Uma
no cravo e, outra, na ferradura.
Depois
de ter publicado meu último post, A demarcação científica da Astrologia, em que me debrucei principalmente
sobre a necessidade de haver comprovação empírica das afirmações diagnósticas e
prognósticas que a Astrologia emite, para que as Ciências possam um dia verdadeiramente
interessar-se por ela, pus-me a pensar na teoria, já que uma coisa é comprovar
que a Astrologia funciona e, outra, é hipotetizar sobre como ela funciona.
Afinal,
quando as Ciências se aproximarem da Astrologia, como é bom que isto ocorra,
que modelo teórico de Astrologia será apresentado para conhecimento e avaliação?
Rememorei
o astrólogo e professor de Astrologia Ivan Freitas apresentando na Astrológica 2019 uma semelhança simbólica
verificada entre as Cartas astrológicas referentes a 1934 e 2016, analisadas
pela Astrologia Mundial.
Como
ele ali apresentou en passant, 1934
foi o ano em que Adolf Hitler assumiu de vez o poder na Alemanha, como Chanceler
e Presidente, implantando para valer o nazismo, e em 2016 começaram a surgir
das sombras grupos neonazistas alemães, em um tipo de dinamismo social que vem
se desdobrando em vários países do mundo na quadra que ainda atravessamos. Em
ambos os períodos, 1934 e 2016, registravam-se Quadraturas entre os Planetas exteriores
Urano e Plutão.
(Aliás,
para cogitar a respeito do fundo da mente coletiva brasileira, a Carta Natal do
Brasil exibe uma Quadratura entre Urano e Plutão e, em junho de 2013, início do
que passamos a viver, ambos os planetas estavam em exatíssimos 90º um do outro.)
Lembrei
também de Nicholas Campion, ex-Presidente da Associação Britânica de Astrologia
e Diretor do Sophia Centre para o Estudo da Cosmologia na Cultura, na
University of Wales Trinity Saint David, na Inglaterra, tido como um dos
maiores especialistas internacionais em Astrologia Mundial (ou Mundana).
Em
uma entrevista à revista norte-americana The Mountain Astrologer, em maio de 2013 ele declarou:
“A moderna Astrologia Mundial é, em grande parte,
uma prática sem teoria. No entanto, uma prática sem teoria não tem como
entender ou melhorar a si mesma. Tampouco há muito método sistemático na
Astrologia Mundial contemporânea. Para estabelecer ambos [teoria e método], é preciso
referir-se às autoridades do passado na disciplina”.
Esta
rememoração me levou a revisitar a obra Cosmos
and psyche, de Richard Tarnas, um dos mais expressivos estudos sobre
Astrologia Mundial que conheço – eu, que bem pouco entendo de Astrologia
Mundial.
Para
quem queira conhecer Astrologia Mundial e Astrologia Arquetípica, esta obra
parece-me fundamental por várias razões.
Primeiro,
pelo perfil pessoal de Tarnas, que é psicólogo, historiador cultural e fundador
e diretor do curso de Filosofia, Cosmologia e Consciência do California
Institute of Integral Studies, em São Francisco.
Segundo,
pelo tipo de formação que teve: não sendo astrólogo, e tendo vivido e trabalhado
por uma década no Esalem Institute, na Califórnia, um dos núcleos acadêmicos mais
instigantes da história ocidental contemporânea, Tarnas pôde conviver de perto com
gigantes intelectuais como Abraham Maslow, Gregory Bateson, James Hilmann,
Joseph Campbell e Stanislav Grof.
Terceiro,
porque nesta obra, premiada internacionalmente, ele apresenta mais de 400
páginas repletas por uma centena de importantes eventos sociopolíticos,
macroeconômicos, culturais e científicos ocorridos nos últimos séculos,
analisando-os sob o que a ele parece ser a marca arquetípica de Conjunções,
Quadraturas e Oposições havidas entre os Planetas transpessoais (Urano, Netuno
e Plutão) e entre eles e Saturno, no tempo exato em que tais eventos ocorriam.
