Na Astrológica 2019 apresentei o que a mim parece um caminho
inevitável daqui em frente para a Astrologia, embora deva ser pavimentado aos
poucos, tantas são as opiniões a conciliar (e os preconceitos, pró ou contra, a
superar): a validação pública de um campo de conhecimentos científicos
denominado “Ciências Astrológicas”, expressado por meio de diferentes
especializações técnicas da Astrologia.
Parti da constatação de que astrólogos(as)
costumam ser generalistas, tanto no aprendizado quanto no exercício
profissional, adaptando os significados dos símbolos que manejam ao tipo de
assunto que estiver em análise a cada vez: o comportamento de alguém, o corpo
humano, o mundo dos negócios ou das finanças, o estado geral da coletividade, o
momento mais adequado para dar início a algo, uma relação humana (pessoal ou
profissional), e assim por diante. Desta forma, tratam de tudo um pouco, cada
qual em sua preferência e com seu grau de conhecimento ou competência
interpretativa e expositiva.
Também parti da existência de variadas
Modalidades astrológicas, todas elas recebendo o nome de “Astrologia”, embora
sejam linguagens diferentes elaboradas com referenciais e elementos simbólicos também
distintos: para citar os exemplos mais comumente mencionados, a Astrologia
Ocidental (a mais conhecida no Brasil), a Astrologia Jyotisha (ou Védica hindu)
e a Astrologia Chinesa.
Então, já não bastasse a polissemia (ou
múltiplos e simultâneos significados) dos símbolos astrológicos que cada
Astrologia usa, sempre interpretados exatamente de acordo com o tipo de fenômeno que estiver em avaliação (coisa, evento ou pessoa),
ainda há que ser enfrentada a dificuldade de lidar com dessemelhantes sistemas
simbólicos ao se mencionar “Astrologia”.
Não é à toa que para muita gente que
não conhece melhor Astrologia isso parece sandice: o mesmo tipo de coisa
apontando diferentes significados ou o mesmo tipo de significado sendo apontado
por diferentes coisas!
Então, no que pude apresentar foquei
em explicar por que me parecia ser imprescindível evoluir para especializações astrológicas
demarcadas, definindo o repertório de significados para cada tipo de objeto de
análise (coisa, evento ou pessoa), pois o que pretendo é ajudar a fortalecer um
reconhecimento científico do verdadeiro valor (que é imenso!) dos conhecimentos
astrológicos.
De passagem, na mesma apresentação mencionei
o modelo teórico que vim desenvolvendo como hipótese explicativa da efetividade
da Astrologia, a qual, a meu ver, se apoia em causas naturais e, não, em causas
metafísicas, hipótese que apresentei em detalhes no meu mais recente livro,
“Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé”.
Fez parte do desenvolvimento do
modelo, que desde 2013 venho denominando “Astrologia Arquetípica”, a concepção
do que chamei de “Teorema da Astrologia Arquetípica” – e a fugaz menção a este
teorema, sem a devida explicação detalhada (em função do tempo curto para a
exposição), suscitou comentários que se prolongaram aqui ou ali até o segundo dia
da Astrológica 2019, como se tivesse
sido minha a intenção de “colocar a Astrologia numa caixinha” ou “transformar a
vida em uma fórmula matemática”, o que é impossível.
Quis, então, detalhar este particular
aspecto do modelo, para que, com melhor conhecimento, se possa concordar ou
discordar do que apresentei.
Coincidência
de padrões observados
A estrutura conceitual do modelo da
“Astrologia Arquetípica” se elaborou sobre a premissa de que, no transcorrer do
tempo, e falo de milênios, os seres humanos observaram a ocorrência de específicos
padrões na existência (em si, em outrem e no ambiente) e, no mesmo tempo, a
ocorrência de determinados padrões zodiacais.
Então, ao tentar entender e explicar as
causas das ocorrências terrestres, base de qualquer doutrina ou filosofia, esta
coincidência de padrões simultâneos “lá” e “cá” levou quem estudava o assunto
(os sábios de cada época e lugar) a supor que o que se via no céu, referenciado
ao Zodíaco, era causa do que se observava na Terra.
E já que os padrões celestes eram
perenes, regulares e previsíveis, os sábios supuseram que o seu estudo, apoiado
em relações de coincidências (ou manuais de interpretação), permitiria definir
que padrões terrestres se manifestavam junto com que padrões celestes (“isto = tal
coisa”, “aquilo = outra coisa”, etc.).
