A elaboração de novas ideias
depende da libertação
das formas habituais de pensamento e expressão.
das formas habituais de pensamento e expressão.
A dificuldade não está nas novas
ideias,
mas em escapar das velhas, que se
ramificam
por todos os cantos da nossa
mente.
John Maynard Keynes
Em
julho de 2017 lançarei em São Paulo meu 16º livro, seis dos quais dedicados a
analisar a Astrologia e a mente humana: Astrologia
e Cristianismo em diálogo.
Nele,
visitando o pensamento de S. Agostinho, S. Tomás e S. Alberto Magno, proponho
um olhar que a mim parece esclarecedor entre questões éticas ou religiosas e a Astrologia,
com vistas a aproximar melhor essas importantes áreas da vida humana que por
milênios viveram afastadas ou, no máximo, convivendo de modo conflituoso.
Junto
a isso, deixa-me esperançoso o fato de que, no livro, apresento um modelo
epistemológico que venho desenvolvendo desde a alguns anos sob o nome de “Astrologia
Arquetípica”. Este modelo explicativo da Astrologia indica de modo claro que a
Astrologia não é superstição, não viola o livre arbítrio e nem desrespeita a fé
em Deus ou a esperança no futuro.
Quis,
então, escrever aqui no blog, não sobre o conteúdo do livro, para evitar
spoiler, mas sobre o percurso que me trouxe a um modelo teórico explicativo da
Astrologia, dentro da moldura científica dos séculos 20 e 21.
1984 e o
encontro com a Astrologia – Quem
acompanha meu trabalho sabe que desde 1988 escrevo sobre Astrologia e a mente
humana. Naquele ano fui convidado a dirigir um workshop no II Congresso Internacional
de Terapias Alternativas, realizado em São Paulo no Centro de Convenções
Rebouças, no qual apresentei um modelo de sistema psicodiagnóstico inteiramente
baseado em interpretação de Carta Natal astrológica.
Mas
se em agosto de 1984 a Astrologia entrara em minha vida para nunca mais sair, o
fizera também para desafiar-me: se não há efeito enérgico de planetas induzindo
ocorrências corporais, emocionais ou mentais nas pessoas, como por muitos milênios
se julgou ocorrer, o que é que, de fato, torna a Astrologia um eficiente
recurso psicodiagnóstico?
Sim,
isto: a inexistência dos tais efeitos enérgicos dos
corpos celestes, eu percebera com rapidez ao entrar em contato com as hipóteses
e formulações astrológicas. Procedimentos técnicos da própria Astrologia jogavam
por terra a possibilidade de ser de energia que se estivesse falando, como viria
a escrever em 1989, em meu primeiro livro na área – e de lá para cá não cessei
de afirmar, até mesmo incomodando alguns mais afetivamente aderidos à suposição
de existência de tais energias.
Alguma
outra coisa é que fazia a Astrologia funcionar.
A visão
sistêmica, ou holística – A
primeira tentativa que busquei de elaboração de um modelo explicativo, dentro do
que se costuma intitular ciência, foi
por conta da visão sistêmica que cresceu no mundo científico a partir de meados
do século 20, notadamente após o trabalho do biólogo austríaco Ludwig von
Bertalanffy e sua Teoria Geral dos Sistemas. Este modelo de entendimento da
existência, também chamado holístico,
eu já conhecia desde a década de 1970, pois a noção sistêmica está na base de
Escolas da Psicologia que eu estudara, como a da Gestalt.
E
por que me parecia imprescindível haver uma possibilidade explicativa da
Astrologia que satisfizesse os requisitos do pensamento científico? Porque
apenas assim a Astrologia poderia ser retirada do nicho de ciência arcana ou ciência
oculta, onde fora posta por milênios, para poder ser enriquecida por outros
campos de conhecimento, ao mesmo tempo em que os enriquecendo.
Não
me seduzia sentir-me ou me dizer participante de um clã de iniciados, o que seria vaidosa tentativa de firmar-me sobre
um suposto diferencial pessoal elogiável (junto a quem admira isso). Preferia
ver-me como quem estuda e pratica uma técnica útil derivada de um variado conjunto
de conhecimentos, a Astrologia, que necessita e almeja ser reconhecida como
efetiva e válida além de questões de crença ou opinião, para poder beneficiar mais
e melhor a quem venha a servir.
