Pouco antes da realização do Simpósio 2015 do SINARJ
(Sindicato dos Astrólogos do Rio de Janeiro), o competente astrólogo, astrônomo
e Doutor em Filosofia Alexey Dodsworth Magnavita publicou um post em sua página
do Facebook, no qual apresentava três questões que seriam abordadas por ele e
colegas em uma mesa redonda do evento:
1. A Astrologia se enquadra ou não na definição
stricto sensu de “Ciência”?
2. É
possível ver ou antever fatos concretos pela Astrologia?
3. A Astrologia é passível de ser submetida a
testes e/ou pesquisas estatísticas nos moldes científicos atuais?
Foi uma
lástima, mesmo tendo sido convidado com grande antecedência, eu não ter podido
estar no Rio de Janeiro no final de semana em que o XVII Simpósio se
desenvolveu. Então, decidi publicar neste blog o trabalho que eu me propusera a
apresentar no evento, quando submeteria ao conhecimento de colegas o modelo
epistemológico que venho buscando desenvolver para responder a questões como
estas.
Para
começar, o que eu teria respondido?
1. A
Astrologia não é, em sentido estrito, Ciência, ao menos como se conceitua
“ciência” contemporaneamente. Ela é, em meu entender e mais propriamente, uma
técnica (ou, melhor, um conjunto de técnicas) que lança mão de conhecimentos, vocabulário
e sintaxe de Ciências variadas para expressar o conhecimento que propicia por
seus símbolos (creio, inclusive, que mesmo em outra conceituação a Astrologia
não é uma Ciência específica, se Ciência implica produção de conhecimento em um
campo delimitado de estudo da existência, pois, como técnica, ela se aplica ao
mesmo tempo a variados e muito díspares campos de estudo da existência).
2. Sim,
é possível ver ou antever a ocorrência de fatos objetivos (e subjetivos) por
meio do uso das técnicas da Astrologia, tal como é possível diagnosticar ou
prognosticar fatos em esferas variadas da existência por meio de outras técnicas
específicas (o que não significa que tais fatos ocorrerão, já que deles se sabe,
por antecedência, apenas a taxa de probabilidade de ocorrência).
3. Não somente
a Astrologia é passível de ser submetida a testes e/ou pesquisas estatísticas,
como deveria buscar que isto ocorresse, para que sua efetividade fosse admitida
por campos de interesse científico e as pesquisas sobre ela pudessem se
aprofundar e enriquecer.
Porque
a segunda questão é a mais desafiadora: é possível conhecer com antecedência a provável
ocorrência de fatos objetivos ou subjetivos? E, se sim, o que explica a
efetividade da Astrologia?
Todo o
mais é discussão técnica, subordinada à questão central: se ela funciona, como é
que funciona?
Por
séculos supôs-se ocorrer a ação de energias provindas de corpos siderais, e
este postulado (cartesiano), tido como suficiente, fez parecer desnecessário o
desenvolvimento de modelos explicativos mais coerentes.
(Não me
estenderei aqui sobre a superação do pressuposto errôneo de a Astrologia apontar
energias siderais. Este assunto trato melhor em Astrologia Arquetípica e comportamento – De Ptolomeu a Jung, na teia do
mundo, dedicando um capítulo inteiro à demonstração, com base em Matemática
e nas principais tabelas astrológicas utilizadas no mundo inteiro, da inexatidão
deste pressuposto que dominou por séculos.)
Foi
preciso que o Século XX avançasse na formulação de hipóteses de causas formais e causas eficientes situadas (e localizáveis) fora do continuum
espaço-tempo, mas atuantes sobre as dinâmicas do continuum espaço-tempo, sem
que isto obrigasse à suposição de alguma ação divina (já que tendemos a crer
que qualquer coisa “fora” do espaço-tempo, mas a partir de “lá” atuante ou
determinante, é Deus), para que no Século XXI se abandonasse de vez a hipótese
de “energias planetárias causadoras” e se começasse a vislumbrar melhor o que
talvez sejam as dinâmicas naturais ou supranaturais sinalizadas pela Astrologia
o que atua como fatores de cocausação de fenômenos complexos, entre estes os
humanos e, entre estes, os individuais, grupais ou coletivos.
Digo
“naturais ou supranaturais”, já que se tende a julgar que “natural” é somente o
que é objetivo, como se o subjetivo e o “fora do espaço-tempo” não pudessem ser
também naturais, indicando que o próprio conceito de natureza está em via de
reformulação.
Estas
dinâmicas, se se aproximam do conceito de Ideias eternas em Platão, das quais a
existência decorreria, também se acercam, mais ainda no tocante aos fenômenos
da mente humana, do conceito junguiano de arquétipos, quando tomado no seu
sentido originário, isto é, como Jung os conceituou, e não nas apropriações
mais ligeiras (e distorsivas) que por habitualidade são feitas do conceito.
A meu
ver, para isto a Astrologia contemporânea aponta.
E por
isso tenho visto a Astrologia Arquetípica como “meta-Astrologia”, como já
expliquei em post anterior e, para não obrigar revisão do leitor, torno a explicar
aqui: “a
Astrologia se caracteriza pela existência de diferentes alfabetos simbólicos e procedimentos técnicos para descrição diagnóstica
e prognóstica de fenômenos. Comporta, assim, dentro do Pensamento da Complexidade, uma abordagem
meta-Astrológica que transcenda as diferenças e amplie o reconhecimento
público da Astrologia enquanto recurso útil
de cognição. Esta abordagem, a meu ver, deve ser o objetivo da Astrologia
Arquetípica. Importa frisar aqui, de início, que “meta-Astrologia” não é
uma nova técnica interpretativa de símbolos astrológicos. O termo “meta” é
proposto no conceito aristotélico: se, em Aristóteles, Metafísica era o estudo
do que transcende o sensível, do grego “phusikós”, “da natureza” (Houaiss), meta-Astrologia é o estudo
que lida criticamente com as Astrologias dentro de um conjunto nocional que
almeja ultrapassar a especificidade de qualquer delas para focar no que haja de
comum nelas todas – o que e como, realmente, elas denotam –, enquanto recursos
explicativos de fenômenos ocorrentes no continuum
espaço-tempo”.
No
próximo post iniciarei a publicação do trabalho que eu teria apresentado no
Simpósio SINARJ 2015, o qual dividirei em quatro partes sucessivas, para maior
leveza de exposição aqui.
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