No início de agosto de
2015 a Escola de Astrologia Gaia realizou a “XVI Astrológica” na cidade de São Paulo, com três dias de palestras
e debates entre astrólogos, estudantes de Astrologia e interessados no tema.
Entre os
palestrantes esteve a Mestre em Direito, Psicanalista e Astróloga Camila
Colaneri, cujo tema capturou minha atenção: “Vênus e Marte no mapa de crianças”.
Mantendo-se focada
no uso da Astrologia como recurso de orientação psicopeda-gógica para a
desafiadora tarefa de criar filhos, Camila realçou um aspecto da Astrologia que
poucas vezes é destacado: mais do que recurso para “prever futuro” (será médico?
será bailarina? terá problemas de saúde? vou ter netos?), a Astrologia é preciosa
ferramenta para lidar com o presente imediato da criança, desde bebê.
Ampliando as chances
de ser feito o que é o mais adequado para a própria criança, independente da
história dos pais e de seus desejos, em geral projetados nos filhos e
interferindo (nem sempre positivamente) nas dinâmicas do bem educar.
Camila Colaneri: Saber como a criança percebe o mundo e responde a ele é
fundamental para gerar e oferecer os estímulos mais adequados à própria criança.
AA –
Quais principais aspectos infantis podem ser identificados e descritos pela
interpretação da Carta natal?
Camila Colaneri – A interpretação astrológica permite entender, em termos gerais, mas profundos,
como a criança forma seu pensamento, como elabora seus sentimentos e como lida
com suas emoções, o que dá preciosos indicadores de como lidar com ela e apoiar
suas tarefas de crescimento. Isto se estende aos aspectos comportamentais, já
que a Carta natal informa se a criança é mais Extrovertida ou Introvertida,
ativa ou passiva, dependente ou independente, eufórica ou melancólica, e assim
por diante. Esta interpretação requer desde a análise da distribuição de
Elementos na Carta, para definição de Temperamentos, até a avaliação da Carta natal
como um todo.
AA – Para quem já estuda ou pratica
Astrologia, você poderia resumir os principais fatores simbólicos da Carta
natal que devem ser observados?
Camila Colaneri – Insisto: é preciso, sempre, olhar o todo!
Mas dá para salientar principais pontos. Pela análise dos Elementos,
verifica-se o temperamento da criança. O Ascendente indica o primeiro olhar
sobre o mundo e o nascimento. A Lua indica o padrão de necessidades emocionais,
a nutrição e a relação com a mãe. O Sol aponta o padrão de Ego e de elaboração
da identidade, assim como o pai. Mercúrio denota os modos naturais de
aprendizado e comunicação, naquela criança, Júpiter sinaliza suas formas de
expansão e busca de oportunidades, em contraste com Saturno, que costuma
apontar os principais desafios e os pontos de disciplina. Urano denota o jeito
de expressão de originalidade e busca de autonomia. Netuno nos fala da
capacidade de inspiração e busca de transcendência – sim, a criança já vive
isto –, e Plutão sinaliza as práticas de exercício de poder e de
estabelecimentos de vínculos. Quanto às Casas, é necessário analisar a I
(autopercepção), a III (irmãos/amiguinhos), IV (estrutura geral do lar), V
(padrão expressivo de identidade) e VI (dinâmicas corporais predominantes). É
importante, também, identificar os Trânsitos sobre os principais pontos da
Carta natal a cada fase.
AA – A
partir de qual idade da criança os pais se beneficiam da interpretação
astrológica de sua Carta natal?
Camila Colaneri – Desde o nascimento. Consegue-se perceber pela situação da Lua na
Carta natal, por exemplo, como a nutrição se dará, como a criança perceberá a
mãe, como o contato entre mãe e bebê se estabelecerá, como foram os momentos do
parto e como isto já pode estar influenciando a criança. Claro, que os três
primeiros meses de vida do bebê são muito intensos, tanto para ele, que está
lutando para sobreviver em um meio desconhecido, como para a mãe, que está
tentando se encaixar em um novo paradigma. Mas os benefícios da interpretação
astrológica já podem ser sentidos desde o início da vida da criança.
