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4 de set. de 2015

O USO DA ASTROLOGIA PARA CRIAR MELHOR SEU FILHO

No início de agosto de 2015 a Escola de Astrologia Gaia realizou a “XVI Astrológica” na cidade de São Paulo, com três dias de palestras e debates entre astrólogos, estudantes de Astrologia e interessados no tema.
Entre os palestrantes esteve a Mestre em Direito, Psicanalista e Astróloga Camila Colaneri, cujo tema capturou minha atenção: “Vênus e Marte no mapa de crianças”.
Mantendo-se focada no uso da Astrologia como recurso de orientação psicopeda-gógica para a desafiadora tarefa de criar filhos, Camila realçou um aspecto da Astrologia que poucas vezes é destacado: mais do que recurso para “prever futuro” (será médico? será bailarina? terá problemas de saúde? vou ter netos?), a Astrologia é preciosa ferramenta para lidar com o presente imediato da criança, desde bebê.
Ampliando as chances de ser feito o que é o mais adequado para a própria criança, independente da história dos pais e de seus desejos, em geral projetados nos filhos e interferindo (nem sempre positivamente) nas dinâmicas do bem educar.


Camila Colaneri: Saber como a criança percebe o mundo e responde a ele é fundamental para gerar e oferecer os estímulos mais adequados à própria criança.













AA – Quais principais aspectos infantis podem ser identificados e descritos pela interpretação da Carta natal?
Camila Colaneri – A interpretação astrológica permite entender, em termos gerais, mas profundos, como a criança forma seu pensamento, como elabora seus sentimentos e como lida com suas emoções, o que dá preciosos indicadores de como lidar com ela e apoiar suas tarefas de crescimento. Isto se estende aos aspectos comportamentais, já que a Carta natal informa se a criança é mais Extrovertida ou Introvertida, ativa ou passiva, dependente ou independente, eufórica ou melancólica, e assim por diante. Esta interpretação requer desde a análise da distribuição de Elementos na Carta, para definição de Temperamentos, até a avaliação da Carta natal como um todo.

AA – Para quem já estuda ou pratica Astrologia, você poderia resumir os principais fatores simbólicos da Carta natal que devem ser observados?
Camila Colaneri – Insisto: é preciso, sempre, olhar o todo! Mas dá para salientar principais pontos. Pela análise dos Elementos, verifica-se o temperamento da criança. O Ascendente indica o primeiro olhar sobre o mundo e o nascimento. A Lua indica o padrão de necessidades emocionais, a nutrição e a relação com a mãe. O Sol aponta o padrão de Ego e de elaboração da identidade, assim como o pai. Mercúrio denota os modos naturais de aprendizado e comunicação, naquela criança, Júpiter sinaliza suas formas de expansão e busca de oportunidades, em contraste com Saturno, que costuma apontar os principais desafios e os pontos de disciplina. Urano denota o jeito de expressão de originalidade e busca de autonomia. Netuno nos fala da capacidade de inspiração e busca de transcendência – sim, a criança já vive isto –, e Plutão sinaliza as práticas de exercício de poder e de estabelecimentos de vínculos. Quanto às Casas, é necessário analisar a I (autopercepção), a III (irmãos/amiguinhos), IV (estrutura geral do lar), V (padrão expressivo de identidade) e VI (dinâmicas corporais predominantes). É importante, também, identificar os Trânsitos sobre os principais pontos da Carta natal a cada fase.

AA – A partir de qual idade da criança os pais se beneficiam da interpretação astrológica de sua Carta natal?
Camila Colaneri – Desde o nascimento. Consegue-se perceber pela situação da Lua na Carta natal, por exemplo, como a nutrição se dará, como a criança perceberá a mãe, como o contato entre mãe e bebê se estabelecerá, como foram os momentos do parto e como isto já pode estar influenciando a criança. Claro, que os três primeiros meses de vida do bebê são muito intensos, tanto para ele, que está lutando para sobreviver em um meio desconhecido, como para a mãe, que está tentando se encaixar em um novo paradigma. Mas os benefícios da interpretação astrológica já podem ser sentidos desde o início da vida da criança.

AA – Aspectos psicoemocionais dominantes costumam ser vividos projetivamente por meio de ritos pessoais (ou “comportamentos habituais”). No caso de crianças, também nas brincadeiras. Pode dar alguns exemplos de como isto se verifica em uma criança, conforme indicam os dados de sua Carta natal, e explicar como saber tal coisa pode ajudar os pais na boa utilização e orientação dos potenciais da criança?
Camila Colaneri – Para pegar o tema da minha palestra, a posição do planeta Vênus por Signo, por exemplo, permite ter claro como aquela criança significa para si mesma o dar e receber afeto, quais são as situações que lhe dão mais prazer, o que ativa seus desejos e o que ela valoriza. Isto torna possível identificar do que ela gosta de brincar. Veja o caso de uma criança com Vênus em Câncer. Provavelmente ela gostará de brincar de casinha ou de fazer comidinha, ou algo que simbolize isto, no caso de um menino, pois tem o “cuidar” como importante forma de valor. Então, esta seria uma boa sugestão para os pais, ou mesmo um terapeuta, sobre como ajudar aquela criança a se expressar brincando. Por sua vez, identificar o ambiente em que ela está inserida e como ela capta sua atmosfera familiar, olhando a Casa IV e a Casa VI, pode indicar que tipo de ambiente lhe seria mais familiar, para que ela sinta mais segurança em suas manifestações. E olhar a Lua seria bem interessante, pois indica o jeito natural da criança de expressar suas emoções.

