Comentando meu último post, A aproximação entre Planetas que jamais acontece, enviaram-me e-mail informando que mencionei nele, como exemplo, a
estrela Nashira, da constelação de Capricórnio, embora ela de fato apareça no
Signo de Aquário. E que não tenho base para afirmar que a Astrologia não se
refere a energias de planetas, pois não há como provar a inexistência de tais
energias.
Absolutamente correta, a observação, e
nos dois itens comentados, levando-me a querer escrever o que vai aqui.
De fato, dada a diferença cósmica entre
o Zodíaco Tropical, que é o mais usualmente adotado por nós, e a posição das
estrelas no cosmo (por nós chamadas de “fixas”, inda que vão se movendo no
decorrer do tempo), mesmo compondo a constelação de Capricórnio a estrela
Nashira hoje em dia é vista por volta de 21 graus do Signo de Aquário.
Isto ocorre porque tudo se move no
cosmo, embora de modo lentíssimo (do nosso ponto de vista), enquanto o Zodíaco
é imaginado como sendo imóvel sobre a Eclíptica.
Por distração, ao redigir o post escolhi
uma estrela segundo a constelação e, não, de acordo com o Signo, embora eu
estivesse me referindo ao Signo de Capricórnio e à Conjunção tríplice
Júpiter-Saturno-Plutão que nela vai se verificando em 2020. E, como se sabe,
constelações e Signos são coisas diferentes, embora as constelações tenham
dado base parcial, há cerca de 2.500 anos, para a elaboração simbólica dos
Signos do Zodíaco.
Escolhi então, agora, uma estrela que atualmente
se localiza por volta de 13 graus do Signo de Capricórnio (embora, de fato, ela
componha a constelação de Sagitário): Ascella.
Deixe-me saltar, então, para o segundo item, e a seguir voltarei ao assunto da estrela.
Penso que não fui bem entendido: em trecho algum do post afirmo que não
existem energias de planetas. O
que sempre disse e continuo afirmando é que, existam ou não estas energias, não é com base em cálculo de energias de Planetas que a Astrologia funciona nem é a qualquer tipo de energia de Planetas que a Astrologia se
refere. Enquanto se continuar a dizer assim, não se avança no grau de aceitação
da Astrologia fora dos círculos astrológicos e nem na pesquisa do que realmente
acontece e lhe dá efetividade como método de detecção por denotação.
E por que não afirmo inexistirem tais energias dos Planetas? Como bem disse
quem escreveu para mim, porque não há provas cabais de sua inexistência – já
que ausência de evidência não é evidência de ausência, pois pode haver uma
variável oculta, isto é, não conhecida.
Em um mundo no qual a quase totalidade
do que existe no cosmo parece ser matéria
e energia escuras, as quais, mesmo sendo não identificáveis (e por isso são
chamadas de escuras pela Astrofísica),
são hipotetizáveis em termos matemáticos frente ao que já se conhece e
compreende, pode até haver energias emitidas pelos corpos siderais que desconheçamos.
Isso é bastante improvável, porém, já
que os astros são de dois tipos: os luminosos, que emitem energia, como as
estrelas, e os iluminados, como planetas, satélites e asteroides, que apenas
refletem a luz vinda de estrelas (o que ocorre, inclusive, com os cometas).
Sendo assim, já que os Planetas do
sistema solar são corpos de matéria inerte ou aglomerados ainda gasosos que um
dia talvez virem matéria sólida, mas sem as monumentais reações enérgicas de nucleossíntese
(fusão nuclear) que ocorrem nas estrelas, que tipo de energia os Planetas poderiam
emitir, além da força gravitacional que atua em tudo o que há no universo e de
campos eletromagnéticos que os planetas tenham, alguns muito intensos, como Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno, e outros, muito fracos, como no caso de Mercúrio e
Vênus? Marte, nem tem e, sobre Plutão, não se sabe.
E mesmo que emitam energias ainda não
conhecidas, o que faz supor que cada Planeta o faria de modo todo
característico, como se costuma afirmar? É muito inverossímil...
Há que se ir adiante e, para isso, penso
no “Efeito Marte”. Este assunto, que remete às extensas pesquisas feitas no
correr da década de 1950 pelo estatístico e psicólogo francês Michel Gauquelin
e sua esposa, Jacqueline, é interessante.