É
levantamento de fôlego, inteiramente amparado em registro e análise histórica
de eventos massivos ocorridos em variadas regiões do mundo: revoluções
políticas, movimentos abolicionistas, feministas e ou libertários de costumes, fundamentais inovações
científicas e ou tecnológicas, brotamento de novos e expressivos paradigmas
artísticos, literários e musicais, etc.
Tarnas,
em decorrência das pesquisas elaboradas, em 2006 denominou o que estudara de “Astrologia
Arquetípica” (Archetypal Astrology), de modo semelhante ao que eu viria a apresentar
em Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé.
Todavia,
em meu entender – e esta é crucial diferença entre nossas formas de
compreensão –, ele incorre em um viés neoplatônico que o leva a supor haver uma
“intenção cósmica” na justaposição temporal e espacial entre eventos zodiacais
e pressões arquetípicas, como se um “grande espírito sideral” engendrasse as
distintas fases evolutivas da existência, em obediência a um pressuposto plano
geral de desenvolvimento cósmico que tem a Terra por ponto focal.
Como
penso, esta justaposição espácio-temporal observada não é metafísica e nem é, com
propriedade, apenas ocorrência de sincronicidade, embora possa ter parecido ser
assim.
Quero demonstrar que aquilo que somente parece ser, assim parece
devido às magníficas associações estabelecidas pela mente humana no decorrer de
milênios de continuada observação do que é um conjunto de significantes, as
ocorrências zodiacais, que foram matematicamente estabelecidos e simbolicamente
denotam o que, onde e quando, tem alta probabilidade de ocorrer por pressão
arquetípica.
Para
isso, terei de apresentar trechos de Cosmos
and Psique, traduzidos de modo livre para este post, já que ainda não há versão
em português.
Tendo
base no que conhecia de Psicologia dos arquétipos, Tarnas relatou:
“Em essência, a
astrologia [como ele foi descobrindo ao longo das pesquisas] parecia oferecer
um tipo singularmente útil de compreensão da atividade dinâmica dos arquétipos
na experiência humana, pois indicava quais eram os mais operacionais em um caso
específico, em que tipo de combinações, em que períodos de tempo e decorrendo
de que configurações [ou Aspectos planetários] principais. Com tal perspectiva,
esse desenvolvimento emergente da tradição astrológica pode essencialmente ser
considerado como sendo uma continuação aprofundada do projeto da psicologia
profunda, a saber, tornar o inconsciente consciente.
[...] Juntamente com muitos colegas e
estudantes, continuei esta pesquisa com firmeza por três décadas. O que eu
achei excedeu minhas expectativas. Parte
disso é e continuará sendo um mistério, mas depois da investigação e da
avaliação crítica mais rigorosa de que sou capaz, cheguei à convicção de que há
uma correspondência extremamente significativa – e oniabrangente – entre
movimentos planetários e assuntos humanos, e que a suposição moderna na direção
oposta estava errada.
[...] Comprovei que
a perspectiva astrológica arquetípica, bem entendida, tem uma capacidade única
para esclarecer a dinâmica tanto da história cultural, quanto da biografia
pessoal. Proporciona uma extraordinária penetração nos padrões mutáveis e mais
profundos da psique individual e coletiva, assim como na complexa natureza
participativa da realidade humana.
[...] A evidência
não sugere que os planetas sejam eles mesmos causas de vários eventos ou traços
de caráter, mas, sim, que existe uma correspondência empírica coerentemente
significativa entre os dois conjuntos de fenômenos, o astronômico [eu diria
zodiacal] e o humano, e que o mais frutífero é abordar o princípio da conexão
entre eles como uma certa forma de sincronicidade através de arquétipos”.
Sendo
psicólogo e ao mesmo tempo cientista social (historiador cultural), Tarnas
optou por delimitar o campo de estudo por meio de eventos de grande amplitude
sociopolítica, econômica, tecnológica e ou cultural, fartamente documentados, nos
quais se verificou o tipo de perfil comportamental coletivo que se esperaria do
“efeito” dos Planetas exteriores sobre o comportamento humano, se tomado pessoa
a pessoa (que é mais difícil de detectar e registrar com precisão e fidelidade).
