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9 de ago. de 2020

Muda a estrela, mas não muda o raciocínio

 

Comentando meu último post, A aproximação entre Planetas que jamais acontece, enviaram-me e-mail informando que mencionei nele, como exemplo, a estrela Nashira, da constelação de Capricórnio, embora ela de fato apareça no Signo de Aquário. E que não tenho base para afirmar que a Astrologia não se refere a energias de planetas, pois não há como provar a inexistência de tais energias.

Absolutamente correta, a observação, e nos dois itens comentados, levando-me a querer escrever o que vai aqui.

De fato, dada a diferença cósmica entre o Zodíaco Tropical, que é o mais usualmente adotado por nós, e a posição das estrelas no cosmo (por nós chamadas de “fixas”, inda que vão se movendo no decorrer do tempo), mesmo compondo a constelação de Capricórnio a estrela Nashira hoje em dia é vista por volta de 21 graus do Signo de Aquário.

Isto ocorre porque tudo se move no cosmo, embora de modo lentíssimo (do nosso ponto de vista), enquanto o Zodíaco é imaginado como sendo imóvel sobre a Eclíptica.

Por distração, ao redigir o post escolhi uma estrela segundo a constelação e, não, de acordo com o Signo, embora eu estivesse me referindo ao Signo de Capricórnio e à Conjunção tríplice Júpiter-Saturno-Plutão que nela vai se verificando em 2020. E, como se sabe, constelações e Signos são coisas diferentes, embora as constelações tenham dado base parcial, há cerca de 2.500 anos, para a elaboração simbólica dos Signos do Zodíaco.

Escolhi então, agora, uma estrela que atualmente se localiza por volta de 13 graus do Signo de Capricórnio (embora, de fato, ela componha a constelação de Sagitário): Ascella.

Deixe-me saltar, então, para o segundo item, e a seguir voltarei ao assunto da estrela.

Penso que não fui bem entendido: em trecho algum do post afirmo que não existem energias de planetas. O que sempre disse e continuo afirmando é que, existam ou não estas energias, não é com base em cálculo de energias de Planetas que a Astrologia funciona nem é a qualquer tipo de energia de Planetas que a Astrologia se refere. Enquanto se continuar a dizer assim, não se avança no grau de aceitação da Astrologia fora dos círculos astrológicos e nem na pesquisa do que realmente acontece e lhe dá efetividade como método de detecção por denotação.

E por que não afirmo inexistirem tais energias dos Planetas? Como bem disse quem escreveu para mim, porque não há provas cabais de sua inexistência – já que ausência de evidência não é evidência de ausência, pois pode haver uma variável oculta, isto é, não conhecida.

Em um mundo no qual a quase totalidade do que existe no cosmo parece ser matéria e energia escuras, as quais, mesmo sendo não identificáveis (e por isso são chamadas de escuras pela Astrofísica), são hipotetizáveis em termos matemáticos frente ao que já se conhece e compreende, pode até haver energias emitidas pelos corpos siderais que desconheçamos.

Isso é bastante improvável, porém, já que os astros são de dois tipos: os luminosos, que emitem energia, como as estrelas, e os iluminados, como planetas, satélites e asteroides, que apenas refletem a luz vinda de estrelas (o que ocorre, inclusive, com os cometas).

Sendo assim, já que os Planetas do sistema solar são corpos de matéria inerte ou aglomerados ainda gasosos que um dia talvez virem matéria sólida, mas sem as monumentais reações enérgicas de nucleossíntese (fusão nuclear) que ocorrem nas estrelas, que tipo de energia os Planetas poderiam emitir, além da força gravitacional que atua em tudo o que há no universo e de campos eletromagnéticos que os planetas tenham, alguns muito intensos, como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, e outros, muito fracos, como no caso de Mercúrio e Vênus? Marte, nem tem e, sobre Plutão, não se sabe.