Em cada região estas relações de
coincidências foram elaboradas com o peculiar conjunto de referenciais e de
símbolos de cada cultura, de acordo com o que lá se acreditava, embora tudo de
alguma forma se relacionasse ao que era observado no céu, já que o céu e os
movimentos dos corpos celestes eram tidos por todos como que regularmente eternos,
dada a lentidão (para os padrões humanos de tempo) e a marcante previsibilidade
das alterações observadas no céu.
Por óbvio, mesmo supondo haver
relação causal direta entre cada corpo celeste (ou símbolo zodiacal) e cada padrão
(tipo) de ocorrência terrestre, os sábios nunca puderam observar o próprio efeito
dos corpos celestes, em termos materiais ou de energia, tendo por meio de
ordenamento do que se observava apenas o conjunto de ocorrências terrestres
associadas, no espaço-tempo, aos padrões celestes.
No modo de ver da Astrologia
Arquetípica, foi registrado, de fato e a cada vez, o conjunto de efeitos de
arquétipos sobre a realidade manifesta, como fatores ordenadores da expressão
da existência, a despeito
de que se supunha estar sendo apontado o conjunto de efeitos diretos, e metafísicos,
de corpos celestes.
E,
se falo de arquétipos, não estou adotando o sentido utilizado por Platão e por outros
filósofos da Antiguidade, mas referindo-me aos conceitos de Carl Jung sobre o
termo, que foram preciosamente enriquecidos por físicos de Partículas (ou
quânticos) como o Nobel Wolfgang Pauli e encontraram sentido ampliado na noção
dos campos morfogênicos, de Rupert Sheldrake, a partir dos anos 1980.
Jung
declarou: “A característica peculiar do
arquétipo é que ele se manifesta não apenas psíquico-subjetivamente, mas também
físico-objetivamente; em outras palavras, é possível que venha a ser
provado ser uma ocorrência interna psíquica e também externa física”.
Pauli
afirmou: “Os fatores de ordenação devem ser considerados além da distinção de
‘físico’ e ‘psíquico’ [...] Sou muito a favor de chamar esses arquétipos de ‘fatores ordenadores’, mas seria
inadmissível defini-los como conteúdos [exclusivos] da psique. Em vez disso, as
imagens internas são manifestações psíquicas dos arquétipos, que, no entanto, também teriam que
criar, produzir, causar tudo no mundo material que acontece de acordo com as
leis da natureza. As leis do mundo material se refeririam, portanto, às
manifestações físicas dos arquétipos [...] Cada lei natural deveria então ter uma
correspondência interna e vice-versa, mesmo que isso nem sempre seja plenamente
visível hoje”.
Sheldrake explicou, referindo-se aos
campos morfogênicos: “A abordagem que estou apresentando é muito semelhante à
ideia de Jung do inconsciente coletivo. A principal diferença é que a ideia de Jung foi
aplicada unicamente à experiência humana e à memória coletiva humana [já que
ele era um psiquiatra]. O que estou sugerindo é que um princípio muito semelhante
opera em todo o universo, não apenas nos seres humanos”.
(Nas
citações textuais acima, os trechos entre colchetes são meus.)
Estes
avanços conceituais situam os arquétipos entre as categorias da natureza, não metafísicas,
mesmo que ainda não bem entendidos, e tudo isto expliquei em minúcias no livro
“Astrologia em diálogo com a Ciência e a Fé”, razão por que não vou estender-me
aqui sobre isso e, sim, sobre o Teorema da Astrologia Arquetípica.
O Teorema da Astrologia
Arquetípica
O
primeiro passo é explicar de que eu falo, ao mencionar “teorema”.
Não me refiro a fatores algébricos,
como se poderia supor com ligeireza ao lembrar do conhecido Teorema de
Pitágoras: “em um triângulo equilátero o quadrado da hipotenusa é igual ao
quadrado da soma dos catetos”.
Eu falo no sentido mais amplo do
termo, referindo-me ao que, na Matemática e também na Filosofia, é uma conclusão lógica deduzida a partir de fatos, que precisa ser demonstrada para se tornar evidente e pode ser posta em dúvida (como em tudo que se proponha a
ser explicação da existência).