Mesmo
sendo um homem com fé e também inclinado a analisar com cuidado e atenção os
chamados esoterismos, é central em
mim o respeito à dignidade da Ciência: sou um capricorniano com ascendente em
Sagitário, tendo Saturno e Netuno conjuntos em Libra na Casa XI e Sol na Casa I
em trígono com Júpiter, e tudo isto denota, para quem conhece Astrologia, que
não tenho – e nem quero ter – alternativa, senão a de maravilhar-me com o mundo
enquanto questiono: o que? por que? onde? como? quando?
Em consequência de ser assim, em minhas
abordagens iniciais adotei por hipótese explicativa geral a suposição de que
tudo que existe integra um único macrossistema, razão por que os movimentos dos
corpos celestes pelo Zodíaco seriam indício, nunca a causa, do que ocorre em
outras localidades do macrossistema, no caso, o sistema solar relacionado à
Terra e, mais focadamente, a um dado momento no tempo terrestre (data e horário
de nascimento) e no espaço terrestre (local de nascimento).
Esta
ampla noção, inclusive, confortava-me ao atribuir algum sentido no que eu verificava
ser possível fazer por meio do simbolismo da cabala, do I Ching ou do tarô, os
quais entraram de modo maciço em minha vida junto com a Astrologia, embora pouco
tempo após viessem a refluir, na medida em que ficava claro para mim que a Astrologia
era a ferramenta que me cabia e todo o mais, como cabala, I Ching ou tarô,
seria apenas enriquecimento cultural ou distração em meu caminho. Não, que não
tenham valor, pois têm e, imenso! mas são para quem os recebe por destinação, o
que não era meu caso.
Mais
adiante percebi que, como resume o pensador francês da Complexidade Edgar
Morin, o reducionismo [newton-cartesiano] sempre suscitou por
oposição uma corrente “holística” baseada na proeminência do conceito de
globalidade ou de totalidade; mas, sempre, a totalidade não passou de um saco
plástico envolvendo não importa o que, não importa como, e envolvendo muito
bem; quanto mais a totalidade tornava-se plena, mais ela ficava vazia.
Mesmo
admitindo que as ocorrências em algum local do macrossistema poderiam denotar o
que ocorria na mente de uma pessoa analisada segundo sua Carta natal
astrológica, como em uma megagestalt em que tudo de alguma forma se relaciona
mutuamente, e ainda que se dominasse o simbolismo que associava as coisas, isto
não explicava de jeito algum a natureza
do dinamismo ativo pelo qual tudo funcionava. A questão continuava exigindo
resposta.
Simbolismo e
sincronicidade
– Outra possibilidade, e fascinante
na mesma medida em que perigosa (dado o fascínio), foi a da sincronicidade, mas
dentro de um caldo geral de noções que costuma apropriar o pensamento junguiano
de modo ligeiro demais.
A
riqueza simbólica plástica da Mitologia grega, o vago conceito junguiano de
sincronicidade (vago, só quando mal conhecido ou compreendido), algumas pitadas
de Física Quântica (palavrinha mágica que, na pós-modernidade líquida que nos
envolve a todos, veio parecendo poder ser qualquer coisa) e, pronto, estaria
dado um suposto modelo explicativo da efetividade da Astrologia!
Até
que um pouco de bom senso jogasse fora o isopor decorado com glitter e expusesse
a inconsistência de tudo isto na tentativa de explicar como a Astrologia funciona.
Decerto
havia verdade nas teorias sobre simbolismo; seguramente também havia verdade no
conceito de sincronicidade, como formulado por Carl Jung e pelo Nobel em Física Wolfgang Pauli; de
fato, as associações possíveis entre a simbólica da Astrologia e as dinâmicas
funcionais ou de conteúdo da mente humana eram constantes e estáveis no tempo; e
tudo isso dava consistência factual ao sistema psicodiagnóstico que eu
perseguia. Mas nada disso explicava o que eu buscava entender: a relação objetiva entre a simbólica da Astrologia
e, na causação da mente, suas funções e seus conteúdos.
Eu
fizera uma escolha: embora pesquisando Astrologia, que se diz competente para
fazer diagnóstico de quase qualquer ocorrência, seja mente ou seja corpo, seja
empresa ou evento ou coisa, eu decidira restringir-me à mente humana e seus
dinamismos inconscientes e, por desdobramento vital, conscientes e ambientais.