AA – Em geral, os pais se preocupam com saúde corporal e boa alimentação. O que a interpretação da Carta natal oferece, no tocante a estes temas?
Camila Colaneri – Pela Carta natal podemos observar as questões de saúde, sim, olhando Ascendente, Sol e Casa VI, para verificar quais são os pontos mais vulneráveis daquela criança e quais cuidados devem, então, ser adotados. Por exemplo, uma criança com mais Elemento Ar na Carta natal pode ter tendência a vulnerabilidade no sistema respiratório. Indicar isso aos pais já auxilia na prevenção, pois podem evitar ter em casa, por exemplo, carpetes e outros objetos que acumulem poeira. Os aspectos nutricionais também são muito relevantes e, neste caso, costumo olhar a Lua, pois ela se relaciona à informação sobre o que nutre a criança, e também o planeta Vênus, que pode apontar que tipo de alimentação dará mais prazer à criança. Por exemplo: uma criança com Lua em Áries pode não ter muita paciência para se alimentar, mas se tiver uma Vênus em Touro, pode gostar de alimentos com paladar mais marcante e apresentar forte tendência a gostar de doces.

AA – Em que medida o ambiente infantil da criança, e por extensão a relação entre os pais e de cada um destes com ela, costuma estar refletido na Carta natal da criança? Em quê, ajuda saber isto?
Camila Colaneri – Saber como é o ambiente da criança é essencial para perceber como ela irá reproduzir no ambiente externo o que percebe em casa. Se, por exemplo, a criança tem uma Vênus bem posicionada na Casa IV, provavelmente o ambiente doméstico lhe é agradável e ela pode até ter dificuldade de querer sair de algo que lhe é tão prazeroso. Pode, então, gostar de ficar em casa, de trazer os amigos para o seu universo particular e de cultuar a família. Já uma criança que tenha Urano na Casa IV pode sentir seu ambiente doméstico como um lugar mais agitado, impessoal e propício a mudanças repentinas. Assim, esta outra criança pode gostar de ficar fora de casa e de sair mais, já que seu ambiente doméstico não lhe propicia o sentimento de acolhimento. Interpretar o Sol, a Lua e as Casas III, IV, VI e X, por sua vez, ajuda a ver como a criança percebe e sente pais e parentes: com quem tem mais afinidades, com quem tem mais dificuldades, qual o papel preponderante de cada um dos pais, como seu cotidiano se estabelece. Exemplo: uma criança com Lua em Touro e Sol em Gêmeos pode perceber a mãe como presente e ativa cuidadora, tendo de outro lado um pai que é mais agitado e desapegado. Cada um tem um papel na formação daquela criança: provavelmente a mãe fica com a parte estrutural de oferecer o “pé no chão”, impor rotinas e dar noção de materialidade, enquanto o pai tem a função de educar e trazer informação, agitação e novos conteúdos. Quando os pais definem seus papéis, tais como são percebidos pela criança, eles tendem a atuar melhor.

AA – A criança se desenvolve em fases (motora, emocional, cognitiva, relacional, etc). O que a Carta natal da criança oferece de informação específica sobre os diferentes estágios de desenvolvimento infantil, para uma melhor adequação dos pais?
Camila Colaneri – É muito importante entender em qual estágio de desenvolvimento a criança se encontra, para oferecer uma orientação mais pontual e útil. Assim, se a criança está na fase oral, ou até aproximadamente os dois anos, é importante analisar com cuidado a Lua, pois estaremos falando de formas de nutrição que estão vinculadas a amamentação e ao contato direto com a mãe. Já na fase anal, um pouco depois, é preciso atentar para o sistema motor por meio do planeta Marte (associado a músculos), assim como para a Casa VIII (associada a retenção/eliminação e excreção). A análise de Marte é importante na fase em que a criança começa a sentar e, posteriormente, a andar, isto é, se será mais fácil ou mais lento em seu caso, por exemplo. A partir dos dois anos e meio também é preciso estar atento à fase de comunicação (Mercúrio) e de sociabilização (Vênus), e assim por diante.