AA – Aspectos
psicoemocionais dominantes costumam ser vividos projetivamente por meio de
ritos pessoais (ou “comportamentos habituais”). No caso de crianças, também nas
brincadeiras. Pode dar alguns exemplos de como isto se verifica em uma criança,
conforme indicam os dados de sua Carta natal, e explicar como saber tal coisa
pode ajudar os pais na boa utilização e orientação dos potenciais da criança?
Camila Colaneri – Para pegar o tema da minha palestra, a posição do planeta Vênus por
Signo, por exemplo, permite ter claro como aquela criança significa para si
mesma o dar e receber afeto, quais são as situações que lhe dão mais prazer, o que
ativa seus desejos e o que ela valoriza. Isto torna possível identificar do que
ela gosta de brincar. Veja o caso de uma criança com Vênus em Câncer.
Provavelmente ela gostará de brincar de casinha ou de fazer comidinha, ou algo
que simbolize isto, no caso de um menino, pois tem o “cuidar” como importante forma
de valor. Então, esta seria uma boa sugestão para os pais, ou mesmo um
terapeuta, sobre como ajudar aquela criança a se expressar brincando. Por sua
vez, identificar o ambiente em que ela está inserida e como ela capta sua
atmosfera familiar, olhando a Casa IV e a Casa VI, pode indicar que tipo de
ambiente lhe seria mais familiar, para que ela sinta mais segurança em suas
manifestações. E olhar a Lua seria bem interessante, pois indica o jeito natural
da criança de expressar suas emoções.
AA – Em
geral, os pais se preocupam com saúde corporal e boa alimentação. O que a
interpretação da Carta natal oferece, no tocante a estes temas?
Camila Colaneri – Pela Carta natal podemos observar as questões de saúde, sim, olhando
Ascendente, Sol e Casa VI, para verificar quais são os pontos mais vulneráveis
daquela criança e quais cuidados devem, então, ser adotados. Por exemplo, uma
criança com mais Elemento Ar na Carta natal pode ter tendência a vulnerabilidade
no sistema respiratório. Indicar isso aos pais já auxilia na prevenção, pois
podem evitar ter em casa, por exemplo, carpetes e outros objetos que acumulem
poeira. Os aspectos nutricionais também são muito relevantes e, neste caso,
costumo olhar a Lua, pois ela se relaciona à informação sobre o que nutre a
criança, e também o planeta Vênus, que pode apontar que tipo de alimentação
dará mais prazer à criança. Por exemplo: uma criança com Lua em Áries pode não
ter muita paciência para se alimentar, mas se tiver uma Vênus em Touro, pode
gostar de alimentos com paladar mais marcante e apresentar forte tendência a
gostar de doces.
AA –
Em que medida o ambiente infantil da criança, e por extensão a relação entre os
pais e de cada um destes com ela, costuma estar refletido na Carta natal da
criança? Em quê, ajuda saber isto?
Camila Colaneri – Saber como é o ambiente da criança é essencial para perceber como ela
irá reproduzir no ambiente externo o que percebe em casa. Se, por exemplo, a
criança tem uma Vênus bem posicionada na Casa IV, provavelmente o ambiente doméstico
lhe é agradável e ela pode até ter dificuldade de querer sair de algo que lhe é
tão prazeroso. Pode, então, gostar de ficar em casa, de trazer os amigos para o
seu universo particular e de cultuar a família. Já uma criança que tenha Urano
na Casa IV pode sentir seu ambiente doméstico como um lugar mais agitado,
impessoal e propício a mudanças repentinas. Assim, esta outra criança pode
gostar de ficar fora de casa e de sair mais, já que seu ambiente doméstico não
lhe propicia o sentimento de acolhimento. Interpretar o Sol, a Lua e as Casas
III, IV, VI e X, por sua vez, ajuda a ver como a criança percebe e sente pais e
parentes: com quem tem mais afinidades, com quem tem mais dificuldades, qual o
papel preponderante de cada um dos pais, como seu cotidiano se estabelece.