Com isso, poderia ganhar em foco e precisão no meu estudo.
De
outro lado, quanto mais eu mergulhava na Astrologia, mais me certificava de ela
ser competente para propiciar descrições e previsões e, não, para fazer
adivinhações, embora a imagem geral que dela se tivesse (e ainda se tenha) seja
a de ser divinatória, isto é, de profetizar
(do grego profêtês, “que diz com
antecipação”) o que haverá.
Qual
a diferença? Quem adivinha (de divinare,
“ver inspirado por um deus”, divinus)
descreve o que haverá em tempo futuro, quase como se o estivesse vendo, ao
passo que quem prevê (de prævisĭo, “conjecturar sobre o que vai acontecer,
por meio da interpretação de indícios ou sinais”) estipula
probabilidades de ocorrência à luz de fatores avaliados.
Como todo fenômeno complexo costuma ser resultado de múltiplos fatores concomitantes, pois nem todas as causas, mesmo sendo necessárias, são suficientes, esta diferença é o que explica o fato de predições astrológicas fracassarem: se forem feitas como adivinhação, ao afirmar que tal ou qual coisa ocorrerá a enunciação soa absoluta (quase como se a coisa estivesse sendo vista e descrita), mas basta haver um fator não previsto, ou o livre-arbítrio, ou o mero acaso, ou a vontade de Deus, para a coisa não acontecer.
Como todo fenômeno complexo costuma ser resultado de múltiplos fatores concomitantes, pois nem todas as causas, mesmo sendo necessárias, são suficientes, esta diferença é o que explica o fato de predições astrológicas fracassarem: se forem feitas como adivinhação, ao afirmar que tal ou qual coisa ocorrerá a enunciação soa absoluta (quase como se a coisa estivesse sendo vista e descrita), mas basta haver um fator não previsto, ou o livre-arbítrio, ou o mero acaso, ou a vontade de Deus, para a coisa não acontecer.
É
bom e prudente pensarmos em falibilidade, ao pensar em Astrologia.
Einstein,
em 1921, no artigo Geometria e
experiência escreveu: na medida em que as proposições da matemática se referem
à realidade, elas não são certas; na medida em que são certas, elas não se
referem à realidade. A isto, se referia: na boa Ciência, como na natureza, nada
é nunca, nada é sempre. É natural a Astrologia errar em diagnósticos ou
prognósticos, na medida em que faz descrições ou previsões e, não,
adivinhações.
Com
isso eu não deslegitimava fenômenos paranormais, com visões intemporais e não
locais comprovadas à exaustão e estudadas, mas a Astrologia não é paranormal.
Além disso, como os símbolos são polissêmicos,
isto é, denotam díspares significados concomitantes, o que acarreta variações interpretativas
entre diferentes intérpretes (e distintas Astrologias) segundo o que mais
valorizam, já que não há pessoa neutra, o lirismo praticado nas descrições mais
usuais dos significados dos símbolos astrológicos torna tudo flutuante, volúvel
mesmo, impedindo maior precisão descritiva, que é o que se espera do enunciado
necessário para avaliar situações e tomar decisões.
Imagine-se
saindo do consultório do médico que foi procurado em função de um intenso mal-estar
orgânico que incomoda demais; se tivesse recebido dele apenas descrições
poéticas ou metafóricas ou alegóricas do que aflige você, como você se
sentiria?
No
tocante a predições, poucos meses após a Astrologia ter entrado em minha vida tive
conhecimento de um episódio que me serviu de lição para a vida toda: uma mulher
se suicidara em São Paulo e o marido encontrara em seus guardados cassetes de
áudio em que um astrólogo informava à mulher que ela contrairia uma grave
doença degenerativa e teria um dolorido e tristíssimo fim de vida. Resultado:
tragicamente ela abreviou um processo que talvez nunca viesse a ocorrer (quem
sabe?), pois nem doente ela já estava, ao passo que o astrólogo foi processado
criminalmente.
A busca do elo
desconhecido
– A hipótese de ação das energias dos corpos celestes não sobreviveu em minha mente
senão por curto tempo, mesmo havendo obras de respeitáveis astrólogos
afirmando-a, como o matemático e médico Morin de Villefranche, no início da
Modernidade, e o Mestre em Psicologia Steven Arroyo, nos fins do século 20.
