia emite, para que as Ciências possam um dia verdadeiramente interessar-se por ela, pus-me a pensar na teoria, já que uma coisa é comprovar que a Astrologia funciona e, outra, é hipotetizar sobre como ela funciona.
Afinal, quando as Ciências se aproximarem da Astrologia, como é bom que isto ocorra, que modelo teórico de Astrologia será apresentado para conhecimento e avaliação?
Rememorei o astrólogo e professor de Astrologia Ivan Freitas apresentando na Astrológica 2019 uma semelhança simbólica verificada entre as Cartas astrológicas referentes a 1934 e 2016, analisadas pela Astrologia Mundial.



Como ele ali apresentou en passant, 1934 foi o ano em que Adolf Hitler assumiu de vez o poder na Alemanha, como Chanceler e Presidente, implantando para valer o nazismo, e em 2016 começaram a surgir das sombras grupos neonazistas alemães, em um tipo de dinamismo social que vem se desdobrando em vários países do mundo na quadra que ainda atravessamos. Em ambos os períodos, 1934 e 2016, registravam-se Quadraturas entre os Planetas exteriores Urano e Plutão.
(Aliás, para cogitar a respeito do fundo da mente coletiva brasileira, a Carta Natal do Brasil exibe uma Quadratura entre Urano e Plutão e, em junho de 2013, início do que passamos a viver, ambos os planetas estavam em exatíssimos 90º um do outro.)



Lembrei também de Nicholas Campion, ex-Presidente da Associação Britânica de Astrologia e Diretor do Sophia Centre para o Estudo da Cosmologia na Cultura, na University of Wales Trinity Saint David, na Inglaterra, tido como um dos maiores especialistas internacionais em Astrologia Mundial (ou Mundana).


Em uma entrevista à revista norte-americana The Mountain Astrologer, em maio de 2013 ele declarou:
A moderna Astrologia Mundial é, em grande parte, uma prática sem teoria. No entanto, uma prática sem teoria não tem como entender ou melhorar a si mesma. Tampouco há muito método sistemático na Astrologia Mundial contemporânea. Para estabelecer ambos [teoria e método], é preciso referir-se às autoridades do passado na disciplina”.
Esta rememoração me levou a revisitar a obra Cosmos and psyche, de Richard Tarnas, um dos mais expressivos estudos sobre Astrologia Mundial que conheço – eu, que bem pouco entendo de Astrologia Mundial.


Para quem queira conhecer Astrologia Mundial e Astrologia Arquetípica, esta obra parece-me fundamental por várias razões.
Primeiro, pelo perfil pessoal de Tarnas, que é psicólogo, historiador cultural e fundador e diretor do curso de Filosofia, Cosmologia e Consciência do California Institute of Integral Studies, em São Francisco.


Segundo, pelo tipo de formação que teve: não sendo astrólogo, e tendo vivido e trabalhado por uma década no Esalem Institute, na Califórnia, um dos núcleos acadêmicos mais instigantes da história ocidental contemporânea, Tarnas pôde conviver de perto com gigantes intelectuais como Abraham Maslow, Gregory Bateson, James Hilmann, Joseph Campbell e Stanislav Grof.
Terceiro, porque nesta obra, premiada internacionalmente, ele apresenta mais de 400 páginas repletas por uma centena de importantes eventos sociopolíticos, macroeconômicos, culturais e científicos ocorridos nos últimos séculos, analisando-os sob o que a ele parece ser a marca arquetípica de Conjunções, Quadraturas e Oposições havidas entre os Planetas transpessoais (Urano, Netuno e Plutão) e entre eles e Saturno, no tempo exato em que tais eventos ocorriam.


É levantamento de fôlego, inteiramente amparado em registro e análise histórica de eventos massivos ocorridos em variadas regiões do mundo: revoluções políticas, movimentos abolicionistas, feministas e ou libertários de costumes, fundamentais inovações científicas e ou tecnológicas, brotamento de novos e expressivos paradigmas artísticos, literários e musicais, etc.


