Em
meados de década de 1980 enfrentei a necessidade de metodizar a entrevista devolutiva,
para que a multiplicidade de informações oferecida pela Carta Natal pudesse compor
uma narrativa organizada em linguagem leiga (isto é, sem jargão astrológico) que
ordenasse as informações em um cenário roteirizado facilmente identificável e compreensível
pela pessoa atendida.
A
mente humana está a todo tempo engendrando e contando narrativas, quer para expressar-se,
quer para assimilar o que está sendo percebido. É assim que ela funciona.
Portanto,
quanto mais possível fosse apresentar as informações da Carta Natal dentro de
um ordenamento dinâmico que viesse das fases finais da gestação até a vida
adulta, passando pela infância e puberdade, mais fácil seria para a pessoa, depois,
aproveitar as informações no trabalho de autoconhecimento para reforma íntima
que estivesse desenvolvendo ou pretendendo desenvolver.
Em decorrência de minhas pesquisas, optei por estabelecer duas classes
distintas de conteúdos psíquicos que se revelam pela interpretação arquetípica da Carta Natal:
a. fatores psicodinâmicos inatos, que passei a denominar
“traços estruturais de personalidade”;
b.
fatores psicodinâmicos condicionados, que passei a denominar “traços conjunturais
de personalidade”, na medida em que passaram a vigorar por introjeção
de dados da conjuntura vivida pela pessoa quando criança, dadas as características
do ambiente de primeira infância.
Tais
diferentes classes de conteúdos psíquicos merecem abordagens distintas pelo indivíduo,
pois os traços estruturais, que são tipológicos, requerem “gerenciamento de aspectos
pessoais perenes”, ao passo que os traços conjunturais, por decorrerem de treinamento
por exposição a modelos paterno e materno, devem – e podem – ser alvo de “desprogramação” ou descondicionamento,
seja em terapia, seja em reforma íntima empreendida por si próprio.
Com
este método, por década e meia atendi pessoas interessadas em desvendar os mistérios
de sua personalidade, já que tudo decorre da mente: o que somos “aqui fora” em enorme
parte depende de como somos “lá dentro”.
Depois,
passei a atender indo ao encontro da pessoa e, adiante, passei a atender
apenas virtualmente, oferecendo relatórios escritos de interpretação elaborados
um a um, isto é, não por software, dada a delicadeza e a intimidade de cada
caso.
Se houve uma estrada pela qual a pessoa veio do nascimento até o momento presente
de sua vida, relembrar e ressignificar o já vivido, do mais remoto ao atual, seria facilitado
se fossem assinalados os principais pontos de referência para o caminho de
volta e a retomada de si, sobre os quais a pessoa poderia, então, se debruçar para
poder viver um hoje reformado para melhor.
Nisto,
busquei ecoar Jung:
"o simples conhecimento intelectual
não basta, pois só é eficaz uma rememoração que seja ao mesmo tempo vivenciada
de novo. Muitas coisas irresolvidas ficam para trás devido ao rápido escoar dos
anos e ao afluxo invencível do mundo que acaba de ser descoberto. Mas não nos
livramos destas coisas, apenas nos afastamos delas. Se muito tempo depois evocarmos
novamente a infância, nela encontraremos muitos fragmentos vivos da própria
personalidade, que nos agarram, e somos
invadidos pelo sentimento dos anos transcorridos. Esses fragmentos
permanecem num estágio infantil e por isso são intensos e imediatos. Só por
meio de sua religação com o consciente adulto poderão ser corrigidos, perdendo
seu aspecto infantil".
Ou,
como Fernando Pessoa poetou:
A
criança que fui chora na estrada.
Deixei-a
ali quando vim ser quem sou.
Mas
hoje, vendo que o que sou é nada,
quero
ir buscar quem fui onde ficou.
No
desenvolvimento de um modelo de estrutura narrativa eficiente para apresentar por escrito
a interpretação da Carta Natal segundo a Astrologia Arquetípica, fui auxiliado
pelo fato de ser jornalista e ter atuado nas três principais
funções da imprensa escrita (repórter, redator e editor), enquanto treino de
desenvolvimento de competências complementares: coleta de informações, tradução
das informações em redações concisas e disposição dos conteúdos redigidos em
narrativas gerais contextualizadas.
E de ser escritor, o
que facilitou quando por fim passei a interpretar apenas por escrito
(graças à Internet): tendo os dados natais da pessoa, ao invés de recebê-la para
duas ou três horas de entrevista pessoal passei a enviar um relatório de interpretação
para depois responder, também por escrito (e-mail), a dúvidas surgidas ou necessidade
de esclarecimento adicional.
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