E mesmo que emitam energias ainda não conhecidas, o que faz supor que cada Planeta o faria de modo todo característico, como se costuma afirmar? É muito inverossímil...

Há que se ir adiante e, para isso, penso no “Efeito Marte”. Este assunto, que remete às extensas pesquisas feitas no correr da década de 1950 pelo estatístico e psicólogo francês Michel Gauquelin e sua esposa, Jacqueline, é interessante.

Gauquelin, como resultado de seu trabalho, em 1955 afirmou em Influências cósmicas sobre o comportamento humano:

“No fim das contas, havia uma relação estatística cada vez mais sólida entre o momento do nascimento de grandes homens e seu sucesso profissional [...] Tendo coletado mais de 20 mil datas de nascimentos de celebridades profissionais de vários países europeus e dos Estados Unidos, tenho que chegar à conclusão inevitável de que a posição dos planetas no momento de nascer está ligada ao próprio destino. Que desafio para a mente racional!”

Michel e Jacqueline Gauquelin

Ocorre que ele centrou parte importante de sua pesquisa na posição de Marte nas Cartas Natais estudadas e em 1992 Suitbert Ertel, também estatístico e Professor Emérito de Psicologia na Universidade alemã de Göttingen, que se dedicava a estudar fenômenos que não podiam ser explicados pelas teorias científicas mais usuais sobre a mente, resolveu analisar melhor o assunto.

Em decorrência, embora não tenha abalado a solidez do que o trabalho de Gauquelin demonstrara, pelo estudo da posição cósmica de Marte nas datas estudadas Ertel demonstrou que não cabia falar em energias do Planeta Marte, já que o “efeito” pressuposto por Gauquelin independia de Marte estar atrás do Sol ou entre o Sol e a Terra, da distância de Marte em relação à Terra (com variação de até sete vezes) e de alterações da posição cósmica de Marte segundo a Ascensão Reta ou Declinação, que em termos cósmicos equivale ao sistema terrestre de coordenadas (Longitude e Latitude), respectivamente.

Enfim, segundo Ertel concluiu, o trabalho de Gauquelin parecia indicar alguma outra coisa que, não, energia...

Mas há mais do que isso.

Variados procedimentos de cálculo da Astrologia não dizem respeito a corpos siderais com existência material, e isso apreendi logo depois que a Astrologia entrou na minha vida. Por exemplos, é assim com os Nodos Lunares Norte e Sul, é assim com Lilith, e é assim também com a Progressão Secundária, seja a da Lua ou de Planetas.

É tudo imaginação, estruturada em termos matemáticos e expressada em termos culturais.

Por fatos assim, e outros, já em 1989 eu afirmava no meu primeiro livro sobre o assunto: “[...] parece-me inegável que não há influência energética dos ‘astros’ sobre nós, ao menos não da forma como preconizada pela Astrologia”.

Neste sentido, veja o que disse Dane Rudhyar, o marcante astrólogo franco-americano que estabeleceu as primeiras pontes conceituais entre a Astrologia Ocidental e a Psicologia, notadamente por conta de ter entrado em contato, em 1930, com a obra então nascente de Carl Gustav Jung.

Em A Astrologia da personalidade, ele afirmou:

“A Astrologia, por si, não significa nada mais do que a álgebra. Ela [estabelece e] mensura as relações entre símbolos, cuja concretude é inteiramente uma questão de convenção [...] Assim como os símbolos da álgebra, x, y e n, são meras convenções. Em outras palavras, o reino astrológico dos corpos celestes em movimento é como o reino das proposições lógicas. Nem um nem outro têm conteúdo real. Ambos são puramente formais, simbólicos e convencionais” (colchetes e itálicos meus).

Nicholas Campion, um dos grandes especialistas europeus em Astrologia Mundial, foi Presidente da Associação Astrológica da Grã-Bretanha e é Diretor do Sophia Center para o Estudo da Cosmologia na Cultura, em Londres, Diretor do Mestrado em “Astronomia Cultural e Astrologia” da Universidade do País de Gales Trinity Saint David (Reino Unido) e fundador e editor da revista Cosmos and culture.