Tarnas, em decorrência das pesquisas elaboradas, em 2006 denominou o que estudara de “Astrologia Arquetípica” (Archetypal Astrology), de modo semelhante ao que eu viria a apresentar em Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé.
Todavia, em meu entender – e esta é crucial diferença entre nossas formas de compreensão –, ele incorre em um viés neoplatônico que o leva a supor haver uma “intenção cósmica” na justaposição temporal e espacial entre eventos zodiacais e pressões arquetípicas, como se um “grande espírito sideral” engendrasse as distintas fases evolutivas da existência, em obediência a um pressuposto plano geral de desenvolvimento cósmico que tem a Terra por ponto focal.


Como penso, esta justaposição espácio-temporal observada não é metafísica e nem é, com propriedade, apenas ocorrência de sincronicidade, embora possa ter parecido ser assim.
Quero demonstrar que aquilo que somente parece ser, assim parece devido às magníficas associações estabelecidas pela mente humana no decorrer de milênios de continuada observação do que é um conjunto de significantes, as ocorrências zodiacais, que foram matematicamente estabelecidos e simbolicamente denotam o que, onde e quando, tem alta probabilidade de ocorrer por pressão arquetípica.
Para isso, terei de apresentar trechos de Cosmos and Psique, traduzidos de modo livre para este post, já que ainda não há versão em português.
Tendo base no que conhecia de Psicologia dos arquétipos, Tarnas relatou:
“Em essência, a astrologia [como ele foi descobrindo ao longo das pesquisas] parecia oferecer um tipo singularmente útil de compreensão da atividade dinâmica dos arquétipos na experiência humana, pois indicava quais eram os mais operacionais em um caso específico, em que tipo de combinações, em que períodos de tempo e decorrendo de que configurações [ou Aspectos planetários] principais. Com tal perspectiva, esse desenvolvimento emergente da tradição astrológica pode essencialmente ser considerado como sendo uma continuação aprofundada do projeto da psicologia profunda, a saber, tornar o inconsciente consciente.


 [...] Juntamente com muitos colegas e estudantes, continuei esta pesquisa com firmeza por três décadas. O que eu achei excedeu minhas expectativas. Parte disso é e continuará sendo um mistério, mas depois da investigação e da avaliação crítica mais rigorosa de que sou capaz, cheguei à convicção de que há uma correspondência extremamente significativa – e oniabrangente – entre movimentos planetários e assuntos humanos, e que a suposição moderna na direção oposta estava errada.
[...] Comprovei que a perspectiva astrológica arquetípica, bem entendida, tem uma capacidade única para esclarecer a dinâmica tanto da história cultural, quanto da biografia pessoal. Proporciona uma extraordinária penetração nos padrões mutáveis e mais profundos da psique individual e coletiva, assim como na complexa natureza participativa da realidade humana.
[...] A evidência não sugere que os planetas sejam eles mesmos causas de vários eventos ou traços de caráter, mas, sim, que existe uma correspondência empírica coerentemente significativa entre os dois conjuntos de fenômenos, o astronômico [eu diria zodiacal] e o humano, e que o mais frutífero é abordar o princípio da conexão entre eles como uma certa forma de sincronicidade através de arquétipos”.
Sendo psicólogo e ao mesmo tempo cientista social (historiador cultural), Tarnas optou por delimitar o campo de estudo por meio de eventos de grande amplitude sociopolítica, econômica, tecnológica e ou cultural, fartamente documentados, nos quais se verificou o tipo de perfil comportamental coletivo que se esperaria do “efeito” dos Planetas exteriores sobre o comportamento humano, se tomado pessoa a pessoa (que é mais difícil de detectar e registrar com precisão e fidelidade).
Ele explanou:
“Os significados arquetípicos [atribuídos aos] três planetas exteriores parecem derivar principalmente de correlações observadas no estudo de mapas natais individuais e trânsitos pessoais, bem como nos fenômenos históricos das épocas em que esses planetas foram descobertos. Quando apliquei esses significados a esta categoria completamente distinta de fenômenos – a análise de períodos da história em que os planetas exteriores formaram alinhamentos no céu e nos quais, em teoria, os arquétipos correspondentes atingiram sua máxima ativação na psique coletiva – as conexões empíricas que encontrei me impressionaram muito. Esses amplos alinhamentos dos planetas exteriores pareciam coincidir de maneira sistemática com prolongados períodos históricos em que um particular complexo arquetípico era claramente hegemônico na psique coletiva e definia, por assim dizer, o Zeitgeist [ou espírito do tempo] daquele momento cultural. O complexo arquetípico predominante [nestes casos] sempre era claramente composto dos princípios associados aos planetas alinhados, como se esses arquétipos interagissem, se fundissem e se influenciassem mutuamente”.
Quanto às dinâmicas arquetípicas associáveis aos Planetas estudados por ele, Tarnas detalhou:
“Vamos resumidamente recapitular a natureza dos princípios arquetípicos associados. O planeta Urano parece se correlacionar a eventos e fenômenos biográficos que sugerem um princípio arquetípico de caráter essencialmente promissor [e prometeico]: emancipatório, rebelde, progressivo, inovador, incitante, perturbador e desestabilizador, imprevisível, útil para catalisar novos começos e mudanças, de modo súbito ou inesperado.


