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7 de nov. de 2014

A ASTROLOGIA MUNDIAL DENOTA AMPLOS FATORES COLETIVOS

Uma das características mais fascinantes – e intrigantes – da Astrologia é o fato de ela poder, com a mesma simbólica, se aplicar a variadas esferas da realidade, conforme o foco do interesse e a interpretação dos símbolos.
Assim, entre outras possibilidades, ela auxilia no diagnóstico ou prognóstico em nível pessoal (Astrologia Clínica psicológica ou médica), de negócios (Astrologia Empresarial), de inter-relacionamentos pessoais (Astrologia Sinástrica), de tendências de eventos (Astrologia Horária) ou de dinâmicas em nível muito mais amplo, por meio da especialidade intitulada Astrologia Mundial, ou Coletiva.
Astrologia Arquetípica entrevistou, a este respeito, o astrólogo, escritor, editor e historiador Rui Sá Silva Barros*.



















AA - O que caracteriza (e diferencia) a Astrologia Mundial, ou Coletiva, no conjunto das variadas especialidades astrológicas?
Rui Barros: A Astrologia Mundial trata de entes coletivos ou jurídicos, como países, regiões e cidades. Pode estudar períodos da História política, econômica ou cultural. Para isso, Usa cartas natais, utiliza Trânsitos ou Progressões e considera ingressos solares e eclipses, como em geral se faz com Cartas natais pessoais. Atualmente a Astrologia Mundial lida com fenômenos bastante abrangentes, como a economia mundial e guerras generalizadas, e isto é um problema, pois muitas vezes não temos dados mais precisos para o levantamento dos Mapas e a boa definição dos eventos. Um exemplo recente: para compreender o que se passa na Ucrânia é preciso consultar as Cartas da Rússia, União Europeia e EUA, além da própria Ucrânia, é claro. O Índice Cíclico Planetário, de André Barbault, com base nos cinco Planetas lentos (Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão), oferece um indicativo razoável de momentos de crise, mas é insuficiente para discernirmos de qual crise se trata e exatamente onde vai ocorrer. A sinastria entre Mapas de países também é possível.

AA – As bases da Astrologia Mundial também vêm dos babilônios, como a Astrologia mais costumeira que conhecemos?
Rui Barros: Sim. Durante dois mil anos os mesopotâmicos anotaram os presságios astrológicos para guerras, meteorologia, ascensão e queda de reis. Davam grande importância à Lua, sua cor, luminosidade, halos e manchas. Não havia ainda um sistema de Casas astrológicas e o ciclo de Júpiter, de 12 anos, era acompanhado com detalhes. O primeiro Mapa individual foi feito perto do começo da Era cristã é já apresentava o Ascendente, mas, não, o Sistema de Casas. No site do Instituto Warburg, associado à Universidade de Londres, é possível encontrar muito material sobre o tema. A Astrologia que praticamos atualmente, com Elementos, Planetas regentes ou exaltados, Sistemas de Casas, etc, é uma herança grega e árabe. Na Antiguidade, a Astrologia era parte da Cosmologia, do saber dos mundos e da qualificação do tempo, e no Século VI antes de Cristo ela se tornou um saber especializado vendido em praça pública.

AA – O axioma convencional supõe que os diferentes corpos celestes influenciam, cada qual de uma maneira, o comportamento pessoal ou os eventos na vida de alguém. Como isto é visto na Astrologia Mundial, no tocante aos fenômenos na esfera coletiva?
Rui Barros: O problema é o mesmo para qualquer ramo da Astrologia. Eu pessoalmente não penso que gravidade ou eletromagnetismo expliquem o funcionamento da Astrologia; o problema é metafísico, isto é, além da Física. É uma questão que remete à constituição do ser humano e suas partes sutis, não sensoriais. Mas o tema é paradoxal, pois a localização espacial dos Planetas é essencial para a prática dos Trânsitos, o que nos remete a problemas espinhosos: por exemplo, como um Planeta pode em algum momento estimular uma configuração que já não existe no céu? Minhas pesquisas revelaram graus de determinação da Astrologia Mundial: ela é forte em Economia, média em Política, ou organização de conflitos, e fraca na avaliação da Cultura, que depende demais de iniciativas individuais. Quanto ao determinismo total, isto fica para os felizes portadores de TOC, que escolhem assassinar a dúvida!

AAA mais usual forma de utilização do saber astrológico é a orientada para diagnosticar ou prognosticar o comportamento de alguém e os eventos objetivos e subjetivos em sua vida. Neste sentido, pode ser dito que a Astrologia Mundial se orienta para compreender os movimentos de cada coletividade humana, como sob um “espírito do tempo”, ou zeitgeist?
Rui Barros: Temos aqui o tema das periodizações, e há várias registradas pela Historiografia, dependendo do assunto em tela. Em Astrologia podemos tomar um par de Planetas e acompanhar todo o ciclo entre uma Conjunção e a seguinte. Exemplificando, na Antiguidade, os astrólogos usaram muito o ciclo de 20 anos de Júpiter e Saturno, o mais longo, para eles, e notaram que a cada 200 anos as Conjunções entre estes Planetas caíam em Signos de um mesmo Elemento, Ar, Terra, Ar e Água, o que acaba formando um grande ciclo de 800 anos. Mas a Historiografia não conhece nenhuma periodização de 200 anos, do ponto de vista sociocultural, a não ser nos estilos arquitetônicos europeus: românico (terra), gótico (ar), renascentista (água) e barroco/clássico (fogo). Alguns tentam relacionar o ciclo de Júpiter e Saturno à história do capitalismo, mas eu acho isto desarrazoado. Estes Planetas se encontram há bilhões de anos e, de repente, produzem algo novo? Como com somente um par de Planetas não se faz muita coisa, esta afirmação soa bastante artificial.