Assim, eu apresentei o Teorema da
Astrologia Arquetípica:
Sejam os postulados:
a. {S1, S2, S3 ... Sn}
= um conjunto de símbolos astrológicos
dos efeitos
de peculiares e específicos campos ordenadores,
b. {C1, C2, C3... Cn}
= um conjunto de padrões ordenados
de
manifestação da existência natural (formas e hábitos),
de acordo com
a espécie de fenômeno que estiver sendo
diagnosticado
ou prognosticado (coisa, evento ou pessoa)
e seja:
c. S1ÞC1, S2ÞC2, S3ÞC3...SnÞCn,
de modo
estável no tempo, onde o símbolo “Þ” significa
“implica” ou
“se... então”,
então:
de {S1,
S2, S3 ... Sn} verificado em uma Carta
astrológica
se deduz {C1,
C2, C3 ... Cn} do fenômeno a que a Carta
astrológica
se refere (seja coisa, evento ou pessoa).
Com, o que, faz-se a diagnose ou
prognose de certo fenômeno manifestado na existência.
O
que busquei alcançar com ele?
Com
S1, S2, S3, etc., refiro-me
aos símbolos astrológicos usados para denotar os tipos de efeito percebidos de
peculiares arquétipos (ou campos ordenadores), com cada símbolo ou arranjo
simbólico sendo correlacionado a um típico padrão de manifestação; com C1, C2, C3, etc., refiro-me a
certos padrões da existência manifesta, conforme ao que esteja sendo analisado
(em coisa, evento ou pessoa).
Ao
correlacionar S e C, isto é, certos símbolos a certos padrões da existência, e
de modo estável e perene (isto é: o significado do símbolo ou arranjo simbólico
se mantém, no tempo), a correlação estabelecida permite a interpretação do
conjunto simbólico que a cada caso a Astrologia oferece para deduzir que padrão
de manifestação ocorre na existência (conforme seja em coisa, em evento ou em
pessoa).
O
teorema indica mais: se os símbolos presentes na Carta natal do fenômeno (seja
coisa, evento ou pessoa) denotam características do fenômeno (em diagnóstico,
conforme ao tipo de fenômeno em análise), os símbolos ou arranjos simbólicos que
estarão presentes no futuro (segundo técnicas preditivas como Trânsitos e
Direções) indicam hoje que características o fenômeno então probabilisticamente terá (em prognóstico,
também conforme ao tipo de fenômeno em análise).
Aplicando-se a todas
as diferentes Astrologias
Mas
por que me pareceu ser útil e necessário um tal Teorema?
Aqui,
adapto um conceito exposto pela astróloga Celisa Beranger, em seu artigo “O problema dos sistemas de casas”. Ela afirma, ao referir-se aos diferentes
sistemas de Casas Astrológicas (Placidus, Regiomontanus, Iguais, Koch,
Porfírio, etc.): “determinadas técnicas foram criadas com um sistema
específico e, neste caso, para utilizar a técnica é preciso respeitar o sistema
indicado”.
Penso
igual quando penso em Astrologia Ocidental, Astrologia Jyotisha, Astrologia
Chinesa, etc.: cada uma é um sistema inteiro e integrado que foi desenvolvido em
seu próprio e exclusivo feitio, por meio dos símbolos e dos arranjos simbólicos
desenvolvidos em cada região (e cultura), e como tal deve ser entendida e
estudada e praticada.
Por
isto são várias, as Astrologias, e diferentes entre si: cada qual retratou a existência
terrestre percebida com os seus próprios símbolos, o que resultou em variados conjuntos
simbólicos e linguagens expositivas de interpretação.
Bem
depois de estar criada cada uma, em sua região e sua época, é que dinâmicas
históricas transculturais permitiram identificar e estabelecer analogias
possíveis entre elas, já que todas, cada qual a seu modo, se referiram a
semelhantes manifestações fundamentais na existência, seja em coisa, evento ou
pessoa.
Ademais,
embora se referissem a padrões análogos percebidos em qualquer lugar, já que os
padrões fenomênicos fundamentais da existência (em coisa, tipo de evento ou
pessoa) são bastante semelhantes em toda região do mundo (ressalvadas as
diferenças objetivas derivadas de condições climáticas, geográficas ou da
biosfera), os referenciais utilizados para a construção dos símbolos e ou arranjos
simbólicos foram típicos de cada Astrologia.