[...] O planeta Plutão, ao contrário, está associado a um princípio arquetípico de caráter dionisíaco: elementar, instintivo, poderoso, urgente, extremo em intensidade, surgindo das profundezas, a um tempo só libidinal e destrutivo, avassalador e transformador [...] No nível coletivo, o princípio arquetípico associado a Plutão é considerado uma dimensão prodigiosa e titânica, que transmite poder, intensidade e urgência a tudo o que afeta em escala maciça.


[Na pesquisa] enquanto os períodos [...] Urano-Plutão sistematicamente coincidem com amplos levantes revolucionários, impulsos renovados para a emancipação e inovação cultural radical, os sucessivos alinhamentos [...] dos ciclos Saturno-Plutão coincidem com períodos históricos [mais breves, mas] particularmente desafiadores, marcados por uma atmosfera de grande contração: tempos de crise e conflito internacional, de empoderamento das forças reacionárias e dos impulsos totalitários, de violência organizada e opressão, tudo às vezes marcado por persistentes efeitos traumáticos. Estes períodos [...] tendem a ser seguidos por uma atmosfera de gravidade e um sentido prolongado de fim de época: ‘o fim de uma era’, ‘o fim da inocência’, ‘a destruição de um modo de vida anterior’ que, olhando para trás, poderia ser caracterizado por grande complacência, decadência, ingenuidade e vaidade. Como no ciclo Urano-Plutão, a questão predominante é a transformação profunda, mas, neste caso, por meio de contração, crise e reação conservadora.


[...] Devo esclarecer que os períodos coincidentes com esses alinhamentos [ele fala de Conjunções, Quadraturas e Oposições] não marcaram anos em que os eventos históricos e as tendências culturais que os caracterizavam subitamente apareceram e desapareceram, como se fossem acionados por um interruptor elétrico. Em vez disso, os períodos em questão pareciam representar momentos em que tendências continuadas, e algumas vezes de longo prazo de desenvolvimento, atingiam o ponto de ebulição, por assim dizer, ou seja, um ponto em que certo estímulo ou realização desencadeia fenômenos culturais destacados, fazendo com que essas tendências emerjam na consciência coletiva de forma explícita e espetacular. A partir desse ponto decisivo [...], ou clímax, essas tendências culturais continuam a se desdobrar de maneiras diferentes nos anos e décadas seguintes, após o alinhamento [dos planetas] ter transcorrido”.