Nicholas Campion

Em seu livro Astrology and Cosmology, ao relatar e analisar como a Astrologia foi elaborada no decorrer de variadas culturas, já que todas as culturas conhecidas tiveram alguma forma de Astrologia, Campion afirma:

“A astrologia supõe que exista uma relação significativa entre as estrelas ou planetas e assuntos da Terra. A partir deste princípio simples, desenvolveram-se todas as muitas formas de astrologia praticadas ou estudadas em todo o mundo. A palavra é derivada do grego astron (estrela) e logos. Logos é simplesmente traduzido como ‘palavra’; então, a astrologia é a ‘palavra’ das estrelas: as estrelas ‘falam’ [...] Como linguagem, a astrologia fala em símbolos. Ela se baseia na metonímia, usando uma palavra para significar outra, de modo que, quando os astrólogos ocidentais modernos pronunciam a palavra ‘Marte’, seus colegas ouvem as palavras ‘raiva’, ‘perigo’ e ‘energia’. Quando a astrologia diz ‘Vênus’, é código de amor, paz e desejo ou, na cultura asteca e maia, guerra e violência. Alguns dos adeptos modernos da astrologia afirmam que sua linguagem é universal, o que claramente não é [...] A aparência física dos corpos celestes e a medição matemática de seus movimentos aparentes não são negociáveis, mas, além da medição das influências solar e lunar, todos os outros aspectos da astrologia são locais e específicos da cultura” (itálico meu).

Com isso, lembrando que diferentes povos (e culturas) viram diferentes constelações no céu (a do Cruzeiro do Sul não é vista na Europa e a da Ursa Maior não é vista na América do Sul), volto à estrela Ascella, à Astrologia Ocidental e ao Signo de Capricórnio.

Lá no alto, bem no alto, está o Signo de Capricórnio no Zodíaco imaginado, concebido há 2,5 milênios pelos mesopotâmios sobre a Eclíptica.

Como a Eclíptica está a cerca de 149,6 milhões de quilômetros da Terra (distância média Terra-Sol), penso poder assumir que o Zodíaco, que de fato não existe materialmente, é como se estivesse nesta exata distância de nós – mas, em verdade, ele poderia ser imaginado a apenas um quilômetro e daria absolutamente no mesmo.

Muito acima, quatro vezes mais acima, está Júpiter a 628,7 milhões de quilômetros e, outras quatro vezes mais no alto ainda, a 1,2 bilhão de quilômetros, está Saturno.

Mas, repare: apenas porque, para nós que vivemos na Terra, a luz vem “de cima”, é que dizemos “acima” ou “mais no alto”, pois, de fato, pode ser em qualquer direção no cosmo a partir do planeta Terra.

Estamos aqui no solo terrestre e, no trecho do Zodíaco imaginado a que nos habituamos a chamar “Signo de Capricórnio”, calculamos matematicamente no céu os pontos luminosos de Júpiter, de Saturno e de um terceiro astro, que chamamos Plutão e está a quase incríveis 5,7 bilhões de quilômetros, o qual só se vê com telescópios, de tão fraquinha é a luz que ele reflete do Sol, dada a imensíssima distância do centro do sistema solar.

Eles parecem estar atravessando o cosmo, todos juntinhos e na mesma “janela de observação” que é o Signo (atualmente, o de Capricórnio), mas de fato são apenas os seus pontos luminosos que parecem encostar uns nos outros, do ponto de vista calculado a partir da Terra, a despeito de que os próprios astros continuem mantendo as mesmas distâncias enormes mencionadas logo atrás, cada qual em um certo setor do espaço cósmico.

