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23 de ago. de 2019

A PRESSÃO ARQUETÍPICA DENOTADA PELA ASTROLOGIA

Uma no cravo e, outra, na ferradura.
Depois de ter publicado meu último post, A demarcação científica da Astrologia, em que me debrucei principalmente sobre a necessidade de haver comprovação empírica das afirmações diagnósticas e prognósticas que a Astrologia emite, para que as Ciências possam um dia verdadeiramente interessar-se por ela, pus-me a pensar na teoria, já que uma coisa é comprovar que a Astrologia funciona e, outra, é hipotetizar sobre como ela funciona.
Afinal, quando as Ciências se aproximarem da Astrologia, como é bom que isto ocorra, que modelo teórico de Astrologia será apresentado para conhecimento e avaliação?
Rememorei o astrólogo e professor de Astrologia Ivan Freitas apresentando na Astrológica 2019 uma semelhança simbólica verificada entre as Cartas astrológicas referentes a 1934 e 2016, analisadas pela Astrologia Mundial.



Como ele ali apresentou en passant, 1934 foi o ano em que Adolf Hitler assumiu de vez o poder na Alemanha, como Chanceler e Presidente, implantando para valer o nazismo, e em 2016 começaram a surgir das sombras grupos neonazistas alemães, em um tipo de dinamismo social que vem se desdobrando em vários países do mundo na quadra que ainda atravessamos. Em ambos os períodos, 1934 e 2016, registravam-se Quadraturas entre os Planetas exteriores Urano e Plutão.
(Aliás, para cogitar a respeito do fundo da mente coletiva brasileira, a Carta Natal do Brasil exibe uma Quadratura entre Urano e Plutão e, em junho de 2013, início do que passamos a viver, ambos os planetas estavam em exatíssimos 90º um do outro.)



Lembrei também de Nicholas Campion, ex-Presidente da Associação Britânica de Astrologia e Diretor do Sophia Centre para o Estudo da Cosmologia na Cultura, na University of Wales Trinity Saint David, na Inglaterra, tido como um dos maiores especialistas internacionais em Astrologia Mundial (ou Mundana).


Em uma entrevista à revista norte-americana The Mountain Astrologer, em maio de 2013 ele declarou:
A moderna Astrologia Mundial é, em grande parte, uma prática sem teoria. No entanto, uma prática sem teoria não tem como entender ou melhorar a si mesma. Tampouco há muito método sistemático na Astrologia Mundial contemporânea. Para estabelecer ambos [teoria e método], é preciso referir-se às autoridades do passado na disciplina”.
Esta rememoração me levou a revisitar a obra Cosmos and psyche, de Richard Tarnas, um dos mais expressivos estudos sobre Astrologia Mundial que conheço – eu, que bem pouco entendo de Astrologia Mundial.


Para quem queira conhecer Astrologia Mundial e Astrologia Arquetípica, esta obra parece-me fundamental por várias razões.
Primeiro, pelo perfil pessoal de Tarnas, que é psicólogo, historiador cultural e fundador e diretor do curso de Filosofia, Cosmologia e Consciência do California Institute of Integral Studies, em São Francisco.


Segundo, pelo tipo de formação que teve: não sendo astrólogo, e tendo vivido e trabalhado por uma década no Esalem Institute, na Califórnia, um dos núcleos acadêmicos mais instigantes da história ocidental contemporânea, Tarnas pôde conviver de perto com gigantes intelectuais como Abraham Maslow, Gregory Bateson, James Hilmann, Joseph Campbell e Stanislav Grof.
Terceiro, porque nesta obra, premiada internacionalmente, ele apresenta mais de 400 páginas repletas por uma centena de importantes eventos sociopolíticos, macroeconômicos, culturais e científicos ocorridos nos últimos séculos, analisando-os sob o que a ele parece ser a marca arquetípica de Conjunções, Quadraturas e Oposições havidas entre os Planetas transpessoais (Urano, Netuno e Plutão) e entre eles e Saturno, no tempo exato em que tais eventos ocorriam.