Gauquelin, como resultado de seu
trabalho, em 1955 afirmou em Influências
cósmicas sobre o comportamento humano:
“No fim das contas, havia uma relação
estatística cada vez mais sólida entre o momento do nascimento de grandes homens
e seu sucesso profissional [...] Tendo coletado mais de 20 mil datas de
nascimentos de celebridades profissionais de vários países europeus e dos
Estados Unidos, tenho que chegar à conclusão inevitável de que a posição dos
planetas no momento de nascer está ligada ao próprio destino. Que desafio para
a mente racional!”
Ocorre que ele centrou parte importante de sua pesquisa na posição de Marte nas Cartas Natais estudadas e em 1992 Suitbert Ertel, também estatístico e Professor Emérito de Psicologia na Universidade alemã de Göttingen, que se dedicava a estudar fenômenos que não podiam ser explicados pelas teorias científicas mais usuais sobre a mente, resolveu analisar melhor o assunto.
Em decorrência, embora não tenha abalado
a solidez do que o trabalho de Gauquelin demonstrara, pelo estudo da posição
cósmica de Marte nas datas estudadas Ertel demonstrou que não cabia falar em energias do Planeta Marte, já que o “efeito”
pressuposto por Gauquelin independia de Marte estar atrás do Sol ou entre o Sol
e a Terra, da distância de Marte em relação à Terra (com variação de até sete
vezes) e de alterações da posição cósmica de Marte segundo a Ascensão Reta ou
Declinação, que em termos cósmicos equivale ao sistema terrestre de coordenadas
(Longitude e Latitude), respectivamente.
Enfim, segundo Ertel concluiu, o trabalho de Gauquelin parecia indicar alguma outra coisa que, não, energia...
Mas há mais do que isso.
Variados procedimentos de cálculo da
Astrologia não dizem respeito a corpos siderais com existência material, e isso
apreendi logo depois que a Astrologia entrou na minha vida. Por exemplos, é
assim com os Nodos Lunares Norte e Sul, é assim com Lilith, e é assim também com
a Progressão Secundária, seja a da Lua ou de Planetas.
É tudo imaginação, estruturada em termos
matemáticos e expressada em termos culturais.
Por fatos assim, e outros, já em 1989 eu afirmava no meu primeiro livro sobre o assunto: “[...] parece-me inegável que não há influência energética dos ‘astros’ sobre nós, ao menos não da forma como preconizada pela Astrologia”.
Neste sentido, veja o que disse Dane
Rudhyar, o marcante astrólogo franco-americano que estabeleceu as primeiras
pontes conceituais entre a Astrologia Ocidental e a Psicologia, notadamente por
conta de ter entrado em contato, em 1930, com a obra então nascente de Carl
Gustav Jung.
Em A
Astrologia da personalidade, ele afirmou:
“A
Astrologia, por si, não significa nada mais do que a álgebra. Ela [estabelece
e] mensura as relações entre símbolos, cuja concretude é inteiramente uma
questão de convenção [...] Assim como os símbolos da álgebra, x, y e n, são
meras convenções. Em outras palavras, o reino astrológico dos corpos celestes
em movimento é como o reino das proposições lógicas. Nem um nem outro têm conteúdo real. Ambos são puramente formais,
simbólicos e convencionais” (colchetes e itálicos meus).
Nicholas Campion, um dos grandes
especialistas europeus em Astrologia Mundial, foi Presidente da Associação
Astrológica da Grã-Bretanha e é Diretor do Sophia Center para o Estudo da
Cosmologia na Cultura, em Londres, Diretor do Mestrado em “Astronomia Cultural
e Astrologia” da Universidade do País de Gales Trinity Saint David (Reino
Unido) e fundador e editor da revista Cosmos
and culture.
Em seu livro Astrology and Cosmology, ao relatar e analisar como a Astrologia
foi elaborada no decorrer de variadas culturas, já que todas as culturas conhecidas
tiveram alguma forma de Astrologia, Campion afirma:
“A astrologia supõe que
exista uma relação significativa entre as estrelas ou planetas e assuntos da
Terra. A partir deste princípio simples, desenvolveram-se todas as muitas
formas de astrologia praticadas ou estudadas em todo o mundo. A palavra é
derivada do grego astron (estrela) e logos. Logos é simplesmente traduzido como
‘palavra’; então, a astrologia é a ‘palavra’ das estrelas: as estrelas ‘falam’
[...] Como linguagem, a astrologia fala em símbolos. Ela se baseia na
metonímia, usando uma palavra para significar outra, de modo que, quando os
astrólogos ocidentais modernos pronunciam a palavra ‘Marte’, seus colegas ouvem
as palavras ‘raiva’, ‘perigo’ e ‘energia’. Quando a astrologia diz ‘Vênus’, é
código de amor, paz e desejo ou, na cultura asteca e maia, guerra e violência.