Exemplo: uma criança com Lua em Touro e Sol em Gêmeos pode perceber a mãe como presente
e ativa cuidadora, tendo de outro lado um pai que é mais agitado e desapegado.
Cada um tem um papel na formação daquela criança: provavelmente a mãe fica com
a parte estrutural de oferecer o “pé no chão”, impor rotinas e dar noção de
materialidade, enquanto o pai tem a função de educar e trazer informação, agitação
e novos conteúdos. Quando os pais definem seus papéis, tais como são percebidos
pela criança, eles tendem a atuar melhor.
AA – A
criança se desenvolve em fases (motora, emocional, cognitiva, relacional, etc).
O que a Carta natal da criança oferece de informação específica sobre os
diferentes estágios de desenvolvimento infantil, para uma melhor adequação dos
pais?
Camila Colaneri – É muito importante entender em qual estágio de desenvolvimento a
criança se encontra, para oferecer uma orientação mais pontual e útil. Assim,
se a criança está na fase oral, ou até aproximadamente os dois anos, é
importante analisar com cuidado a Lua, pois estaremos falando de formas de
nutrição que estão vinculadas a amamentação e ao contato direto com a mãe. Já
na fase anal, um pouco depois, é preciso atentar para o sistema motor por meio
do planeta Marte (associado a músculos), assim como para a Casa VIII (associada
a retenção/eliminação e excreção). A análise de Marte é importante na fase em
que a criança começa a sentar e, posteriormente, a andar, isto é, se será mais
fácil ou mais lento em seu caso, por exemplo. A partir dos dois anos e meio também
é preciso estar atento à fase de comunicação (Mercúrio) e de sociabilização
(Vênus), e assim por diante.
AA –
Inclusive na educação da criança, seja no lar, seja na escola?
Camila Colaneri – Sim. Quanto à educação e aprendizagem, a interpretação astrológica
pode ser bem útil para pais e educadores. É de grande auxilio saber como a
criança aprende, pois isto varia conforme a criança: o que é objeto de
interesse, como se estabelece sua comunicação, que tipo de inteligência ela
desenvolve melhor (corporal, espacial, lógica), que facilidades ou dificuldades
tem no processo de aprendizado e qual ambiente educacional mais a favorece.
Assim, devemos analisar Mercúrio, Júpiter, Casa III e Casa IX. Para ilustrar,
imagine uma criança com Mercúrio em Peixes. Para ela, a linguagem simbólica é
de grande valia no processo de aprendizagem, pois ela capta melhor imagens e
sons, o lúdico, o imaginário. Já, uma criança com Mercúrio em Virgem requer um
aprendizado mais estruturado em sistemas, que seja mais prático e organizado.
AA – E
quando a criança apresenta dificuldades de aprendizagem?
Camila Colaneri – O astrólogo pode mostrar aos pais que tipo de dificuldade é aquela
ou, até, qual é a origem desta dificuldade. Analisando a situação do planeta
Mercúrio, por exemplo, podemos analisar quais são as formas de aprendizado às
quais a criança melhor responde. Também podemos saber se aquela criança é mais
dispersiva, se é muito ansiosa, se precisa de um tempo a mais para assimilar os
conteúdos, se lida bem ou mal quando é pressionada, e assim por diante. Esta
seria uma interação incrível no sistema educacional – talvez utópica, mas de
grande valia –, pois o que ainda se verifica é falta de integração entre os
sistemas de ensino estabelecidos e as diversas formas de aprendizado conforme a
criança. Algumas crianças aprendem inventando e experimentando, enquanto outras
precisam de uma ordem mais clara, com regras precisas. Seria positivamente impactante
na alfabetização saber como a criança aprende melhor. Interessa observar os
trânsitos sobre Mercúrio na época do desenvolvimento da fala ou da
alfabetização, também.