É levantamento de fôlego, inteiramente amparado em registro e análise histórica de eventos massivos ocorridos em variadas regiões do mundo: revoluções políticas, movimentos abolicionistas, feministas e ou libertários de costumes, fundamentais inovações científicas e ou tecnológicas, brotamento de novos e expressivos paradigmas artísticos, literários e musicais, etc.


Tarnas, em decorrência das pesquisas elaboradas, em 2006 denominou o que estudara de “Astrologia Arquetípica” (Archetypal Astrology), de modo semelhante ao que eu viria a apresentar em Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé.
Todavia, em meu entender – e esta é crucial diferença entre nossas formas de compreensão –, ele incorre em um viés neoplatônico que o leva a supor haver uma “intenção cósmica” na justaposição temporal e espacial entre eventos zodiacais e pressões arquetípicas, como se um “grande espírito sideral” engendrasse as distintas fases evolutivas da existência, em obediência a um pressuposto plano geral de desenvolvimento cósmico que tem a Terra por ponto focal.


Como penso, esta justaposição espácio-temporal observada não é metafísica e nem é, com propriedade, apenas ocorrência de sincronicidade, embora possa ter parecido ser assim.
Quero demonstrar que aquilo que somente parece ser, assim parece devido às magníficas associações estabelecidas pela mente humana no decorrer de milênios de continuada observação do que é um conjunto de significantes, as ocorrências zodiacais, que foram matematicamente estabelecidos e simbolicamente denotam o que, onde e quando, tem alta probabilidade de ocorrer por pressão arquetípica.
Para isso, terei de apresentar trechos de Cosmos and Psique, traduzidos de modo livre para este post, já que ainda não há versão em português.
Tendo base no que conhecia de Psicologia dos arquétipos, Tarnas relatou:
“Em essência, a astrologia [como ele foi descobrindo ao longo das pesquisas] parecia oferecer um tipo singularmente útil de compreensão da atividade dinâmica dos arquétipos na experiência humana, pois indicava quais eram os mais operacionais em um caso específico, em que tipo de combinações, em que períodos de tempo e decorrendo de que configurações [ou Aspectos planetários] principais. Com tal perspectiva, esse desenvolvimento emergente da tradição astrológica pode essencialmente ser considerado como sendo uma continuação aprofundada do projeto da psicologia profunda, a saber, tornar o inconsciente consciente.


