Em
seus estudos Jung interessou-se pela Astrologia como recurso de descrição das
dinâmicas psíquicas inconscientes e de seus desdobramentos comportamentais,
sejam as conflitivas, sejam as que sugerem potenciais.
Um
dos primeiros indicadores deste interesse está em uma carta escrita por ele a Sigmund
Freud em junho de 1911, na qual relata: “minhas
noites estão sendo ocupadas com a Astrologia (...) Até agora consegui algumas
coisas notáveis que lhe parecerão totalmente inacreditáveis (...) Parece, por
exemplo, que os signos do zodíaco são figuras caracterológicas, isto é,
símbolos da libido que representam as qualidades típicas da libido”.
Bem
adiante, em 1947 ele escreveu ao indiano B. V. Raman: “como psicólogo, interesso-me principalmente na luz particular que o
horóscopo lança sobre certas complicações caracterológicas. Em casos de
diagnóstico psicológico difícil, geralmente utilizo um horóscopo para ter um
ponto de vista adicional, de um ângulo totalmente diferente. Devo dizer que
muitas vezes descobri que os dados astrológicos elucidavam certos pontos que de
outra forma eu não teria sido capaz de entender. De tais experiências, formei a
opinião de que a astrologia é de particular interesse para o psicólogo”.
E, em
1951, estabeleceu em Aion – Estudos
sobre o simbolismo do Si-mesmo: “o
significado fundamental do horóscopo é que, ao mapear as posições dos Planetas
e suas relações entre si (Aspectos), junto com a distribuição dos Signos do
Zodíaco (...), ele fornece uma imagem, primeiro do psíquico e, então, da
constituição física do indivíduo. Ele representa, em essência, um sistema das
qualidades originais e fundamentais do caráter de uma pessoa e, portanto, pode
ser considerado um equivalente [simbólico] da psique individual”.
Por
esta razão, em 1991 escrevi em Astrologia
Clínica, um método de autoconhecimento que “até mesmo entre os estudiosos de Astrologia ou de Psicologia não costuma
haver uma compreensão mais bem organizada de como estes dois vastos campos de
conhecimento se interpenetram e enriquecem-se mutuamente. A Astrologia,
oferecendo instrumental de detecção [e descrição] do que ocorre no interior da
psique e, por consequência, na vida objetiva e subjetiva da pessoa; a
Psicologia, oferecendo explicações conceituais sobre o dinamismo mental e a
origem dos conteúdos da psique, atribuindo sentido e categorias descritivas
mais precisas àquilo que o astrólogo percebe por meio do conjunto de símbolos
que utiliza. Pense bem: é uma bênção dispor de um instrumento que propicie
clara percepção do que ocorre nos desvãos do inconsciente, aos quais nem a
consciência da própria pessoa tem acesso: isto, a Astrologia Clínica
proporciona. Mas é igual bênção dispor de um arcabouço conceitual que propicie
entender melhor, e como encaminhar de modo mais adequado, o que é então
percebido: isto, a Psicologia oferece”.
Na primeira parte do que eu disse: “clara percepção do que ocorre nos desvãos do inconsciente”, referia-me à descrição que é possibilitada pela Astrologia em seu exercício de retratar a base originária e as dinâmicas específicas da psique de alguém. Na segunda parte: “arcabouço conceitual que propicie entender melhor, e como encaminhar de modo mais adequado”, referia-me ao pensar e fazer próprios das psicoterapias (seja terapia profunda, breve ou de aconselhamento), para os quais o psicólogo (ou psiquiatra) é preparado, independente da Escola de Psicologia ou método de intervenção e técnica que adote em seu dia a dia de atendimento psicoterapêutico.
Segundo minha prática pessoal, exercida desde os anos
1980, tanto o psicoterapeuta quanto o paciente se beneficiam grandemente de uma
descrição psicodiagnóstica com base em interpretação de Carta Natal astrológica,
ao ajudá-los a descrever com mais clareza e precisão a paisagem inconsciente de
caraterísticas e memórias que reside na psique do paciente desde a primeiríssima
infância, e influencia sua memória e vontade sem que a consciência o saiba,
possibilitando ao paciente, com o apoio do psicoterapeuta, uma atuação
inteligente e decisiva sobre o seu panorama interno (e desdobramentos
comportamentais) a partir dos valores ético-morais que adota, buscando se
reformar intimamente para melhor.
A isto me proponho, também: ao trabalho conjunto com psicoterapeutas, independente da Escola ou do método que adotem, gerando para eles material cognitivo sobre a psique de seus pacientes, que permita potencializar os resultados de atendimento terapêutico que esteja em curso ou por se iniciar.
Meu trabalho, no que concerne ao uso da Astrologia para identificação e descrição de dinâmicas ideo-afetivas e emocionais, pode ser realizado também no caso de se tratar de relações interpessoais, indo além, então, de uma pessoa isolada: o paciente. Para psicoterapeutas que trabalhem com aconselhamento ou terapia familiar, a Astrologia Arquetípica oferece a possibilidade de identificar e descrever as dinâmicas inconscientes, inatas e ou condicionadas, que se estabelecem entre as pessoas envolvidas e costumam presidir a relação existente entre elas, no que diz respeito a dinâmicas conflitivas e à estimulação de potenciais.
É um enorme e riquíssimo conjunto de possibilidades.
Os estudos de Luiz Carlos Teixeira de Freitas sempre profundos. Vale a pena ler seus artigos sobre astrologia.
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