Mais espantoso ainda: Ascella está a 847 trilhões de quilômetros, ou 5,6 milhões de vezes a distância da Terra à Eclíptica e, matematicamente, está no mesmo Signo de Capricórnio no Zodíaco imaginado sobre ela, embora componha no céu a constelação de Sagitário e se mova cerca de um grau geométrico de Signo por século.

Tudo isso junto, quando em comparação com o que veio se documentando na Terra por milênios (os primeiros registros organizados e conhecidos de “coincidências” verificadas entre fenômenos terrestres e ocorrências siderais são datados de vários séculos antes de nossa Era), é o que levou a interpretar as ocorrências terrestres como sendo decorrentes dos efeitos de eventos cósmicos (e zodiacais), que são apenas o padrão referencial do que ocorre na Terra mas são imaginados como sendo fontes de pressupostas energias determinantes.

É tudo metáfora ou metonímia.

Não é magnífica a capacidade semiótica da mente humana, que estabeleceu significantes perenes e estáveis com múltiplos e variáveis significados (Planetas, Signos e Aspectos), conformes aos padrões de eventos recorrentes ou periódicos observados no céu (e, mais tarde, no Zodíaco) e às coincidências, no tempo, com o que se via ocorrer aqui na Terra, seja em coisa, evento ou pessoa?



31 de jul. de 2020

A aproximação entre Planetas que jamais acontece


Em uma palestra no XXI Simpósio Nacional e XII Internacional de Astrologia do SINARJ – Sindicato dos Astrólogos do Rio de Janeiro, realizado em outubro de 2019, importante profissional de Astrologia afirmou: “Quando os planetas se aproximam, eles desequilibram o sistema solar. Por que? Porque sai do centro. O centro do sistema descentraliza e isto desequilibra e causa problemas para a Humanidade”.

Debatia-se Astrologia Mundial e as Conjunções zodiacais simultâneas e mútuas que ocorreriam em 2020 entre Júpiter, Saturno e Plutão no final do Signo de Capricórnio, e os efeitos que isto teria sobre os fenômenos no planeta Terra e na Humanidade. Daí, falar-se, e deste jeito, em “aproximação entre os Planetas”.



Vou por enquanto deter-me apenas na primeira oração do que foi dito: “Quando os planetas se aproximam, eles desequilibram o sistema solar”.

O que a afirmação busca explicar? Que os Planetas mantêm um certo nível de equilíbrio cósmico dinâmico que se compromete quando eles se “aproximam”, por fazerem Conjunção zodiacal entre si, chegando a desequilibrar o centro do sistema.

Dito assim, parece que está se raciocinando sobre corpos com matéria e gravidade, os quais, ao “se aproximarem”, geram efeitos uns sobre os outros e, com isso, “desequilibram o sistema solar”, isto é, o sistema em que eles estão, com o Sol ao centro e todos orbitando em torno: “O centro do sistema [que se supõe ser o Sol, já que é do sistema solar que se falou] descentraliza e isto desequilibra e causa problemas para a Humanidade”.

Parece muito lógico... não fosse o fato de que os Planetas (isto é, os astros, já que se falou em “sistema solar”) não se aproximam entre si quando ocorre uma Conjunção zodiacal entre os seus símbolos e, por isso, não há como ser gerado efeito objetivo algum de desequilíbrio sobre o que quer que seja e nem como causarem nada.

O que se pode chamar de “aproximação” é apenas o acercamento, no Zodíaco, de símbolos que um dia foram elaborados com base nos Planetas, o que não gera “desequilíbrio no sistema solar” e nem em sistema nenhum, já que a aproximação matemática de dois símbolos em um círculo imaginário não resulta em energia alguma nem exerce efeito sobre qualquer coisa que não seja na esfera da competência semiótica humana, feita de imagens que significam algo.