 [...] Juntamente com muitos colegas e estudantes, continuei esta pesquisa com firmeza por três décadas. O que eu achei excedeu minhas expectativas. Parte disso é e continuará sendo um mistério, mas depois da investigação e da avaliação crítica mais rigorosa de que sou capaz, cheguei à convicção de que há uma correspondência extremamente significativa – e oniabrangente – entre movimentos planetários e assuntos humanos, e que a suposição moderna na direção oposta estava errada.
[...] Comprovei que a perspectiva astrológica arquetípica, bem entendida, tem uma capacidade única para esclarecer a dinâmica tanto da história cultural, quanto da biografia pessoal. Proporciona uma extraordinária penetração nos padrões mutáveis e mais profundos da psique individual e coletiva, assim como na complexa natureza participativa da realidade humana.
[...] A evidência não sugere que os planetas sejam eles mesmos causas de vários eventos ou traços de caráter, mas, sim, que existe uma correspondência empírica coerentemente significativa entre os dois conjuntos de fenômenos, o astronômico [eu diria zodiacal] e o humano, e que o mais frutífero é abordar o princípio da conexão entre eles como uma certa forma de sincronicidade através de arquétipos”.
Sendo psicólogo e ao mesmo tempo cientista social (historiador cultural), Tarnas optou por delimitar o campo de estudo por meio de eventos de grande amplitude sociopolítica, econômica, tecnológica e ou cultural, fartamente documentados, nos quais se verificou o tipo de perfil comportamental coletivo que se esperaria do “efeito” dos Planetas exteriores sobre o comportamento humano, se tomado pessoa a pessoa (que é mais difícil de detectar e registrar com precisão e fidelidade).
Ele explanou:
“Os significados arquetípicos [atribuídos aos] três planetas exteriores parecem derivar principalmente de correlações observadas no estudo de mapas natais individuais e trânsitos pessoais, bem como nos fenômenos históricos das épocas em que esses planetas foram descobertos. Quando apliquei esses significados a esta categoria completamente distinta de fenômenos – a análise de períodos da história em que os planetas exteriores formaram alinhamentos no céu e nos quais, em teoria, os arquétipos correspondentes atingiram sua máxima ativação na psique coletiva – as conexões empíricas que encontrei me impressionaram muito. Esses amplos alinhamentos dos planetas exteriores pareciam coincidir de maneira sistemática com prolongados períodos históricos em que um particular complexo arquetípico era claramente hegemônico na psique coletiva e definia, por assim dizer, o Zeitgeist [ou espírito do tempo] daquele momento cultural. O complexo arquetípico predominante [nestes casos] sempre era claramente composto dos princípios associados aos planetas alinhados, como se esses arquétipos interagissem, se fundissem e se influenciassem mutuamente”.
Quanto às dinâmicas arquetípicas associáveis aos Planetas estudados por ele, Tarnas detalhou:
“Vamos resumidamente recapitular a natureza dos princípios arquetípicos associados. O planeta Urano parece se correlacionar a eventos e fenômenos biográficos que sugerem um princípio arquetípico de caráter essencialmente promissor [e prometeico]: emancipatório, rebelde, progressivo, inovador, incitante, perturbador e desestabilizador, imprevisível, útil para catalisar novos começos e mudanças, de modo súbito ou inesperado.


[...] O planeta Plutão, ao contrário, está associado a um princípio arquetípico de caráter dionisíaco: elementar, instintivo, poderoso, urgente, extremo em intensidade, surgindo das profundezas, a um tempo só libidinal e destrutivo, avassalador e transformador [...] No nível coletivo, o princípio arquetípico associado a Plutão é considerado uma dimensão prodigiosa e titânica, que transmite poder, intensidade e urgência a tudo o que afeta em escala maciça.


[Na pesquisa] enquanto os períodos [...] Urano-Plutão sistematicamente coincidem com amplos levantes revolucionários, impulsos renovados para a emancipação e inovação cultural radical, os sucessivos alinhamentos [...] dos ciclos Saturno-Plutão coincidem com períodos históricos [mais breves, mas] particularmente desafiadores, marcados por uma atmosfera de grande contração: tempos de crise e conflito internacional, de empoderamento das forças reacionárias e dos impulsos totalitários, de violência organizada e opressão, tudo às vezes marcado por persistentes efeitos traumáticos. Estes períodos [...] tendem a ser seguidos por uma atmosfera de gravidade e um sentido prolongado de fim de época: ‘o fim de uma era’, ‘o fim da inocência’, ‘a destruição de um modo de vida anterior’ que, olhando para trás, poderia ser caracterizado por grande complacência, decadência, ingenuidade e vaidade. Como no ciclo Urano-Plutão, a questão predominante é a transformação profunda, mas, neste caso, por meio de contração, crise e reação conservadora.


[...] Devo esclarecer que os períodos coincidentes com esses alinhamentos [ele fala de Conjunções, Quadraturas e Oposições] não marcaram anos em que os eventos históricos e as tendências culturais que os caracterizavam subitamente apareceram e desapareceram, como se fossem acionados por um interruptor elétrico. Em vez disso, os períodos em questão pareciam representar momentos em que tendências continuadas, e algumas vezes de longo prazo de desenvolvimento, atingiam o ponto de ebulição, por assim dizer, ou seja, um ponto em que certo estímulo ou realização desencadeia fenômenos culturais destacados, fazendo com que essas tendências emerjam na consciência coletiva de forma explícita e espetacular. A partir desse ponto decisivo [...], ou clímax, essas tendências culturais continuam a se desdobrar de maneiras diferentes nos anos e décadas seguintes, após o alinhamento [dos planetas] ter transcorrido”.