AA – Inclusive na educação da criança, seja no lar, seja na escola?
Camila Colaneri – Sim. Quanto à educação e aprendizagem, a interpretação astrológica pode ser bem útil para pais e educadores. É de grande auxilio saber como a criança aprende, pois isto varia conforme a criança: o que é objeto de interesse, como se estabelece sua comunicação, que tipo de inteligência ela desenvolve melhor (corporal, espacial, lógica), que facilidades ou dificuldades tem no processo de aprendizado e qual ambiente educacional mais a favorece. Assim, devemos analisar Mercúrio, Júpiter, Casa III e Casa IX. Para ilustrar, imagine uma criança com Mercúrio em Peixes. Para ela, a linguagem simbólica é de grande valia no processo de aprendizagem, pois ela capta melhor imagens e sons, o lúdico, o imaginário. Já, uma criança com Mercúrio em Virgem requer um aprendizado mais estruturado em sistemas, que seja mais prático e organizado.

AA – E quando a criança apresenta dificuldades de aprendizagem?
Camila Colaneri – O astrólogo pode mostrar aos pais que tipo de dificuldade é aquela ou, até, qual é a origem desta dificuldade. Analisando a situação do planeta Mercúrio, por exemplo, podemos analisar quais são as formas de aprendizado às quais a criança melhor responde. Também podemos saber se aquela criança é mais dispersiva, se é muito ansiosa, se precisa de um tempo a mais para assimilar os conteúdos, se lida bem ou mal quando é pressionada, e assim por diante. Esta seria uma interação incrível no sistema educacional – talvez utópica, mas de grande valia –, pois o que ainda se verifica é falta de integração entre os sistemas de ensino estabelecidos e as diversas formas de aprendizado conforme a criança. Algumas crianças aprendem inventando e experimentando, enquanto outras precisam de uma ordem mais clara, com regras precisas. Seria positivamente impactante na alfabetização saber como a criança aprende melhor. Interessa observar os trânsitos sobre Mercúrio na época do desenvolvimento da fala ou da alfabetização, também.

AA – Isto seria útil para um professor ou terapeuta de crianças, não?
Camila Colaneri – Claro! Com relação ao professor, a Astrologia pode ajudar a entender as principais características de cada aluno em particular, desde o comportamento até às formas de aprendizado que melhor se adequam a cada um, bem como as dinâmicas de sociabilização próprias de cada criança. Saber, por exemplo, se a criança tende a se isolar, precisando de um tempo maior para si, pode ajudar na sua integração, ao invés de impor algo forçado e, mesmo, prejudicial a ela. Para os terapeutas, poderia ser um trabalho consorciado de incrível alcance, pois o astrólogo consegue diagnosticar traços da personalidade infantil que, muitas vezes, demoram sessões e sessões de terapia para aparecer. Desta forma, esta integração poderia facilitar o atendimento e ampliar os resultados positivos.

AA – É cada vez mais comum a separação e o novo casamento dos pais, a formação de famílias multiparentais e, mais recente, a formação de casais homoafetivos com filhos adotados ou biológicos de um dos pais ou mães. Em casos assim, o que a interpretação da Carta natal da criança pode oferecer à família, para a dinâmica de bem preparar e apoiar a própria criança?
Camila Colaneri – A interpretação da Carta natal sempre ajuda, independente do tipo de família que se forma. Para a criança, o que vale é ter um ambiente constituído de amor, proteção e respeito, não importando sob qual condição seus pais se estabeleceram: se são dois homens, duas mulheres, se é adoção, se é mãe solteira ou uma família constituída de vários casamentos. A interpretação da Carta natal oferece para a família a percepção da criança sobre sua própria individualidade e sempre pode ser de grande auxilio em seu desenvolvimento emocional e cognitivo. Creio que quando alguém procura o astrólogo com a solicitação de que interprete a Carta de sua criança, ali já existe uma relação de amor, pois se está querendo perceber esta criança como um ser individual e buscando entender como auxiliar aquela particular criança neste mundo e dentro do seu contexto de família e história. Já é um grande passo de conscientização familiar.

AA – Por que, segundo você, “o atendimento infantil é muito delicado de ser feito e, ao mesmo tempo, muito relevante”?
Camila Colaneri – Delicado, porque o astrólogo está lidando com pais que têm suas próprias expectativas com relação aos filhos: eles também foram crianças, carregam memórias positivas e negativas, fazem projeções e trazem a bagagem familiar para o atendimento. É preciso olhar a Carta natal dos pais para ver como a abordagem pode ser mais bem realizada na entrevista de interpretação. Imagine uma mãe com Sol em Câncer que tem um bebê com a Lua em Aquário. Aquela mãe quer dar todo carinho e atenção, pegar seu bebê no colo a todo instante, mas o bebê pode ser mais sensível às vezes em que esta mãe se mantém mais distante. Então, o astrólogo tem de ter delicadeza para falar com a mãe sem magoá-la, ajudando-a a compreender que este bebê capta o emocional de maneira mais desprendida e que, se ela for mais “divertida”, mais amiga dele, talvez ele corresponda melhor do que se ela só ficar o tempo todo preocupada em dar comida e em “cuidar”.
E é relevante porque auxilia a entender a criança em sua individualidade, percebendo suas necessidades, suas dificuldades, seus pontos de talento e desenvolvimento, e as características de suas diferentes fases de vida. Como se diz por aí, “criança não vem com manual de instrução, mas a Carta natal pode ser o melhor GPS”.

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