Como
exemplo, a Astrologia Ocidental se elaborou sobre um Zodíaco Tropical (referido
ao Ponto Vernal na Eclíptica) e a Astrologia Jyotisha se elaborou sobre um
Zodíaco Sideral (referido às Constelações), donde a diferença de posições planetárias
zodiacais entre as duas Astrologias em cada mesmo momento no tempo.
Também
se sabe que a Astrologia Ocidental adota a noção de quatro Elementos (Ar,
Terra, Fogo e Água), enquanto a Astrologia Chinesa pressupõe a existência de cinco
(Terra, Fogo, Água, Metal e Madeira), assim como que na Astrologia Ocidental os
Signos são sempre ou Positivos ou Negativos, enquanto que na Chinesa todo Signo
pode ser Positivo ou Negativo, dependendo de certas circunstâncias.
E
na Astrologia Jyotisha, Rahu e Ketu, que são os Nodos Lunares, têm status de
Planetas, de tão importantes que nela são considerados, embora sejam só o resultado
abstrato de cálculos trigonométricos zodiacais e, não, corpos celestes.
Tais
diferenças não permitem dizer que uma Astrologia é “melhor”, “mais adequada” ou
“mais eficiente” do que outra, e podemos apenas dizer que todas operam de modo característico
e distintivo, mesmo quando analisam um mesmo e específico tipo de fenômeno
(seja em coisa, evento ou pessoa).
De
todas as Modalidades astrológicas, no entanto, pode-se dizer o mesmo: se S e C
são correlacionados de modo estável e perene, seja qual for o símbolo S (ou
arranjo simbólico) que se correlaciona a cada C (padrão de manifestação na
existência, de coisa, evento ou pessoa), explica-se a lógica diagnóstica ou
prognóstica daquela específica Astrologia.
Dito
de outra maneira: havendo um conjunto simbólico, com os símbolos relacionados
de forma estável e duradoura a específicas formas de manifestação da existência
(em coisa, evento ou pessoa), pelos símbolos que conformam uma Carta astrológica
é possível diagnosticar ou prognosticar as formas de expressão desta coisa,
deste evento ou desta pessoa, seja o conjunto simbólico e o repertório de
significados de qual Astrologia for.
Com
isto eu volto ao modelo teórico da Astrologia Arquetípica.
Se
meu objetivo é aproximar a Astrologia das Ciências, e estas exigem lógica
natural na explicação – lógica que eu considero válida, pois em meu entender a
Astrologia não é matéria de fé e, sim, de razão –, era inevitável elaborar um
esquema teórico em que toda e qualquer Astrologia logicamente se encaixasse, e
com causas naturais, a despeito das variações simbólicas e ou interpretativas peculiares
entre elas todas e respeitando as características próprias de cada Astrologia.
Portanto:
a)
além de ser necessário comprovar de modo experimental e empírico as conclusões
a que as Astrologias chegam, para demonstrar a conclusão lógica deduzida a partir de fatos (“tais e tais símbolos efetivamente
indicam tais e tais características da existência manifesta em coisa, evento ou
pessoa, e presente ou futura”),
b)
e de ser preciso avaliar com rigor o modelo teórico da Astrologia Arquetípica, que apresentei, para aceitá-lo ou não como hipótese explicativa válida,
c)
pareceu-me conveniente estabelecer um modelo conceitual no formato de teorema
que explica, a qualquer um e de modo consistente, a lógica operativa natural da
Astrologia, seja qual for a Modalidade ou especialidade astrológica, que deduz
o que há (ou haverá) com base na interpretação dos símbolos (ou arranjos
simbólicos) que utiliza em seu ofício, seja na Ocidental, na Jyotisha, na
Chinesa ou em qualquer outra.
Por
isso foi elaborado o Teorema da Astrologia Arquetípica, que deste modo serve a
todas as Astrologias sem desservir a nenhuma.
Incrível o aprofundamento e a clareza como você aborda a Astrologia, desde seu primeiro livro. Literatura obrigatória para interessados no assunto.
ResponderExcluirInteressante seu conceito participo de site de astrologia e vejo dentro dos fóruns muita mistura de diferentes tipos de astrologia aquilo acaba que embananando as idéias vc fica perdido, só acho uma leitura bem complexa esta mistura toda que vc esta tentando passar, mais e valida inovadora vale a pena quebrar a kbça kkkk um abraço aquariano querido gênio.
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