Na explicação desta dinâmica geral verificada no tempo, Tarnas mencionou o Livro X de Leis, de Platão. Neste texto, o filósofo grego afirmara:
“No que diz respeito a todos os astros e a Lua, e no que tange aos anos, meses e todas as estações, o que nos caberia fazer senão essa mesma afirmativa, a saber, que já que ficou demonstrado que são todos eles [os Planetas] movidos por uma ou mais almas, que são dotadas de todas as virtudes, declararemos que essas almas são deuses, seja porque, alojadas nos corpos [celestes], como seres vivos que são, organizam todo o céu, seja porque atuam de qualquer outra forma que se o queira. Será possível encontrar alguém que admita essa causalidade e, todavia, negue que tudo está repleto de deuses?”


Então, de certa forma ecoando este tipo de entendimento, no encerramento de sua obra Tarnas concluiu:
“Os dados que temos hoje sugerem que o que Platão chamou de ‘ordem mundial’ é um tipo especial de ordem. Os indícios apontam um princípio de ordenação cósmica cuja combinação de cocriatividade participativa, complexidade versátil e indeterminação dinâmica não era compreensível totalmente para a visão antiga, nem mesmo para uma visão tão complexa e penetrante quanto a de Platão.
[...] As evidências indicam que o cosmos é intrinsecamente significativo para a consciência humana e coerente com ela; que a Terra é um importante ponto focal deste significado, um centro móvel de significado cósmico em um mundo em evolução, dando-se o mesmo com cada ser humano; que o tempo não é apenas quantitativo, mas também qualitativo, de modo que diferentes períodos de tempo são marcados por dinâmicas arquetípicas que são perceptivelmente diferentes; e, finalmente, que o cosmos, como uma totalidade viva, parece ser moldado por algum tipo de inteligência criativa e onipresente, uma inteligência de poder, complexidade e sutileza estética mal concebível, mas que está intimamente conectada com a inteligência humana e da qual podemos participar conscientemente”.
Este é o ponto, a meu ver, em que o estupendo estudo de Tarnas fica manco: a exata causa das coincidências temporais verificadas entre arranjos planetários e o que se supõe ser pressão de arquétipos sobre a existência. Segundo ele, e por isto diz que “é e continuará sendo um mistério”, isto se dá pela obediência aos desígnios de uma “inteligência criativa e onipresente” cósmica (vale dizer: Deus) que, etapa a etapa, vai “moldando” o que ocorre no cosmo.
Não estou argumentando que não haja algo como esta “inteligência criativa e onipresente” universal, já que não se pode provar sua existência ou inexistência: é questão de crença e fé. Mas, no que tange à Astrologia, é explicação metafísica das causas, o que nada avança sobre o que se crê desde o primeiro dos sumérios.
No meu entendimento, dá-se diferente. Vendo este assunto pelas hipóteses dos arquétipos, de Carl Jung, e dos campos morfogênicos, de Rupert Sheldrake, como detalhei em Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé, o que se verifica não é misterioso em nada e não requer hipótese teísta alguma (mesmo que disfarçada em “inteligência criativa e onipresente”), independente da crença pessoal que se tenha.
Formas de expressão mental e ou enérgico-material já existidas deram origem a campos morfogênicos, ou arquétipos, que passaram a existir em uma ordem fora do espaço-tempo e, a partir de lá, a cocausar no tempo e no espaço expressões similares às originárias, nos períodos posteriores à sua formação inicial e em âmbito individual ou coletivo, bem como ambiental (seja em coisa, evento ou pessoa).
Sobre tudo isso, informando que nos trechos a seguir os itálicos e colchetes em citações são meus, como também os apliquei antes, cito o Nobel Wolfgang Pauli, físico quântico que trabalhou com Jung sobre o conceito de arquétipos.


