(Parte 4)
Edgar Morin, o brilhante
pensador contemporâneo francês que vem desenvolvendo desde a década de 1970 o
Pensamento da Complexidade, foi claro em Introdução
ao Pensamento Complexo: a
ciência se baseia ao mesmo tempo no consenso
e no conflito. Anda ao mesmo tempo sobre quatro patas independentes e
interdependentes: a racionalidade, o empirismo, a imaginação, a verificação. Há
conflito permanente entre racionalismo e empirismo; o empírico destrói as
construções racionais que se reconstituem a partir das novas descobertas
empíricas. Há uma complementaridade conflituosa entre a verificação e a
imaginação. Enfim, a complexidade científica é a presença do não científico [o
postulado] no científico [que exige comprovação
ou refutação], o que não anula o
científico; ao contrário, lhe permite exprimir-se.
Em decorrência, como
ele ensinou em O Método 2 – A vida da
vida, o pensamento complexo deve
ultrapassar as entidades fechadas, os objetos isolados, as ideias claras e
distintas, mas não deve deixar-se encerrar na confusão, no vago, na
ambiguidade, na contradição (...) A sua exigência lógica deve, portanto, ser
muito maior do que a do pensamento simplificador, já que se bate
permanentemente numa “no man’s land”, nas fronteiras do dizível, do concebível,
do a-lógico e do ilógico.
Afinal,
segundo ele, há a necessidade de uma
formidável infraestrutura conceitual e de uma formidável estrutura teórica para
conceber abstratamente a mínima parcela concreta de vida.
Com
isto em vista, eu venho propondo que o desenvolvimento conceitual da Astrologia
Arquetípica, enquanto meta-Astrologia e no tocante ao seu perfil de especialização
associado às Ciências do Comportamento, decorra do trabalho articulado de
várias áreas de saber, de modo a tornar-se conhecimento de interesse científico:
Astrologia
ocidental, arábica, chinesa ou Jyotisha
védica, hindu? Astrologia Clínica, Eletiva, Empresarial, Horária, Médica,
Mundial ou Vocacional? Cada qual existe por ter sido posto sob escrutínio um
específico aspecto da existência manifesta, com os símbolos de uma peculiar cultura
e de acordo com o perfil pessoal, as
preferências, as possibilidades e o tipo de preparo do estudioso.
Embora
sejam várias, as Astrologias, e cada qual em seu feitio, todas se afirmam
capazes de descrever, com maior ou menor grau de acerto, uma mesma realidade
que se queira diagnosticar (e ou prognosticar), seja coisa, evento ou pessoa.
Mesmo sendo variadas, parecem apontar o mesmo.
Contudo,
como se apoiam em típicas produções culturais, dada a sua natureza simbólica
não há como, e nem se deve pretender, reduzi-las a uma única, ou principal, o
que seria necessário para haver consistência e replicabilidade universal (no
sentido estrito de válido em qualquer local, época ou sociedade) na explicação
do que todas elas apontam, na compreensão de como o fazem e na utilização mais
plena e generalizada de sua potencialidade informativa.
Apenas
um olhar que veja do alto, busque padrões comuns recorrentes e não se detenha
em particularidades, embora as reconheça e considere, pode conseguir ver o que seja
o fundamento comum de tal variedade de formas.
O que parece
poder associar estas tantas especialidades, por mais que sejam distintas em sua
técnica e forma de expressão?
O
simbolismo arquetípico, que em todo local e época (embora com símbolos e
sintaxes típicas) parece descrever e apontar fatores imateriais e não temporais
cocausadores da existência manifesta, e por meio do qual (o simbolismo) certas características
potenciais da existência se deixam revelar a quem souber interpretá-lo.
Ainda
avançando na elaboração de seu modelo epistêmico, ou de conhecimento, a Astrologia
Arquetípica se propõe como um possível sistema conceitual meta-Astrológico,
buscando alcançar categorias mais precisas e uniformes de conhecimento descritivo
que sejam associáveis à multiplicidade de conjuntos simbólicos e procedimentos técnicos
de definição dos fatores de cocausação da existência, pelas diferentes
Astrologias, mesmo as respeitando em suas particularidades simbólicas ou
técnicas, ao mesmo tempo em que gerar condições mais estáveis para
conceituação, testagem e validação de suas afirmações, por não se tratar de
crença, mas, sim, de conhecimento.
Podendo,
com isso, ajudar na expansão do nível de consideração, em campos convencionais
de conhecimento científico, da validade das descrições fenomênicas propiciadas
pelas diferentes técnicas e linguagens astrológicas, e apoiar o avanço de
pesquisas ou experiências controladas que enriqueçam o próprio acervo de fatores-símbolos
e significados das Astrologias, beneficiando-as e aos seres humanos aos quais
elas servem.
A
Astrologia Arquetípica tem por propósitos:
§
auxiliar no estabelecimento de pontes conceituais
entre as Astrologias e noções contemporâneas da Física de Partículas, da
Biologia, das Neurociências, da Psicologia e da Semiótica;
§
auxiliar no estudo dos significados comuns a todas
as Astrologias, com base no estudo dos arquétipos humanos e de um corpo de
Ciências correlatas, em uma proposta meta-Astrológica que ajude a aprimorar a
compreensão da base comum de significado de várias Astrologias;
§
auxiliar na elaboração de metodologia que permita a
comprovação das afirmações das Astrologias e sua inserção entre os campos de
interesse científico, como tecnologia, para novas e melhores pesquisas.
Pois
penso ser mais do que chegada a hora em que a Astrologia decida assumir declaradamente
o papel que lhe pertence no conjunto dos saberes e fazeres de interesse
científico, contribuindo com todos os campos de conhecimento graças a sua
possibilidade de interpretar símbolos arquetípicos que, em caleidoscópicos
arranjos semânticos, denotam a parcela
da existência que se quiser conhecer melhor, seja qual for.
Como Edgar Morin disse em Ciência com consciência, a ciência é, e continua a
ser, uma aventura. A verdade da ciência não está unicamente na capitalização
das verdades adquiridas, na verificação das teorias conhecidas, mas no caráter
aberto de aventura que permite, melhor dizendo, que hoje exige a contestação
das suas próprias estruturas de pensamento (...) Talvez estejamos num momento
crítico em que o próprio conceito de ciência se esteja modificando.
Para um
panorama como este é que parece apontar a emersão vigorosa da chamada Nova Ciência,
que pode se tratar, de fato, de um tipo de saber multiparadigmático e dialógico
que articule de modo fecundo diversas especialidades já existentes sem roubar
especificidade a nenhuma, mas também sem deixar a alguma a supremacia delirante
– basta só eu! basta só eu! –, salvo a necessária preeminência no momento mesmo
da intervenção objetiva, a qual costuma exigir preparo específico adequado,
seja médico, psicólogo, gestor, professor ou outra especialidade produtiva
qualquer.
Oxalá
se consiga!
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