Na explicação desta dinâmica geral verificada no tempo, Tarnas mencionou o Livro X de Leis, de Platão. Neste texto, o filósofo grego afirmara:
“No que diz respeito a todos os astros e a Lua, e no que tange aos anos, meses e todas as estações, o que nos caberia fazer senão essa mesma afirmativa, a saber, que já que ficou demonstrado que são todos eles [os Planetas] movidos por uma ou mais almas, que são dotadas de todas as virtudes, declararemos que essas almas são deuses, seja porque, alojadas nos corpos [celestes], como seres vivos que são, organizam todo o céu, seja porque atuam de qualquer outra forma que se o queira. Será possível encontrar alguém que admita essa causalidade e, todavia, negue que tudo está repleto de deuses?”


Então, de certa forma ecoando este tipo de entendimento, no encerramento de sua obra Tarnas concluiu:
“Os dados que temos hoje sugerem que o que Platão chamou de ‘ordem mundial’ é um tipo especial de ordem. Os indícios apontam um princípio de ordenação cósmica cuja combinação de cocriatividade participativa, complexidade versátil e indeterminação dinâmica não era compreensível totalmente para a visão antiga, nem mesmo para uma visão tão complexa e penetrante quanto a de Platão.
[...] As evidências indicam que o cosmos é intrinsecamente significativo para a consciência humana e coerente com ela; que a Terra é um importante ponto focal deste significado, um centro móvel de significado cósmico em um mundo em evolução, dando-se o mesmo com cada ser humano; que o tempo não é apenas quantitativo, mas também qualitativo, de modo que diferentes períodos de tempo são marcados por dinâmicas arquetípicas que são perceptivelmente diferentes; e, finalmente, que o cosmos, como uma totalidade viva, parece ser moldado por algum tipo de inteligência criativa e onipresente, uma inteligência de poder, complexidade e sutileza estética mal concebível, mas que está intimamente conectada com a inteligência humana e da qual podemos participar conscientemente”.
Este é o ponto, a meu ver, em que o estupendo estudo de Tarnas fica manco: a exata causa das coincidências temporais verificadas entre arranjos planetários e o que se supõe ser pressão de arquétipos sobre a existência. Segundo ele, e por isto diz que “é e continuará sendo um mistério”, isto se dá pela obediência aos desígnios de uma “inteligência criativa e onipresente” cósmica (vale dizer: Deus) que, etapa a etapa, vai “moldando” o que ocorre no cosmo.
Não estou argumentando que não haja algo como esta “inteligência criativa e onipresente” universal, já que não se pode provar sua existência ou inexistência: é questão de crença e fé. Mas, no que tange à Astrologia, é explicação metafísica das causas, o que nada avança sobre o que se crê desde o primeiro dos sumérios.
No meu entendimento, dá-se diferente. Vendo este assunto pelas hipóteses dos arquétipos, de Carl Jung, e dos campos morfogênicos, de Rupert Sheldrake, como detalhei em Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé, o que se verifica não é misterioso em nada e não requer hipótese teísta alguma (mesmo que disfarçada em “inteligência criativa e onipresente”), independente da crença pessoal que se tenha.
Formas de expressão mental e ou enérgico-material já existidas deram origem a campos morfogênicos, ou arquétipos, que passaram a existir em uma ordem fora do espaço-tempo e, a partir de lá, a cocausar no tempo e no espaço expressões similares às originárias, nos períodos posteriores à sua formação inicial e em âmbito individual ou coletivo, bem como ambiental (seja em coisa, evento ou pessoa).
Sobre tudo isso, informando que nos trechos a seguir os itálicos e colchetes em citações são meus, como também os apliquei antes, cito o Nobel Wolfgang Pauli, físico quântico que trabalhou com Jung sobre o conceito de arquétipos.