Quando ouço afirmações como estas, inevitavelmente penso no registro que fiz no meu mais recente livro, Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé:

“Não obstante eu venha chamando atenção desde 1989, como o fiz em O simbolismo astrológico e a mente humana, para o fato evidentíssimo – até, mesmo, segundo os procedimentos da própria Astrologiade não se tratar de energias de corpos siderais causando os acontecimentos terrestres e, dentre estes, as ocorrências corporais, emocionais, sentimentais e intelectivas humanas, toda vez que menciono isto em eventos de astrólogos deparo com uma surda resistência (senão aversão, mesmo, reação afetiva que parece indicar que um ponto sensível foi ferido), por irresistível apego ao modelo astrológico convencional: energia dos astros.

Naquela mesma década Liz Greene afirmava em A Astrologia do Destino, referindo-se ao simbolismo astrológico:

Não se trata de compulsão planetária; os planetas simplesmente refletem, ou são símbolos de, um padrão existente no homem e na mulher interiores, orquestrado através da experiência da vida pelo arquétipo que representa a essência de sua individualidade” (itálico meu).

Ainda assim, 30 anos passados [...] não cessa a proliferação de artigos e livros e cursos e palestras de Astrologia referindo-se aos Planetas como sendo fatores causais objetivos”.





Com o que, também, não cessam afirmações que, decerto sem perceber, violam princípios fundamentais da realidade na elaboração de raciocínios e exposição de conhecimentos, preso que se fica da pressuposição (meramente ideológica) de que aquilo que é denotado pela Astrologia são fenômenos decorrentes de efeitos objetivos dos corpos siderais.

Vejamos alguns detalhes, com certa paciência.

 

O Zodíaco

Há aproximadamente 4,6 bilhões de anos surgiu o Sol e, logo após, o sistema solar. Desde aquela inimaginavelmente longínqua época, os Planetas giram em torno do Sol, em diferentes órbitas elípticas, ora se afastando, “empurrados” pela inércia de movimento, ora se aproximando, “atraídos” pela força gravitacional do Sol (é mais complexo, mas resumo assim).

Sobre a Eclíptica, que é a trajetória que o Sol parece fazer em volta da Terra (já que só a-pós Copérnico se passou a considerar que é a Terra que gira em torno do Sol), os mesopotâmios conceberam no século 5 AEC o Zodíaco e dividiram este círculo em 12 segmentos de igual tamanho (30º), que conhecemos como Signos (Áries, Touro, Gêmeos, etc.).

John M. Steele é um historiador das Ciências Exatas da Antiguidade, na universidade norte-americana Brown University. Ele é especialista em história da Astronomia, com foco particular na Astronomia Babilônica.

Em um de seus artigos, ele explica desta maneira:

“O desenvolvimento do zodíaco foi um evento importante na história da astronomia e astrologia babilônica. Na astronomia, o zodíaco forneceu uma estrutura matemática uniforme dentro da qual os corpos celestes, em particular a lua, o sol e os cinco planetas, podiam ser localizados [...] Essa estrutura matemática simplificou bastante o cálculo dos fenômenos astronômicos. Dentro da astrologia, o zodíaco abriu toda uma gama de novas possibilidades para fazer associações entre o reino terrestre e o celeste.

O desenvolvimento do zodíaco ocorreu em algum momento da Babilônia durante o final do século V a.C. [...] O conceito de zodíaco subsequentemente circulou pelo Oriente próximo, sendo transmitido ao Egito e ao mundo grego, de onde se espalhou para a Índia e depois da Índia para a China e outras partes do leste da Ásia, enquanto no Oeste se tornou uma parte padrão da astronomia grega, islâmica e europeia.

[...] É importante esclarecer a distinção entre o zodíaco e as constelações zodiacais. As constelações zodiacais são um conjunto de constelações através das quais o sol, a lua e os planetas se movem [...] Todas as constelações são construções humanas, projeções feitas sobre o grande número de estrelas visíveis a olho nu, distribuídas no céu noturno. As constelações são, portanto, culturalmente dependentes – culturas diferentes organizarão as estrelas em padrões diferentes e as nomearão de coisas diferentes –, embora, como qualquer conhecimento astronômico, as tradições de definição e nomeação de constelações possam transitar entre culturas” (itálicos meus).