Ele
explanou:
“Os significados
arquetípicos [atribuídos aos] três planetas exteriores parecem derivar
principalmente de correlações observadas no estudo de mapas natais individuais
e trânsitos pessoais, bem como nos fenômenos históricos das épocas em que esses
planetas foram descobertos. Quando apliquei esses significados a esta categoria
completamente distinta de fenômenos – a análise de períodos da história em que
os planetas exteriores formaram alinhamentos no céu e nos quais, em teoria, os
arquétipos correspondentes atingiram sua máxima ativação na psique coletiva –
as conexões empíricas que encontrei me impressionaram muito. Esses amplos alinhamentos
dos planetas exteriores pareciam coincidir de maneira sistemática com prolongados
períodos históricos em que um particular complexo arquetípico era claramente
hegemônico na psique coletiva e definia, por assim dizer, o Zeitgeist [ou
espírito do tempo] daquele momento cultural. O complexo arquetípico predominante
[nestes casos] sempre era claramente composto dos princípios associados aos
planetas alinhados, como se esses arquétipos interagissem, se fundissem e se
influenciassem mutuamente”.
Quanto
às dinâmicas arquetípicas associáveis aos Planetas estudados por ele, Tarnas
detalhou:
“Vamos resumidamente
recapitular a natureza dos princípios arquetípicos associados. O planeta Urano
parece se correlacionar a eventos e fenômenos biográficos que sugerem um
princípio arquetípico de caráter essencialmente promissor [e prometeico]:
emancipatório, rebelde, progressivo, inovador, incitante, perturbador e
desestabilizador, imprevisível, útil para catalisar novos começos e mudanças,
de modo súbito ou inesperado.
[...] O planeta
Plutão, ao contrário, está associado a um princípio arquetípico de caráter
dionisíaco: elementar, instintivo, poderoso, urgente, extremo em intensidade,
surgindo das profundezas, a um tempo só libidinal e destrutivo, avassalador e
transformador [...] No nível coletivo, o princípio arquetípico associado a
Plutão é considerado uma dimensão prodigiosa e titânica, que transmite poder,
intensidade e urgência a tudo o que afeta em escala maciça.
[Na pesquisa] enquanto os períodos [...] Urano-Plutão sistematicamente
coincidem com amplos levantes revolucionários, impulsos renovados para a
emancipação e inovação cultural radical, os sucessivos alinhamentos [...] dos
ciclos Saturno-Plutão coincidem com períodos históricos [mais breves, mas]
particularmente desafiadores, marcados por uma atmosfera de grande contração:
tempos de crise e conflito internacional, de empoderamento das forças
reacionárias e dos impulsos totalitários, de violência organizada e opressão,
tudo às vezes marcado por persistentes efeitos traumáticos. Estes períodos [...]
tendem a ser seguidos por uma atmosfera de gravidade e um sentido prolongado de
fim de época: ‘o fim de uma era’, ‘o fim da inocência’, ‘a destruição de um
modo de vida anterior’ que, olhando para trás, poderia ser caracterizado por
grande complacência, decadência, ingenuidade e vaidade. Como no ciclo
Urano-Plutão, a questão predominante é a transformação profunda, mas, neste
caso, por meio de contração, crise e reação conservadora.
[...] Devo
esclarecer que os períodos coincidentes com esses alinhamentos [ele fala de
Conjunções, Quadraturas e Oposições] não marcaram anos em que os eventos
históricos e as tendências culturais que os caracterizavam subitamente
apareceram e desapareceram, como se fossem acionados por um interruptor
elétrico. Em vez disso, os períodos em questão pareciam representar momentos em
que tendências continuadas, e algumas vezes de longo prazo de desenvolvimento,
atingiam o ponto de ebulição, por assim dizer, ou seja, um ponto em que certo
estímulo ou realização desencadeia fenômenos culturais destacados, fazendo com
que essas tendências emerjam na consciência coletiva de forma explícita e
espetacular. A partir desse ponto decisivo [...], ou clímax, essas tendências
culturais continuam a se desdobrar de maneiras diferentes nos anos e décadas
seguintes, após o alinhamento [dos planetas] ter transcorrido”.