Pauli disse:
“Os fatores de ordenação devem ser considerados além da distinção de ‘físico’ e ‘psíquico’ [...] Sou muito a favor de chamar esses arquétipos de ‘fatores ordenadores’, mas seria inadmissível defini-los como conteúdos [exclusivos] da psique. Em vez disso, as imagens internas são manifestações psíquicas dos arquétipos, que, no entanto, também teriam que criar, produzir, causar tudo no mundo material que acontece de acordo com as leis da natureza. As leis do mundo material se refeririam, portanto, às manifestações físicas dos arquétipos”.
Jung declarou:
A característica peculiar do arquétipo é que ele se manifesta não apenas psíquico-subjetivamente, mas também físico-objetivamente; em outras palavras, é possível que venha a ser provado ser uma ocorrência interna psíquica e também externa física”.


Já, quanto aos campos morfogênicos, Rupert Sheldrake teorizou:
[A hipótese] “propõe que campos morfogênicos específicos são responsáveis pela forma característica e pela organização de sistemas em todos os níveis de complexidade [...] Estes campos ordenam os sistemas aos quais eles se associam, afetando eventos que, de um ponto de vista enérgico, parecem indeterminados ou probabilísticos; eles [os campos] restritivamente impõem padrões nas possibilidades de manifestação enérgica dos processos físicos” [codeterminando, em decorrência, as suas formas e funções].
[...] Eles são associados a [e decorrentes de] eventos similares prévios [isto é, já acontecidos]: os campos morfogênicos de todos os sistemas passados se tornam presentes em todo sistema similar subsequente [ou posterior]; as estruturas dos sistemas passados afetam os sistemas subsequentes por meio de uma influência cumulativa que atua através do espaço e do tempo”.


[...] Proponho uma visão evolucionária da realidade, na qual esses arquétipos – os campos morfogênicos que modelam as formas – não são considerados fixos. São afetados pelo que acontece no tempo, sobre os quais as formas sucedentes exercem efeito cumulativo. Eis aí a principal diferença [com] as teorias platônica e aristotélica. [É] um processo de mão dupla. O campo morfogênico é [originariamente] elaborado pelo que acontece no espaço-tempo, no mundo fenomênico. Os campos morfogênicos ajudam a modelar e determinar as coisas no mundo, e as formas presentes [e sucessivas] das coisas [causadas] os realimentam, afetando os campos morfogênicos de maneira cumulativa [pela geração de novos hábitos]. Portanto, os próprios campos morfogênicos têm desenvolvimento evolucionário”.
Mais de 20 anos antes da hipótese dos campos morfogênicos, Jung professara:
“O arquétipo é universal, isto é, sempre e em toda parte é idêntico a si mesmo. Se for tratado corretamente, nem que seja num lugar apenas, ele é influenciado como um todo, isto é, simultaneamente e em toda parte”, pois “aquilo que acontece na consciência humana tem um efeito retroativo sobre o arquétipo inconsciente”.
Para elucidar como seria isso, quer chamemos de campo morfogênico ou de arquétipo, transcrevo um trecho de Astrologia em Diálogo com a Ciência e a Fé:


“Ocorrido o fenômeno A, conforme às suas possibilidades enérgicas e materiais (causa material), seu surgimento origina (a) o campo morfogênico A’, correlacionado ao (e decorrente do) fenômeno A (por espécie de fenômeno e tipo de hábitos de ocorrência que o caracterizam entre todos os outros fenômenos).
Em um segundo instante, quando o fenômeno B ocorre, ele decorre em parte (b) das propriedades de A (em sua típica espécie de fenômeno, entre todas as variadas espécies existentes de fenômenos) e também é, de algum modo, cocausado (c) pelo campo morfogênico A’ (que atua como causa formal).
Ao ocorrer, o fenômeno B atua por ressonância mórfica sobre o campo morfogênico (d), fazendo com que o campo evolua do estágio A’ para o estágio B’, isto é, sendo ainda o mesmo campo morfogênico, mas em alguma medida já alterado por recursividade (ou retroação).
Em um terceiro momento, quando o fenômeno C ocorre, ele decorre (e) em parte das propriedades de B (quanto à espécie de fenômeno, causa material) e é ao mesmo tempo cocausado (f) pelo campo morfogênico (o mesmo campo, causa formal) em seu estágio B’.
[...] Como se vê pelas linhas pontilhadas que indicam os sucessivos estágios evolutivos do campo morfogênico, de A’ para B’ para C’, etc., vai se constituindo uma memória de hábitos, tão mais consistente e passível de evocação em futuros fenômenos de mesmo tipo e espécie, quanto mais vezes o campo morfogênico vier a ser recursivamente reafirmado por retroatividade e, por isso, passe a ser tão mais determinante na cocausação dos fenômenos que se associam a ele (isto é, a este específico campo morfogênico, dentre todos os campos morfogênicos existentes)”.
Avançando, ao discutir dinâmicas humanas coletivas Sheldrake supôs:
“Minha hipótese é que as sociedades têm campos mórficos sociais e culturais que abrangem e ordenam tudo o que reside dentro deles. Embora composta por milhares e milhares de seres humanos individuais, a sociedade pode funcionar e responder como um todo unificado por meio das características de seu campo morfogênico” [que é fruto de dinâmicas sociais anteriores].
Neste exato sentido, ouça este curto áudio que gravei de uma recente entrevista do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que já foi listado pela Scientific American como um dos 20 mais importantes cientistas do mundo em sua área.


Mas o que os supostos efeitos de arquétipos, ou campos morfogênicos, têm a ver com os símbolos da Astrologia?
Em meu modo de entender, os seres humanos puderam associar no decorrer da história específicos efeitos verificados no mundo (em âmbito pessoal, grupal, social ou ambiental) a característicos padrões zodiacais, gerando com isso um magnifico repertório de símbolos astrológicos polissêmicos (cada qual, conforme à própria cultura), que, daí por diante, seria suficiente para denotar, em ato de diagnose ou prognose, que tipo de efeitos probabilisticamente se poderia esperar junto a quais padrões zodiacais, a cada instante e local do espaço-tempo, segundo a pressão arquetípica característica denotada por cada símbolo ou arranjo de símbolos e de acordo com o tipo de objeto analisado (coisa, evento ou pessoa).


Simples, assim.
Por isso, como escrevi em Astrologia e Cristianismo em diálogo:
“Não precisa, e a meu ver nem deve, haver referência a Deus para pensar em fatores imateriais e intemporais de cocausação, ou se supor que tais fatores decorrem exclusivamente de direta ação divina. Podemos deixar Deus fora desta discussão e avançar nela independente de em que se creia, dando-se o mesmo com a Astrologia, que é matéria de razão e, não, de fé”.
Se para Tarnas “a Terra é um importante ponto focal deste significado, um centro móvel de significado cósmico em um mundo em evolução” (afirmando, com isso, um certo geocentrismo, além do suposto antropocentrismo universal já alegado por ele em o cosmos é intrinsecamente significativo para a consciência humana e coerente com ela, e não vendo o contrário, ou seja, a consciência sendo coerente com o cosmos em que ela se originou), cabe relembrar um singelo conceito que Jung expôs em A natureza de psique: “a psique é o eixo do mundo”.
O mundo só é mundo para quem o percebe e conceitua, e nada disto ocorre sem a participação ativa da psique, sem que nada indique, por qualquer ponto de vista não metafísico, que a espécie humana seja o ponto focal de atenção de uma “inteligência criativa e onipresente”, cocriativa, complexa e dinamicamente indeterminada, que tenha algum “significado cósmico” específico.
Terá igual convicção um habitante de, digamos, Alpha Centauri?
Seguramente, não: para a mente deste habitante (seja como for o habitante e sua mente), o seu planeta é o ponto focal do seu “mundo em evolução” e o que para ele parecer ser o “significado cósmico” bem provavelmente é tido por ele como o mais importante de todos.

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