Alguns dos adeptos modernos da astrologia afirmam que sua linguagem é universal,
o que claramente não é [...] A aparência física dos corpos celestes e a medição
matemática de seus movimentos aparentes não são negociáveis, mas, além da medição das influências solar e
lunar, todos os outros aspectos da astrologia são locais e específicos da
cultura” (itálico meu).
Com
isso, lembrando que diferentes povos (e culturas) viram diferentes constelações
no céu (a do Cruzeiro do Sul não é vista na Europa e a da Ursa Maior não é
vista na América do Sul), volto à estrela Ascella, à Astrologia Ocidental e ao
Signo de Capricórnio.
Lá
no alto, bem no alto, está o Signo de Capricórnio no Zodíaco imaginado,
concebido há 2,5 milênios pelos mesopotâmios sobre a Eclíptica.
Como
a Eclíptica está a cerca de 149,6 milhões de quilômetros da Terra (distância
média Terra-Sol), penso poder assumir que o Zodíaco, que de fato não existe
materialmente, é como se estivesse nesta exata distância de nós – mas, em
verdade, ele poderia ser imaginado a apenas um quilômetro e daria absolutamente
no mesmo.
Muito
acima, quatro vezes mais acima, está Júpiter a 628,7 milhões de quilômetros e,
outras quatro vezes mais no alto ainda, a 1,2 bilhão de quilômetros, está
Saturno.
Mas,
repare: apenas porque, para nós que vivemos na Terra, a luz vem “de cima”, é
que dizemos “acima” ou “mais no alto”, pois, de fato, pode ser em qualquer
direção no cosmo a partir do planeta Terra.
Estamos
aqui no solo terrestre e, no trecho do Zodíaco imaginado a que nos habituamos a
chamar “Signo de Capricórnio”, calculamos matematicamente no céu os pontos
luminosos de Júpiter, de Saturno e de um terceiro astro, que chamamos Plutão e
está a quase incríveis 5,7 bilhões de quilômetros, o qual só se vê com
telescópios, de tão fraquinha é a luz que ele reflete do Sol, dada a
imensíssima distância do centro do sistema solar.
Eles
parecem estar atravessando o cosmo, todos juntinhos e na mesma “janela de observação”
que é o Signo (atualmente, o de Capricórnio), mas de fato são apenas os seus
pontos luminosos que parecem encostar uns nos outros, do ponto de vista calculado
a partir da Terra, a despeito de que os próprios astros continuem mantendo as
mesmas distâncias enormes mencionadas logo atrás, cada qual em um certo setor
do espaço cósmico.
Mais espantoso ainda: Ascella está a 847 trilhões de quilômetros, ou 5,6 milhões de vezes a distância da Terra à Eclíptica e, matematicamente, está no mesmo Signo de Capricórnio no Zodíaco imaginado sobre ela, embora componha no céu a constelação de Sagitário e se mova cerca de um grau geométrico de Signo por século.
Tudo
isso junto, quando em comparação com o que veio se documentando na Terra por
milênios (os primeiros registros organizados e conhecidos de “coincidências”
verificadas entre fenômenos terrestres e ocorrências siderais são datados de vários
séculos antes de nossa Era), é o que levou a interpretar as ocorrências
terrestres como sendo decorrentes dos efeitos de eventos cósmicos (e zodiacais),
que são apenas o padrão referencial do que ocorre na Terra mas são imaginados
como sendo fontes de pressupostas energias determinantes.
É
tudo metáfora ou metonímia.
Não
é magnífica a capacidade semiótica da mente humana, que estabeleceu
significantes perenes e estáveis com múltiplos e variáveis significados
(Planetas, Signos e Aspectos), conformes aos padrões de eventos recorrentes ou
periódicos observados no céu (e, mais tarde, no Zodíaco) e às coincidências, no
tempo, com o que se via ocorrer aqui na Terra, seja em coisa, evento ou pessoa?
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