Na
explicação desta dinâmica geral verificada no tempo, Tarnas mencionou o Livro X
de Leis, de Platão. Neste texto, o filósofo
grego afirmara:
“No que diz respeito
a todos os astros e a Lua, e no que tange aos anos, meses e todas as estações,
o que nos caberia fazer senão essa mesma afirmativa, a saber, que já que ficou
demonstrado que são todos eles [os Planetas] movidos por uma ou mais almas, que
são dotadas de todas as virtudes, declararemos que essas almas são deuses, seja
porque, alojadas nos corpos [celestes], como seres vivos que são, organizam
todo o céu, seja porque atuam de qualquer outra forma que se o queira. Será
possível encontrar alguém que admita essa causalidade e, todavia, negue que
tudo está repleto de deuses?”
Então,
de certa forma ecoando este tipo de entendimento, no encerramento de sua obra
Tarnas concluiu:
“Os dados que temos
hoje sugerem que o que Platão chamou de ‘ordem mundial’ é um tipo especial de
ordem. Os indícios apontam um princípio
de ordenação cósmica cuja combinação de cocriatividade participativa,
complexidade versátil e indeterminação dinâmica não era compreensível totalmente
para a visão antiga, nem mesmo para uma visão tão complexa e penetrante quanto
a de Platão.
[...] As evidências indicam
que o cosmos é intrinsecamente significativo para a consciência humana e
coerente com ela; que a Terra é um
importante ponto focal deste significado, um centro móvel de significado cósmico
em um mundo em evolução, dando-se o mesmo com cada ser humano; que o tempo
não é apenas quantitativo, mas também qualitativo, de modo que diferentes
períodos de tempo são marcados por dinâmicas arquetípicas que são
perceptivelmente diferentes; e, finalmente, que o cosmos, como uma totalidade viva, parece ser moldado por algum tipo
de inteligência criativa e onipresente, uma inteligência de poder, complexidade
e sutileza estética mal concebível, mas que está intimamente conectada com a
inteligência humana e da qual podemos participar conscientemente”.
Este
é o ponto, a meu ver, em que o estupendo estudo de Tarnas fica manco: a exata causa
das coincidências temporais verificadas entre arranjos planetários e o que se supõe
ser pressão de arquétipos sobre a existência. Segundo ele, e por isto diz que “é
e continuará sendo um mistério”, isto se dá pela obediência aos desígnios de
uma “inteligência criativa e onipresente” cósmica (vale dizer: Deus) que, etapa
a etapa, vai “moldando” o que ocorre no cosmo.
Não
estou argumentando que não haja algo como esta “inteligência criativa e
onipresente” universal, já que não se pode provar sua existência ou inexistência:
é questão de crença e fé. Mas, no que tange à Astrologia, é explicação
metafísica das causas, o que nada avança sobre o que se crê desde o primeiro dos
sumérios.
No
meu entendimento, dá-se diferente. Vendo este assunto pelas hipóteses dos
arquétipos, de Carl Jung, e dos campos morfogênicos, de Rupert Sheldrake, como detalhei
em Astrologia em diálogo com a Ciência e
a Fé, o que se verifica não é misterioso em nada e não requer hipótese
teísta alguma (mesmo que disfarçada em “inteligência criativa e onipresente”),
independente da crença pessoal que se tenha.
Formas
de expressão mental e ou enérgico-material já existidas deram origem a campos
morfogênicos, ou arquétipos, que passaram a existir em uma ordem fora do espaço-tempo
e, a partir de lá, a cocausar no tempo e no espaço expressões similares às
originárias, nos períodos posteriores à sua formação inicial e em âmbito individual
ou coletivo, bem como ambiental (seja em coisa, evento ou pessoa).
Sobre tudo isso, informando que nos trechos a seguir os itálicos e
colchetes em citações são meus, como também os apliquei antes, cito o Nobel Wolfgang
Pauli, físico quântico que trabalhou com Jung sobre o conceito de arquétipos.