Evidentemente não falo de Sol e Lua, que, pela proximidade com o nosso planeta, exercem efeitos variados sobre toda a biosfera. Refiro-me a efeitos dos outros astros adotados pela Astrologia, os quais se supõe, na Astrologia convencional, que excitam o arrojo ou a ira, exaltam a ternura ou a luxúria, propiciam otimismo ou esperança e atribuem sensatez ou cautela.
Evidentemente não falo de Sol e Lua, que, pela proximidade com o nosso planeta, exercem efeitos variados sobre toda a biosfera. Refiro-me a efeitos dos outros astros adotados pela Astrologia, os quais se supõe, na Astrologia convencional, que excitam o arrojo ou a ira, exaltam a ternura ou a luxúria, propiciam otimismo ou esperança e atribuem sensatez ou cautela.
Afinal, entre outros exemplos – para nem falar da Precessão dos Equinócios, que faz com que o Ponto Vernal não marque mais em 0o Áries o exato início do Zodíaco, como se dava há dois mil anos, embora no Zodíaco imaginado tudo continue igual –, a Parte da Fortuna é só uma formulação matemática sobre três pontos zodiacais (Sol, Lua e Ascendente), mudando a fórmula conforme o horário de nascimento, se diurno ou noturno; os Nodos Lunares são apenas pontos geométricos de intersecção cósmica das órbitas da Terra em torno do Sol e da Lua em torno da Terra; as Direções Secundárias, centrais em todo sistema de prognóstico astrológico, adotam Planetas se movimentando muito mais lentamente do que está nas Efemérides; as Direções Conversas, então, pressupõem corpos celestes orbitando para trás, o que nunca acontece, dando-se igual com as Retrogradações Planetárias, que são uma ilusão de óptica do ponto de vista da Terra, pois astro algum retrograda em seu trajeto cósmico.
Como
sabemos, hipóteses ou convenções ou pressupostos teóricos não emitem energia, pouco
importa de que energia estejamos falando.
A
hipótese holística também não ofereceu resposta satisfatória à questão: com quais fatores causais os símbolos
astrológicos se relacionam, no macrossistema, para servirem de indícios seguros
que podem embasar um diagnóstico ou prognóstico, já que não era a fatores
cósmicos objetivos, os planetários, que tudo parecia se relacionar?
A
hipótese da sincronicidade, embora mais sofisticada, igualmente não atendeu à
necessidade de responder à questão: o que
explica a efetividade da Astrologia?, pois a noção de sincronicidade, tal
qual desenvolvida por Jung no decorrer de 40 anos de trabalho, estipula que
eventos em sincronicidade ocorrem de modo esporádico, irregular e imprevisível entre
a psique e o ambiente, quase se pode dizer aleatório, frutos que são do inconsciente
psicoide autônomo e não pessoalizado, não podendo ser possível, então,
estabelecer padrões de ocorrência. Mas toda interpretação astrológica é
padronizada – “w” significa “x”, “y” significa “z”, e sempre, assim –, seja
qual for o padrão adotado.
Pode-se
falar de sincronicidade em Astrologia, mas quando o fizermos estaremos apropriando
de modo livre o termo, indo além do conceito junguiano. E poderemos estar nos
acercando, em verdade, do conceito de Não localidade, desenvolvido pela Física
de Partículas, ou Quântica, para descrever o que ocorre entre duas partículas brotadas
do mesmo momentum da nuvem de probabilidades
quânticas: quando uma das partículas do par emaranhado é afetada, no mesmo exatíssimo
instante a outra se altera, mesmo havendo distância incomensurável entre as
duas no continuum espácio-temporal.
De
alguma forma há relação dinâmica entre ambas, independente de espaço e tempo,
e foi entre a Biologia, a Física de Partículas, a Neurociência e a Psicologia Analítica
(ou junguiana), que comecei a vislumbrar o que dá efetividade à Astrologia
desde priscas eras e até hoje, em que pese sua falibilidade, como todo sistema
de diagnose e prognose aplicado à existência.
Como
mostrarei ao falar de campos mórficos, o que dá efetividade à Astrologia parece
de alguma forma se referir ao que o filósofo da ciência Ervin László denomina
Campo A, mencionando um vasto campo
universal manifestado em cada local, um campo que, embora não caracterize
qualquer coisa sob uma forma concretamente manifesta, contém toda a existência
em potencial (...) Ele está pleno da possibilidade de tudo o que existe. O
mundo dos fenômenos é sua criação: a realização de seu potencial inerente.
