Hermes era filho de Zeus e da ninfa Maia e o mais sagaz
dos deuses olímpicos.
Recém-nascido, desatou-se de ataduras que o prendiam ritualmente a um salgueiro e roubou parte de um rebanho de Apolo. Levado a julgamento frente a Zeus, claro que negou tudo, como se dá em casos assim, e terminou prometendo que não mais mentiria... mas nunca contaria toda a verdade!
Assim é o pensamento humano, avesso a deixar-se preso
seja ao que for e também avesso a expor toda a verdade, na medida em que é apreciação
e ou exposição apenas parcial do que seja de fato verdadeiro.
Por isso, o amadurecimento ensina haver verdades e
verdades sobre o mesmo aspecto da realidade, cada qual costumando ser a visão a
partir de um ponto, isto é, um ponto de vista.
Em certo sentido Hermes era um deus benéfico, interessado
em síntese de opostos por comparação de diferenças, mas era ao mesmo tempo um
deus terrível, por sua loquacidade brilhante e facilidade de argumentação, muitas
vezes apresentando a realidade travestida em ilusão conceitual, jogo de
palavras.
A seguir, menino ainda, levando Apolo a se encantar com a
lira e a flauta (de Pã) que ele, Hermes, inventara, persuadiu-o a ensinar-lhe
as artes divinatórias, que Apolo presidia, e mais tarde foi alçado a
“psicopompo”, isto é, guia de almas, sendo o único deus que entrava e saía do
território de Hades a seu bel-prazer.
Diz o romeno Mircea Eliade, historiador de religiões e
mitólogo: “os seus atributos primordiais – astúcia e inventividade, interesse
pelas atividades dos homens e psicopompia – serão continuamente reinterpretados
e terminarão por fazer de Hermes uma figura cada vez mais complexa e, ao mesmo
tempo, o Hermes civilizador, patrono da ciência e da imagem exemplar das gnoses
ocultas”.
Tudo isso a Astrologia Arquetípica associa simbolicamente
ao Planeta Mercúrio, tonalizando sua manifestação conforme a localização deste
Planeta na Carta natal astrológica: nos extremos, um Mercúrio geminiano será um
beija-flor de informações, interessado em quase nada de muita coisa, ao passo
que um Mercúrio virginiano será irritantemente preso a minúcias,
escarafunchando detalhes à busca da possível verdade aninhada nas dobras do
real manifesto.
Seja como for, Mercúrio nos fala da capacidade humana em
transformar, para memorizar e ou transmitir, a realidade objetiva em conceitos
subjetivos, a exata possibilidade humana que nos diferencia de todos os outros seres
vivos: o verbo.
Destarte, o seu estado na Carta natal (por localização em
Signo e Casa astrológica, e pelos Aspectos que faz) oferece informação sobre
como a pessoa lida com a própria capacidade intelectual e de
estabelecimento e ou manutenção de relações com base no que pensa e no que diz,
indicando também o grau de facilidade que a pessoa tem de utilizar as
capacidades mercuriais para aprofundar-se em si mesma, no trabalho de
estabelecer pontes funcionais entre a consciência e os “deuses” que vivem
dentro dela: seus diversos, e muitas vezes contrastados, conteúdos internos
inconscientes.
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