Pauli
disse:
“Os fatores de
ordenação devem ser considerados além da distinção de ‘físico’ e ‘psíquico’
[...] Sou muito a favor de chamar esses arquétipos de ‘fatores ordenadores’, mas seria
inadmissível defini-los como conteúdos [exclusivos] da psique. Em vez disso, as imagens internas são manifestações
psíquicas dos arquétipos, que, no entanto,
também teriam que criar, produzir, causar tudo no mundo material que acontece
de acordo com as leis da natureza. As
leis do mundo material se refeririam, portanto, às manifestações físicas dos
arquétipos”.
Jung
declarou:
“A característica peculiar do arquétipo é que ele se
manifesta não apenas psíquico-subjetivamente, mas também físico-objetivamente;
em outras palavras, é possível que venha
a ser provado ser uma ocorrência interna psíquica e também externa física”.
Já, quanto aos campos morfogênicos, Rupert Sheldrake
teorizou:
[A hipótese] “propõe que campos
morfogênicos específicos são responsáveis pela forma
característica e pela organização de sistemas em todos os níveis de
complexidade [...] Estes campos ordenam os sistemas aos quais eles se associam,
afetando eventos que, de um ponto de vista enérgico, parecem indeterminados ou
probabilísticos; eles [os campos] restritivamente impõem padrões nas
possibilidades de manifestação enérgica dos processos físicos” [codeterminando,
em decorrência, as suas formas e funções].
[...] Eles são associados a [e decorrentes de]
eventos similares prévios [isto é, já
acontecidos]: os campos morfogênicos de todos os sistemas passados se
tornam presentes em todo sistema similar subsequente [ou posterior]; as
estruturas dos sistemas passados afetam os sistemas subsequentes por meio de
uma influência cumulativa que atua através do espaço e do tempo”.
[...] Proponho uma
visão evolucionária da realidade, na qual esses
arquétipos – os campos morfogênicos que modelam as formas – não são
considerados fixos. São afetados pelo que acontece no tempo, sobre os quais as
formas sucedentes exercem efeito cumulativo. Eis aí a principal diferença [com]
as teorias platônica e aristotélica. [É] um processo de mão dupla. O campo
morfogênico é [originariamente] elaborado pelo que acontece no espaço-tempo, no
mundo fenomênico. Os campos morfogênicos ajudam a modelar e
determinar as coisas no mundo, e as formas presentes [e sucessivas] das coisas [causadas] os realimentam, afetando os campos
morfogênicos de maneira cumulativa [pela geração de
novos hábitos]. Portanto, os próprios campos morfogênicos têm desenvolvimento evolucionário”.
Mais de 20 anos antes da hipótese dos campos morfogênicos,
Jung professara:
“O arquétipo é
universal, isto é, sempre e em toda parte é idêntico a si mesmo. Se for tratado
corretamente, nem que seja num lugar apenas, ele é influenciado como um todo,
isto é, simultaneamente e em toda parte”, pois “aquilo
que acontece na consciência humana tem um efeito retroativo sobre o arquétipo
inconsciente”.
Para
elucidar como seria isso, quer chamemos de campo morfogênico ou de arquétipo, transcrevo
um trecho de Astrologia em Diálogo com a
Ciência e a Fé:
“Ocorrido o fenômeno
A, conforme às suas possibilidades
enérgicas e materiais (causa material), seu surgimento
origina (a) o campo morfogênico A’, correlacionado ao (e decorrente do)
fenômeno A (por espécie de fenômeno
e tipo de hábitos de ocorrência que o caracterizam entre todos os outros
fenômenos).
Em um segundo
instante, quando o fenômeno B
ocorre, ele decorre em parte (b) das
propriedades de A (em sua típica
espécie de fenômeno, entre todas as variadas espécies existentes de fenômenos)
e também é, de algum modo, cocausado (c)
pelo campo morfogênico A’ (que atua
como causa formal).
Ao ocorrer, o
fenômeno B atua por ressonância
mórfica sobre o campo morfogênico (d), fazendo com que o campo evolua do estágio A’ para o estágio B’,
isto é, sendo ainda o mesmo campo morfogênico, mas em alguma medida já alterado
por recursividade (ou retroação).