Isso
é o que, a meu ver, propicia que a Astrologia, ao identificar parcela dos
dinamismos imateriais e intemporais atuantes, detecte parte do que já há, mesmo
se oculto, e do que tenderá a ocorrer como existência manifesta.
A estabilidade
milenar do simbolismo astrológico –
Baseada em qual coisa é que a Astrologia descreve o que não vê – no caso da
Astrologia Arquetípica, o inconsciente da pessoa, que nem a própria pessoa conhece
–, desde muito antes de Ptolomeu e fazendo-o igual até hoje?
O
primeiro dado a considerar é que os mesmíssimos símbolos carregam significados
semelhantes associados às mesmíssimas coisas mentais desde as formulações
originárias da Astrologia.
Tendemos
a avaliar que tudo mudou em demasia e nos esquecemos de que as dinâmicas fundamentais
da mente, sejam de ordem sensorial, sentimental, intelectiva ou intuitiva, são universais
(isto é: ocorrem em toda a espécie) e mais ou menos as mesmas desde a milênios,
variando a forma de aceitação ou expressão segundo o que cada agrupamento
cultural define ser bom ou ruim, apropriado ou inconveniente.
Isso,
a Neurociência mostra de sobejo hoje em dia, permitindo que se possa
identificar até, com base em conhecimentos e experimentos de consultório e
laboratório, as bases neurofuncionais do que Jung pioneiramente teorizou sobre arquétipos,
enquanto dinâmicas básicas constituintes e cocausadoras da mente humana, o que
parecia ser só hipótese.
Os
primeiros humanos e os humanos do século 21 vivenciavam e vivenciam análogas
flutuações emocionais e diferentes estados corporais simbolizáveis pela Lua;
investigavam e investigam a realidade, comunicando-a uns aos outros e trocando
entre si o de que precisam para viver (comércio), de modo simbolizável por
Mercúrio; valorizavam e valorizam de acordo com o que Vênus simboliza; agiam e
agem segundo o simbolizado por Marte; elaboravam e elaboram regras de
convivência que estipulam o que é justo ou injusto e adequado ou não (normas e leis),
conforme as relações grupais simbolizáveis por Júpiter; e, sem cessar, submetiam
e submetem o cotidiano e a si ao cheque de realidade, como Saturno simboliza,
para poderem sobreviver com maior segurança.
Urano,
Netuno e Plutão são outra história, e mais complexa, mas é tudo símbolo.
Decorreram
mais de 1.300 séculos entre eles, os primeiros humanos, e nós, humanos do século 21,
mas, e daí? Ainda é muito parecido, se é de fenômenos fundamentais da mente que
estamos a falar e são indicados por signos (não falo dos Signos astrológicos,
mas, sim, daquilo que pode ser ícone, índice ou símbolo no exercício mental de
retratar a realidade).
Os
signos adotados vieram apontando dinâmicas causais mantidas constantes em todo
este período, e este é o primeiro elemento da hipótese que veio se construindo
em mim: aquilo que por milênios se supôs – a
ação determinante da energia dos
corpos celestes – poderia ser, de fato, já que de astro não era, a ação de
algo perene que atuava como causa, embora deste algo ainda não houvesse
conhecimento ou compreensão.
Certamente,
os primeiros humanos perceberam a existência de padrões de ocorrência terrestre,
em sua vida, na de outrem e no mundo, e buscaram explicar tais padrões como decorrendo da
ação direta de um algo-causa.
Ao
mesmo tempo, e penso em um intervalo muito longo de tempo, pois os primeiros
registros astronômico-astrológicos conhecidos datam de ao menos 10 mil anos antes dos dias de hoje, perceberam haver padrões no céu, região do mundo de
onde os deuses faziam sentir sua ação (este é pressuposto ocorrente em todas as
culturas conhecidas: os deuses atuam a partir do céu).
No
céu, certos pontos de luz apresentavam padrões regulares de surgimento e deslocamento,
sendo percebidas, as estrelas errantes
(que hoje chamamos planetas), como diferentes das outras estrelas, as estrelas fixas.
Assim, o estabelecimento de conexões hipotéticas entre os padrões percebidos na Terra e os padrões celestes foi se dando de modo natural, embora ainda sendo tidos (e permanecendo assim por muito tempo), os padrões celestes, como sendo o suposto algo que determinava os padrões terrestres.