Germano Bruno Afonso, por exemplo, físico brasileiro que é Doutor e Pós-Doutor em Astronomia de Posição e Mecânica Celeste, e Especialista em Arqueoastronomia indígena, ensina que os índios brasileiros veem uma Cobra na constelação que chamamos de Escorpião e, uma Ema, entre as constelações de Escorpião, Lobo e Cruzeiro do Sul.






“Em termos modernos [continua John Steele], as constelações zodiacais são uma série de constelações distribuídas em torno de uma banda centrada na Eclíptica através da qual a lua, o sol e os planetas se movem. Podemos chamar isso de banda zodiacal. O zodíaco é uma divisão matemática uniforme da banda zodiacal em doze partes de igual comprimento, cada uma com 30°, que podemos chamar de signos zodiacais (ou signos do zodíaco). Ao contrário das constelações zodiacais, os signos zodiacais são do mes-mo tamanho e não têm espaços entre eles. Assim, enquanto os limites das constelações podem ser vistos no céu noturno imaginando linhas entre as estrelas, os limites dos signos zodiacais são definidos matematicamente e não podem ser vistos diretamente no céu”.

Claro! Se o Zodíaco é algo que existe apenas por haver a capacidade humana de imaginação e cálculo matemático, ele não é algo objetivo que possa ser visto no céu. Ademais, não se deve esquecer que o que vemos não são as próprias estrelas das constelações, como se elas estivessem ali pertinho da Lua ou, mesmo, dos Planetas.

O que vemos são apenas pontos de luz, a luz que muitíssimos anos atrás as estrelas emitiram, de tão distantes que elas estão. O Cruzeiro do Sul, por exemplo, que está a 7.700 anos-luz da Terra, pode ter até desaparecido há milênios, mas sua luz continua chegando até nós.

 

É tudo, e apenas, imagem

Do Zodíaco, diz-se que os astros, entre os quais os Planetas, registrados neste ou naquele segmento do Zodíaco, estão em Áries ou em Touro ou em Gêmeos, etc., mas, em verdade, eles não estão em um algo chamado “Áries” ou “Touro” ou “Gêmeos”.

São apenas ocorrências de representação zodiacal simbólica e, não, fenômenos objetivos com energia característica (a energia de Áries, a energia de Touro, a energia de Gêmeos, etc., todas diferentes entre si, como se costuma supor), dando-se o mesmo com as constelações, que só existem por conta da capacidade humana de imaginação e fantasia.



Do jeito que nos acostumamos a falar, parece que cada constelação é uma certa área espacial do cosmo através da qual um Planeta pode transitar, seguindo sua órbita, como se fosse um patinador deslizando sobre o gelo ou nadador subaquático atravessando a água. Mas não é assim, e mesmo no caso delas é tudo imaginação e produto da mente.

Compare: Saturno está em órbita a 1,4 bilhão de quilômetros do Sol, enquanto Nashira (Gamma Capricorni), a principal estrela da constelação de Capricórnio, está situada a 1,3 quatrilhão de quilômetros do Sol, ou uma distância 920.000 vezes maior.



No cosmo, o que podemos ver à noite é o ponto de luz de Nashira, que, juntamente com os pontos luminosos de outras estrelas, compõe aquilo que as culturas mesopotâmicas resolveram chamar “constelação de Capricórnio” – e cada cultura o fez a seu modo.



Muito, muito, muito lá em cima, a 1,3 quatrilhão de quilômetros de nós, está a estrela que compõe o que, vista daqui com outras (e em variadas distâncias entre si e com a Terra), chamamos de “constelação de Capricórnio”. Bem mais abaixo, a “apenas” 1,28 bilhão de quilômetros da Terra, está a órbita de Saturno. Estamos aqui, mais abaixo ainda, na Terra, olhando para o céu e vendo Saturno se movimentando entre determinados pontos de luz, cujo conjunto chamamos de “constelação de Capricórnio”. Aí, pensamos: “Saturno está transitando na constelação de Capricórnio... Que bacana!”.