Em um terceiro
momento, quando o fenômeno C ocorre,
ele decorre (e) em parte das
propriedades de B (quanto à espécie
de fenômeno, causa material) e é ao mesmo tempo
cocausado (f) pelo campo morfogênico
(o mesmo campo, causa formal) em seu estágio B’.
[...] Como se vê
pelas linhas pontilhadas que indicam os sucessivos estágios evolutivos do campo
morfogênico, de A’ para B’ para C’, etc., vai se constituindo uma memória de hábitos, tão mais
consistente e passível de evocação em futuros fenômenos de mesmo tipo e
espécie, quanto mais vezes o campo morfogênico vier a ser recursivamente
reafirmado por retroatividade e, por isso, passe a ser tão mais determinante na
cocausação dos fenômenos que se associam a ele (isto é, a este específico campo
morfogênico, dentre todos os campos morfogênicos existentes)”.
Avançando,
ao discutir dinâmicas humanas coletivas Sheldrake supôs:
“Minha hipótese é que as sociedades têm campos mórficos
sociais e culturais que abrangem e ordenam tudo o que reside dentro deles.
Embora composta por milhares e milhares de seres humanos individuais, a
sociedade pode funcionar e responder como um todo unificado por meio das
características de seu campo morfogênico” [que é fruto de dinâmicas sociais
anteriores].
Neste exato sentido, ouça este curto áudio que gravei de uma
recente entrevista do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que já foi
listado pela Scientific American
como um dos 20 mais importantes cientistas do mundo em sua área.
Mas o que os supostos efeitos de arquétipos, ou campos morfogênicos,
têm a ver com os símbolos da Astrologia?
Em meu modo de entender, os seres humanos puderam associar
no decorrer da história específicos efeitos verificados no mundo (em âmbito
pessoal, grupal, social ou ambiental) a característicos padrões zodiacais,
gerando com isso um magnifico repertório de símbolos astrológicos polissêmicos (cada
qual, conforme à própria cultura), que, daí por diante, seria suficiente para denotar,
em ato de diagnose ou prognose, que tipo de efeitos probabilisticamente se
poderia esperar junto a quais padrões zodiacais, a cada instante e local do
espaço-tempo, segundo a pressão arquetípica característica denotada por cada
símbolo ou arranjo de símbolos e de acordo com o tipo de objeto analisado
(coisa, evento ou pessoa).
Simples, assim.
Por isso, como escrevi em Astrologia e Cristianismo em diálogo:
“Não precisa, e a meu ver nem deve, haver
referência a Deus para pensar em fatores imateriais e intemporais de
cocausação, ou se supor que tais fatores decorrem exclusivamente de direta ação
divina. Podemos deixar Deus fora desta discussão e avançar nela independente de
em que se creia, dando-se o mesmo com a Astrologia, que é matéria de razão e,
não, de fé”.
Se para Tarnas “a Terra é um importante ponto focal deste
significado, um centro móvel de significado cósmico em um mundo em evolução”
(afirmando, com isso, um certo geocentrismo, além do suposto antropocentrismo universal
já alegado por ele em “o cosmos é intrinsecamente
significativo para a consciência humana e
coerente com ela“, e não vendo o contrário, ou seja, a
consciência sendo coerente com o cosmos em que ela se originou), cabe relembrar
um singelo conceito que Jung expôs em A natureza de
psique: “a psique é o eixo do mundo”.
O mundo só é mundo
para quem o percebe e conceitua, e nada disto ocorre sem a participação ativa
da psique, sem que nada indique, por qualquer ponto de vista não metafísico, que
a espécie humana seja o ponto focal de atenção de uma “inteligência criativa e
onipresente”, cocriativa, complexa e dinamicamente indeterminada, que tenha algum
“significado cósmico” específico.
Terá igual convicção
um habitante de, digamos, Alpha Centauri?
Seguramente, não:
para a mente deste habitante (seja como for o habitante e sua mente), o seu planeta é o ponto focal do seu
“mundo em evolução” e o que para ele parecer ser o “significado cósmico” bem
provavelmente é tido por ele como o mais
importante de todos.
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