Assim, o estabelecimento de conexões hipotéticas entre os padrões percebidos na Terra e os padrões celestes foi se dando de modo natural, embora ainda sendo tidos (e permanecendo assim por muito tempo), os padrões celestes, como sendo o suposto algo que determinava os padrões terrestres.
Com
isso, dinâmicas causais características (percebidas pelo efeito-padrão de algo
no comportamento íntimo e ou manifesto de cada indivíduo, isoladamente e em relação
interpessoal) foram relacionadas a também específicas ocorrências celestes:
estas, a Sol ou Mercúrio; outras, a Lua ou Vênus; terceiras, ainda, a Marte ou
Júpiter ou Saturno, ou a peculiares arranjos geométrico-zodiacais entre pontos,
que são os Aspectos astrológicos.
Por
que se atribuiu este algo exatamente aos astros? Porque, além de serem do céu, isto
é, dos deuses, eram os únicos elementos objetivos, percebidos a olho nu no
mundo, que invariavelmente mantinham padrões, e sempre os mesmos, no lento
escoar do tempo. Todo o mais da natureza perceptível, no reino mineral
inanimado e nos reinos da biosfera animada, não apresentava nem mantinha
padrões regulares aos quais se pudessem relacionar, de modo estável, duradouro
e previsível, os padrões observados nos humanos.
Mas
de que algo se está a falar? Que algo pode ser este, ao qual desde o início os
símbolos astrológicos foram relacionados e que foi tido como sendo causa?
Detecção de campos
imateriais e não temporais – Só os conhecimentos dos séculos 20 e 21
puderam apresentar uma hipótese explicativa mais consistente para este algo, com
base nas Ciências da Natureza e, entre estas, a Biologia Molecular e a Física: parece tratar-se de campos imateriais e
intemporais associados a toda forma de existência manifesta e que atuam sem
cessar, codeterminando a forma e a função de tudo o que existe (seja coisa ou
pessoa), e seja em tempo passado (cocausando a forma), presente (mantendo a
forma) ou futuro (orientando a forma).
Tal tipo de concepção surgiu na Biologia, com os campos mórficos e a ressonância mórfica do biólogo Rupert Sheldrake, que os apresentou como hipótese em 1981 e, 10 anos mais tarde, publicou experimentos laboratoriais que começaram a comprová-los.
Tal tipo de concepção surgiu na Biologia, com os campos mórficos e a ressonância mórfica do biólogo Rupert Sheldrake, que os apresentou como hipótese em 1981 e, 10 anos mais tarde, publicou experimentos laboratoriais que começaram a comprová-los.
Aliás, o triênio 1980-1982 foi fabuloso para o novo tipo de concepção de mundo que se foi construindo e pôde propiciar compreensão sobre o que dá efetividade à Astrologia.
Em
1980 o físico David Bohm apresentou a teoria da Totalidade e a Ordem
implicada, segundo a qual existe um campo organizacional imaterial quântico
(a Ordem Implicada, subjacente ou dobrada) que predetermina tudo o que virá a
existir (na Ordem Explicada, manifesta ou desdobrada), inclusive o tempo, com o
que se estabelecem as correlações entre os fenômenos manifestos, na Ordem
Explicada, de acordo com as correlações potenciais que suas probabilidades de ocorrência
mantinham entre si na Ordem Implicada.
Em
1981 Rupert Sheldrake apresentou a noção de existência dos campos mórficos, que
segundo ele são estruturas imateriais e intemporais, isto é, independentes de
matéria e tempo, os quais são decorrentes das coisas surgidas e têm um papel causal no desenvolvimento e na manutenção das formas [e funções] de sistemas de todos os níveis de complexidade. Neste contexto, a
palavra “forma” é utilizada para indicar não apenas a superfície externa ou o
limite fronteiriço do sistema, mas, inclusive, sua estrutura [e função] interna.
Em
1982 o físico Alain Aspect comprovou experimentalmente a Não localidade, isto
é, a existência de correlação dinâmica entre duas partículas originadas do
mesmo momentum (o colapso) na nuvem
de probabilidades (o campo quântico), até se entre elas houver uma distância
estelar. Como ele, próprio, escreveu: em
certo sentido, ambos os fótons permanecem em contato através do espaço e do
tempo.