AA –
Isto seria útil para um professor ou terapeuta de crianças, não?
Camila Colaneri – Claro! Com relação ao professor, a Astrologia pode ajudar
a entender as principais características de cada aluno em particular,
desde o comportamento até às formas de aprendizado que melhor se adequam a cada
um, bem como as dinâmicas de sociabilização próprias de cada criança. Saber,
por exemplo, se a criança tende a se isolar, precisando de um tempo maior para
si, pode ajudar na sua integração, ao invés de impor algo forçado e, mesmo,
prejudicial a ela. Para os terapeutas, poderia ser um trabalho consorciado de
incrível alcance, pois o astrólogo consegue diagnosticar traços da
personalidade infantil que, muitas vezes, demoram sessões e sessões de terapia
para aparecer. Desta forma, esta integração poderia facilitar o atendimento e
ampliar os resultados positivos.
AA – É
cada vez mais comum a separação e o novo casamento dos pais, a formação de
famílias multiparentais e, mais recente, a formação de casais homoafetivos com
filhos adotados ou biológicos de um dos pais ou mães. Em casos assim, o que a
interpretação da Carta natal da criança pode oferecer à família, para a
dinâmica de bem preparar e apoiar a própria criança?
Camila Colaneri – A interpretação da Carta natal sempre ajuda, independente do tipo de
família que se forma. Para a criança, o que vale é ter um ambiente constituído
de amor, proteção e respeito, não importando sob qual condição seus pais se
estabeleceram: se são dois homens, duas mulheres, se é adoção, se é mãe
solteira ou uma família constituída de vários casamentos. A interpretação da
Carta natal oferece para a família a percepção da criança sobre sua própria individualidade
e sempre pode ser de grande auxilio em seu desenvolvimento emocional e
cognitivo. Creio que quando alguém procura o astrólogo com a solicitação de que
interprete a Carta de sua criança, ali já existe uma relação de amor, pois se
está querendo perceber esta criança como um ser individual e buscando entender
como auxiliar aquela particular criança neste mundo e dentro do seu contexto de
família e história. Já é um grande passo de conscientização familiar.
AA – Por que,
segundo você, “o atendimento infantil é muito delicado de ser feito e, ao mesmo
tempo, muito relevante”?
Camila Colaneri – Delicado, porque o astrólogo está lidando com pais que têm suas
próprias expectativas com relação aos filhos: eles também foram crianças, carregam
memórias positivas e negativas, fazem projeções e trazem a bagagem familiar
para o atendimento. É preciso olhar a Carta natal dos pais para ver como a
abordagem pode ser mais bem realizada na entrevista de interpretação. Imagine
uma mãe com Sol em Câncer que tem um bebê com a Lua em Aquário. Aquela mãe quer
dar todo carinho e atenção, pegar seu bebê no colo a todo instante, mas o bebê
pode ser mais sensível às vezes em que esta mãe se mantém mais distante. Então,
o astrólogo tem de ter delicadeza para falar com a mãe sem magoá-la, ajudando-a
a compreender que este bebê capta o emocional de maneira mais desprendida e
que, se ela for mais “divertida”, mais amiga dele, talvez ele corresponda melhor
do que se ela só ficar o tempo todo preocupada em dar comida e em “cuidar”.
E é relevante porque auxilia a
entender a criança em sua individualidade, percebendo suas necessidades, suas
dificuldades, seus pontos de talento e desenvolvimento, e as características de
suas diferentes fases de vida. Como se diz por aí, “criança não vem com manual
de instrução, mas a Carta natal pode ser o melhor GPS”.
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