Pauli disse:
“Os fatores de ordenação devem ser considerados além da distinção de ‘físico’ e ‘psíquico’ [...] Sou muito a favor de chamar esses arquétipos de ‘fatores ordenadores’, mas seria inadmissível defini-los como conteúdos [exclusivos] da psique. Em vez disso, as imagens internas são manifestações psíquicas dos arquétipos, que, no entanto, também teriam que criar, produzir, causar tudo no mundo material que acontece de acordo com as leis da natureza. As leis do mundo material se refeririam, portanto, às manifestações físicas dos arquétipos”.
Jung declarou:
A característica peculiar do arquétipo é que ele se manifesta não apenas psíquico-subjetivamente, mas também físico-objetivamente; em outras palavras, é possível que venha a ser provado ser uma ocorrência interna psíquica e também externa física”.


Já, quanto aos campos morfogênicos, Rupert Sheldrake teorizou:
[A hipótese] “propõe que campos morfogênicos específicos são responsáveis pela forma característica e pela organização de sistemas em todos os níveis de complexidade [...] Estes campos ordenam os sistemas aos quais eles se associam, afetando eventos que, de um ponto de vista enérgico, parecem indeterminados ou probabilísticos; eles [os campos] restritivamente impõem padrões nas possibilidades de manifestação enérgica dos processos físicos” [codeterminando, em decorrência, as suas formas e funções].
[...] Eles são associados a [e decorrentes de] eventos similares prévios [isto é, já acontecidos]: os campos morfogênicos de todos os sistemas passados se tornam presentes em todo sistema similar subsequente [ou posterior]; as estruturas dos sistemas passados afetam os sistemas subsequentes por meio de uma influência cumulativa que atua através do espaço e do tempo”.


[...] Proponho uma visão evolucionária da realidade, na qual esses arquétipos – os campos morfogênicos que modelam as formas – não são considerados fixos. São afetados pelo que acontece no tempo, sobre os quais as formas sucedentes exercem efeito cumulativo. Eis aí a principal diferença [com] as teorias platônica e aristotélica. [É] um processo de mão dupla. O campo morfogênico é [originariamente] elaborado pelo que acontece no espaço-tempo, no mundo fenomênico. Os campos morfogênicos ajudam a modelar e determinar as coisas no mundo, e as formas presentes [e sucessivas] das coisas [causadas] os realimentam, afetando os campos morfogênicos de maneira cumulativa [pela geração de novos hábitos]. Portanto, os próprios campos morfogênicos têm desenvolvimento evolucionário”.
Mais de 20 anos antes da hipótese dos campos morfogênicos, Jung professara:
“O arquétipo é universal, isto é, sempre e em toda parte é idêntico a si mesmo. Se for tratado corretamente, nem que seja num lugar apenas, ele é influenciado como um todo, isto é, simultaneamente e em toda parte”, pois “aquilo que acontece na consciência humana tem um efeito retroativo sobre o arquétipo inconsciente”.
Para elucidar como seria isso, quer chamemos de campo morfogênico ou de arquétipo, transcrevo um trecho de Astrologia em Diálogo com a Ciência e a Fé:


“Ocorrido o fenômeno A, conforme às suas possibilidades enérgicas e materiais (causa material), seu surgimento origina (a) o campo morfogênico A’, correlacionado ao (e decorrente do) fenômeno A (por espécie de fenômeno e tipo de hábitos de ocorrência que o caracterizam entre todos os outros fenômenos).
Em um segundo instante, quando o fenômeno B ocorre, ele decorre em parte (b) das propriedades de A (em sua típica espécie de fenômeno, entre todas as variadas espécies existentes de fenômenos) e também é, de algum modo, cocausado (c) pelo campo morfogênico A’ (que atua como causa formal).
Ao ocorrer, o fenômeno B atua por ressonância mórfica sobre o campo morfogênico (d), fazendo com que o campo evolua do estágio A’ para o estágio B’, isto é, sendo ainda o mesmo campo morfogênico, mas em alguma medida já alterado por recursividade (ou retroação).
Em um terceiro momento, quando o fenômeno C ocorre, ele decorre (e) em parte das propriedades de B (quanto à espécie de fenômeno, causa material) e é ao mesmo tempo cocausado (f) pelo campo morfogênico (o mesmo campo, causa formal) em seu estágio B’.
[...] Como se vê pelas linhas pontilhadas que indicam os sucessivos estágios evolutivos do campo morfogênico, de A’ para B’ para C’, etc., vai se constituindo uma memória de hábitos, tão mais consistente e passível de evocação em futuros fenômenos de mesmo tipo e espécie, quanto mais vezes o campo morfogênico vier a ser recursivamente reafirmado por retroatividade e, por isso, passe a ser tão mais determinante na cocausação dos fenômenos que se associam a ele (isto é, a este específico campo morfogênico, dentre todos os campos morfogênicos existentes)”.
Avançando, ao discutir dinâmicas humanas coletivas Sheldrake supôs:
“Minha hipótese é que as sociedades têm campos mórficos sociais e culturais que abrangem e ordenam tudo o que reside dentro deles. Embora composta por milhares e milhares de seres humanos individuais, a sociedade pode funcionar e responder como um todo unificado por meio das características de seu campo morfogênico” [que é fruto de dinâmicas sociais anteriores].
Neste exato sentido, ouça este curto áudio que gravei de uma recente entrevista do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que já foi listado pela Scientific American como um dos 20 mais importantes cientistas do mundo em sua área.


Mas o que os supostos efeitos de arquétipos, ou campos morfogênicos, têm a ver com os símbolos da Astrologia?
Em meu modo de entender, os seres humanos puderam associar no decorrer da história específicos efeitos verificados no mundo (em âmbito pessoal, grupal, social ou ambiental) a característicos padrões zodiacais, gerando com isso um magnifico repertório de símbolos astrológicos polissêmicos (cada qual, conforme à própria cultura), que, daí por diante, seria suficiente para denotar, em ato de diagnose ou prognose, que tipo de efeitos probabilisticamente se poderia esperar junto a quais padrões zodiacais, a cada instante e local do espaço-tempo, segundo a pressão arquetípica característica denotada por cada símbolo ou arranjo de símbolos e de acordo com o tipo de objeto analisado (coisa, evento ou pessoa).


Simples, assim.
Por isso, como escrevi em Astrologia e Cristianismo em diálogo:
“Não precisa, e a meu ver nem deve, haver referência a Deus para pensar em fatores imateriais e intemporais de cocausação, ou se supor que tais fatores decorrem exclusivamente de direta ação divina. Podemos deixar Deus fora desta discussão e avançar nela independente de em que se creia, dando-se o mesmo com a Astrologia, que é matéria de razão e, não, de fé”.
Se para Tarnas “a Terra é um importante ponto focal deste significado, um centro móvel de significado cósmico em um mundo em evolução” (afirmando, com isso, um certo geocentrismo, além do suposto antropocentrismo universal já alegado por ele em o cosmos é intrinsecamente significativo para a consciência humana e coerente com ela, e não vendo o contrário, ou seja, a consciência sendo coerente com o cosmos em que ela se originou), cabe relembrar um singelo conceito que Jung expôs em A natureza de psique: “a psique é o eixo do mundo”.
O mundo só é mundo para quem o percebe e conceitua, e nada disto ocorre sem a participação ativa da psique, sem que nada indique, por qualquer ponto de vista não metafísico, que a espécie humana seja o ponto focal de atenção de uma “inteligência criativa e onipresente”, cocriativa, complexa e dinamicamente indeterminada, que tenha algum “significado cósmico” específico.
Terá igual convicção um habitante de, digamos, Alpha Centauri?
Seguramente, não: para a mente deste habitante (seja como for o habitante e sua mente), o seu planeta é o ponto focal do seu “mundo em evolução” e o que para ele parecer ser o “significado cósmico” bem provavelmente é tido por ele como o mais importante de todos.

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