Por
óbvio, o avanço deles todos se apoiou no trabalho de precursores, como relato
em Por uma Filosofia da Astrologia, e,
para o que aqui interessa, permitiu que eu vislumbrasse as reais bases
operativas da Astrologia Arquetípica, em sua tarefa de diagnosticar e ou prognosticar
aspectos da realidade mental.
Segundo
o modelo epistemológico que pude desenvolver, embora ainda falte compreender
melhor, campos mórficos se articulam dinamicamente com o composto psicossomático
individual desde a fase formativa da pessoa, sendo que na psique isto se dá por
meio de arquétipos atuantes no campo psicoide do indivíduo, com o que a
Astrologia Arquetípica, ao detectar os campos mórficos e principais dinâmicas
arquetípicas atuantes em cada caso, e ao descrever a qualidade e intensidade de
seus efeitos ab initio, consegue
diagnosticar as características determinantes daquela particular psique, quer
durante a fase de formação ou no tempo presente, quer como tenderão a se
manifestar em um futuro previsível, pela interpretação dos símbolos que a
Astrologia elaborou no decorrer da História e utiliza.
Como descrevo no livro Astrologia e Cristianismo em diálogo,
no esquema
gráfico, acima, o olhar do astrólogo, ao analisar o indivíduo (1), embora pouse
no conjunto de símbolos astrológicos que o caracterizam na Carta Natal
astrológica (2) e, segundo os modos convencionais de interpretação, pareçam
estar denotando como os corpos celestes atuam sobre a pessoa, o que de fato
está sendo percebido pode ser o conjunto de efeitos de peculiares campos
imateriais e intemporais (3) que, estes, sim, atuaram, atuam e atuarão sobre o
indivíduo e condicionaram, condicionam e condicionarão em importante medida (4)
a sua forma de se expressar na existência, sejam corporais ou mentais estas
expressões, donde o astrólogo poder falar de formas características de
comportamento (íntimo ou manifesto) e ou de peculiares ocorrências na
existência da pessoa, em sincronicidade, segundo o que a simbólica utilizada
indica em cada caso particular, com base em padrões gerais e duradouros um dia
percebidos e estabelecidos.
Milênio e meio atrás,
na ausência deste tipo de possibilidade de entendimento (...) a habilidade
aprendida e desenvolvida, por alguns poucos, de detecção de tais efeitos e
padrões, expressos em características das coisas e ocorrências previsíveis, bem
poderia parecer coisa de “espíritos
não bons”, como acreditado por S. Agostinho.
Pela mesma
razão, se S. Tomás de Aquino ajuizava que “a própria disposição de órgãos,
adequada ao movimento, procede de alguma forma da influência dos corpos
celestes”, como é que ele poderia conjecturar,
fora do âmbito da fé (“espíritos”) e no âmbito da razão (e da Ciência da
época), a existência de campos imateriais e intemporais codeterminando a forma
e a função dos órgãos, conceito que permitiria a ele deixar de supor a
existência de influência dos corpos celestes?
Mesmo assim, embora os conhecimentos científicos do
século 13 fossem mais limitados, S. Alberto Magno estipulou em 1260, em estudo
feito a pedido do Papa Alexandre IV e como debato no mesmo livro, que nenhuma
ciência humana alcança compreender a ordem do universo tão perfeitamente como a
ciência dos julgamentos das estrelas.
Disponho-me a ser persuadido da existência de algo diferente do que formulei no modelo epistemológico da Astrologia Arquetípica que vim podendo elaborar, mas até agora mais e mais me convenço daquilo que a articulação combinada de tais conhecimentos me indica e busquei explicar sucintamente aqui.
O físico
norte-americano Richard Feynman, Prêmio Nobel e introdutor dos conceitos de
nanotecnologia e computação quântica, disse um dia: ainda não é óbvio, para mim, que não há um problema real [com a
Mecânica Quântica]. Não posso definir o
problema, portanto suspeito que não há problema, mas não estou seguro de que
não há problema. Por isso, gosto de investigar as coisas.
Penso o mesmo,
em relação à Astrologia e, por isso, no começo deste texto, disse-me
esperançoso. É que acredito que bastante em breve a Astrologia Arquetípica será
admitida como campo de interesse científico, dentre as Ciências da Natureza, embora
possa também estar entre as Ciências Sociais, para o que o meu trabalho poderá
ter sido um passo a mais, no caminho de investigar mais e aperfeiçoar melhor o muito
que ela pode oferecer.
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