Todavia, entre ambos, Planeta e estrelas, há mais de um quatrilhão de quilômetros e, portanto, é só na nossa imaginação e com base no que visualizamos, que Saturno parece transitar na constelação de Capricórnio, como se a constelação fosse um algo objetivo existente no cos-mo sobre o que, ou através do que, Saturno transitasse.

Para uma comparação em termos humanos e ficar mais fácil lidar com estas imensas distâncias todas, que são as cósmicas, imaginemos uma pessoa de pé na calçada de um edifício que tenha o dobro da altura do Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, que tem 160 andares e 828 metros de altura em Dubai.

Aqui em baixo, a apenas 1 milímetro do solo está a órbita de Júpiter, logo acima do dedão do pé da pessoa está a órbita de Saturno, pouco abaixo do osso de seu tornozelo está a órbita de Plutão e lá no alto, bem no alto, muito alto mesmo, acima do topo do “duas vezes o Burj Khalifa”, a 1.700 metros de altura, está Nashira (Gamma Capricorni), a estrela cujo ponto luminoso ajuda a compor no céu o que chamamos constelação de Capricórnio.



Então, voltando à Astrologia, em certas épocas os símbolos zodiacais de Júpiter, Saturno e Plutão matematicamente se aproximam no Zodíaco (em 2020, os três símbolos vão estabelecendo simultâneas e mútuas Conjunções zodiacais no final do Signo de Capricórnio), com isso significando várias coisas, enquanto os astros continuam em suas órbitas cósmicas em torno do Sol como o fazem há milhares de milênios, mantendo distâncias imensas entre si e sem que estas Conjunções zodiacais signifiquem qualquer “aproximação entre planetas”, provoquem qualquer “desequilíbrio no sistema solar” ou “causem problemas para a Humanidade”.

Como o romano Marcus Manilius, contemporâneo de Ptolomeu, escreveu no século 1:

“[Os astros] não variam nem o seu pôr nem o seu retorno ao céu, mas cada um, constante, eleva-se de acordo com o seu tempo específico e conserva ordenados os momentos do seu nascer e do seu ocaso. Nada, nessa máquina tamanha, é mais admirável do que sua regularidade e o fato de que tudo obedece a leis constantes. Em lugar nenhum uma perturbação lhe causa dano; nada, em parte alguma, é levado a vagar por um caminho mais extenso ou mais breve ou a mudar a direção do seu curso. O que mais pode haver de aparência tão complicada e, no entanto, de movimentação tão regular?”.

Afinal, se os próprios Planetas Júpiter, Saturno e Plutão se aproximassem, como vamos vendo os seus símbolos se justaporem em Conjunções zodiacais em 2020, isto significaria que, aí, sim, o sistema solar inteiro teria entrado em colapso e não estaríamos mais aqui para ler este texto ou assistir a palestra alguma!

O problema, a meu ver, no que foi dito: “Quando os planetas se aproximam, eles desequilibram o sistema solar. Por que? Porque sai do centro. O centro do sistema descentraliza e isto desequilibra e causa problemas para a Humanidade”, é que declarações como estas, especialmente quando feitas por quem tem destaque como profissional de Astrologia, não resistem à confrontação com os dados objetivos do mundo e comprometem a imagem da Astrologia como conhecimento de boa qualidade.

E, o que é pior, fazem por tornar desnecessária qualquer busca de explicação verdadeira sobre as razões da efetividade da Astrologia, já que parecem esclarecer o que ocorre e desestimulam a questão: se não é por efeito de energias dos planetas, o que é que, de fato, então, faz com que a Astrologia funcione, já que se sabe que ela funciona?

Em decorrência, não se avança em busca de melhor conhecimento.



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