AA – Como se inter-relacionam, na Astrologia Mundial, o que se sabe de um coletivo e de cada um de seus componentes? Digamos: um País e seus diferentes Estados?
Rui Barros: Os Municípios têm sua própria Carta natal, definida pelo que consideram ser as suas datas de fundação legal. No caso brasileiro, salvo exceções (Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Tocantins), a questão dos Estados é mais complicada, pois todos foram estabelecidos de uma só vez pela Constituição de 1891. O caso do Brasil é interessante, pois em alguns aspectos o Governo Federal é centralizador, mas há muito espaço para os governadores. Já os Municípios, vivem de pires na mão desde os tempos coloniais. A relação entre o Estado central (União) e os entes federados (Estados) pode ser pesquisada nas casas X e II do Mapa natal do país. Porque a Casa II? Ela é a quinta Casa a contar da Casa X, por derivação.


Rui Barros: Estamos vivendo uma fase crítica na vida humana e a Astrologia Mundial pode ser muito útil nesta conjuntura, ajudando a evitar o triunfo da barbárie.









AA – Os significados usuais das Casas astrológicas, em uma Carta natal, costumam se referir a identidade, valores, comunicação, lar infantil, filhos, etc. E na Astrologia Mundial, de modo resumido, como se estabelece a analogia das Casas?
Rui Barros: São os mesmos princípios e conceitos usados para os Mapas individuais, adaptados para os países. Numa pessoa, o Ascendente revela características do corpo e da aparência; então, num país isto se traduz pelo tamanho e características do território e população. A Casa II simboliza que recursos são usados na produção e sua magnitude (PIB). A Casa III denota a vizinhança (outros países), a comunicação, o ensino básico, a imprensa, o comércio varejista. E assim por diante. Tudo o que se refere ao Governo é visto a partir da Casa X, por derivação: assim, se a tendência à intensa centralização, no Brasil, é relacionada com a oposição entre Marte e Saturno na Carta natal brasileira, os recursos estão na Casa XI, que é a Casa II derivada da Casa X, os funcionários públicos são denotados na Casa III do Mapa natal, que é a sexta Casa a contar da Casa X, e assim por diante. Os manuais de Astrologia que tratam do assunto precisam ser atualizados, pois no mundo moderno e contemporâneo a divisão de trabalho criou inúmeras especializações de processos e instituições. Para maiores detalhes, sugiro a Introdução do livro A contente mãe gentil rumo ao bicentenário.

AA – Assim como na Astrologia voltada à Carta natal, na Astrologia Mundial trabalham-se também os Zodíacos Tropical e Sideral, que divergem entre si?
Rui Barros: No Ocidente trabalhamos com a Astrologia Tropical, mas eu costumo observar o deslocamento retrógrado do Ponto vernal para longos períodos e momentos de grande transformação. Por exemplo, a Revolução Industrial multiplicou a população humana e transformou o meio ambiente do planeta. Isto não pode se explicado somente pelo jogo planetário que se repete periodicamente, pois da repetição de um mesmo fato não pode sair coisa diferente. É consenso que a decolagem desta Revolução deu-se na década de 1780, época em que o Ponto vernal passou para o primeiro Decanato de Peixes e, agora, para a maioria dos astrólogos védicos, já está a 6 graus. Por estes cálculos, o triunfo do Cristianismo no Século IV, na época de Constantino, marca a passagem do Ponto vernal de Áries para Peixes. Já o acompanhamento dos desdobramentos da Revolução Industrial pode ser feito através dos Planetas: a conjunção de Urano e Netuno em 1821 marca a descoberta da indução eletromagnética, base de todos os nossos aparelhos atuais; a Conjunção de Netuno e Plutão, em 1891, marca a segunda fase da Revolução (petróleo, eletricidade, aço, química, máquinas etc.).

AA – É comum, em Astrologia Mundial, ouvir-se expressões como: “este país é regido por tal ou tal planeta”. Como se estipulam estas Dignidades, no caso de Regiões, Países, Estados ou Municípios?
Na Idade Média era comum atribuir-se um Signo para cada região ou reino, mas isto é uma simplificação total. No caso do Brasil, por exemplo, é preciso mencionar Aquário, Touro, Gêmeos, Virgem e Escorpião, além de Saturno, Mercúrio e Marte, para começar a soletrar características fundamentais. Verificamos, na Astrologia Mundial, uma tendência vinda da indústria do entretenimento, que é a de simplificar e nivelar por baixo. Assim, nas eleições ainda levantam Mapas de candidatos como se isto fosse uma corrida entre pessoas! É claro que não, há fatores coletivos em jogo e que podem ser seguidos no Mapa natal do país.  Falta uma metodologia de verificação, do que resulta uma proliferação de “eu acho”, originando uma cacofonia. Estamos vivendo uma fase crítica na vida humana e a Astrologia Mundial pode ser muito útil nesta conjuntura, ajudando a evitar o triunfo da barbárie.

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* Rui Sá Silva Barros publicou ‘O espelho partido’ (SP, Ágora, 1989). Defendeu a Dissertação de Mestrado “Tomando o céu de assalto. Esoterismo, Ciência e Sociedade” (USP, 1999) encontrável na biblioteca do site Clube do Tarô. Lançou, em coautoria com Ciça Bueno, “A contente mãe gentil rumo ao bicentenário. Volume 1: Império”, encontrável em www.clubedeautores.com.br  (2013). Escreve crônicas mensais no site www.clubedotaro.com.br



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